Ricardo Lacerda
O propósito do artigo é o de alinhavar
algumas ideias sobre o pensamento econômico de Marcelo Déda. Não se trata de
apresentar a plataforma de seu governo e sim de procurar levantar algumas
linhas gerais a respeito da compreensão que ele tinha sobre as questões
econômicas, mais particularmente sobre o papel do estado na economia e sobre as
relações entre investimento público, desenvolvimento econômico e inclusão social. Essas ideias foram expressas em documentos
oficiais, palestras que proferiu, em entrevistas e em orientações que passava a
sua equipe.
Marcelo Déda se propôs a realizar um
governo de mudanças. Assumiu o governo de Sergipe no início de 2007 com um
projeto marcadamente popular. Apresentava-se como um homem de esquerda, sem
subterfúgios, integrante da esquerda democrata e socialista, a esquerda
entendida como o campo da política que defende a igualdade e combate o
privilégio e que tem por compromisso ampliar os direitos das classes
subalternas, em linha com a definição de Noberto Bobbio.
Não era, todavia, estatista, entendia o
papel do setor privado na economia e estimulava a atração de empreendimentos
produtivos para Sergipe, e, principalmente, não possuía uma visão sectária da
sociedade, advogava um governo para todos os sergipanos.
Inclusão social
A primeira e principal característica
do seu pensamento econômico, que pautava todas as demais, era de que o
desenvolvimento das forças produtivas, da base material da sociedade, digamos
assim, não é um propósito em si mesmo. Na apresentação que assina no seu
programa de governo, ainda durante a campanha em 2006, enfatiza que pertence “a
uma geração que aprendeu cedo a acreditar na política como instrumento da
inclusão social”.Isso significava não apenas que os recursos públicos deveriam
ser aplicados para promover a inclusão social como também era uma posição
manifesta de recusa à captura dos recursos públicos por interesses particularistas,
empresariais ou não.
As ações de governo deveriam se alinhar
em torno aos dois eixos do plano de desenvolvimento: a inserção pela renda, que
abrangia a geração de emprego e renda oportunizada pelo crescimento econômico,
o apoio aos pequenos empreendimentos e à agricultura familiar e os programas de
transferência de renda; e a inserção pelos direitos, relacionada àampliação, melhoria
e democratização do acesso a politicas públicas.
Curiosamente, os dois eixos são
sociais, distinguindo-se do padrão dos programas de governo que, em geral,
dedica um eixo para o avanço da economia e direciona o outro eixo para a
inclusão social. Como não demorei a perceber, era essa mesma a compreensão de
Marcelo Déda. Não tinha um eixo social e outro econômico, porque o eixo
econômico (inclusão pela renda) era na verdade um eixo social.
Progresso material
Essa posição não significava, todavia,
menosprezo pelo desenvolvimento das atividades produtivas. Mesmo porque entendia
que o progresso material é uma condição necessária, ainda que não suficiente,
para promover a elevação do bem estar e de ampliar as oportunidades de
realização pessoal.
Em relação ao desenvolvimento econômico
propriamente, as principais ações de seu governo se estruturaram em torno de
alguns eixos:
¾
Viabilização de investimentos estruturantes, notadamente aqueles que
potencializem a exploração das riquezas minerais de Sergipe nas áreas de
petróleo, gás natural, fertilizantes e cimento;
¾
Atração de investimentos privados visando adensar as cadeias produtivas
existentes e diversificar a economia com a implantação de novas cadeias
produtivas, incluindo a internalização no estado de segmentos da indústria
automobilística e a produção de energia eólica;
¾
Apoio à agricultura familiar, como estratégia de geração de ocupação e
renda e de inclusão social, visando fortalecer as economias locais, notadamente
no semiárido;
¾
Interiorização e fortalecimento das vocações produtivas locais por meio
de fomento aos APLs;
¾
Fomento à cadeia produtiva do turismo, cujo potencial de geração de
emprego é inequívoco na região Nordeste;
¾
Utilização do poder de compra do setor público para estimular os pequenos
e médios empreendimentos;
¾
Fortalecimento da infraestrutura produtiva, abrangendo rodovias,
distritos industriais, aeroporto, terminal portuário e energia;
¾
Fortalecimento do sistema local de inovação, orientando as ações do
parque tecnológico e da fundação de pesquisa para uma efetiva e consequente
interação entre o conhecimento científico e o setor produtivo local,
distinguindo-se sobremaneira das gestões anteriores, e;
¾
Ampliação e disseminação no território de formação de pessoal técnico
por meio da implantação da educação profissionalizante, em linha com as
vocações produtivas.
Alguns desses eixos caminharam mais
depressa do que outros, mas, no conjunto da obra, é inegável o quanto Sergipe
avançou em diversas dessas dimensões do desenvolvimento econômico.
Marcelo Déda tinha uma percepção muito
particular sobre a importância dos investimentos em infraestrutura rodoviária
em Sergipe.O sistema viário deveria contemplar duas estratégias básicas: de um
lado, articular as produções dos municípios e povoados aos eixos rodoviários
principais a fim de fortalecer a produção do interior; de outro, integrar
Sergipe, que possuí um mercado restrito de cerca de dois milhões de habitantes,
com a economia dos estados vizinhos gerando sinergia e tornando o tamanho de
mercado mais atraente para os investidores. Poucos sabem, mas foi com base
nessas diretrizes que priorizou os investimentos em rodovias financiados por
recursos próprios ou por meio de operações de crédito: articulação territorial e
integração regional.
Emprego
Marcelo Déda ficava extremamente feliz
quando verificava que suas ações resultavam em melhorias concretas para a
população, a exemplo da expansão da pecuária do leite e do cultivo do milho no
semiárido, da rede viária interligando povoados às sedes dos municípios, mas
ficava especialmente feliz quando via o gráfico que se segue, o sucesso do seu
governo na geração e interiorização do emprego formal, com
a distribuição equilibrada dos novos
empregos entre capital e interior.
Publicado no Jornal da Cidade, em 08 de dezembro de 2013
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