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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

O pensamento econômico de Marcelo Déda


Ricardo Lacerda

O propósito do artigo é o de alinhavar algumas ideias sobre o pensamento econômico de Marcelo Déda. Não se trata de apresentar a plataforma de seu governo e sim de procurar levantar algumas linhas gerais a respeito da compreensão que ele tinha sobre as questões econômicas, mais particularmente sobre o papel do estado na economia e sobre as relações entre investimento público, desenvolvimento econômico e inclusão social.  Essas ideias foram expressas em documentos oficiais, palestras que proferiu, em entrevistas e em orientações que passava a sua equipe.

Marcelo Déda se propôs a realizar um governo de mudanças. Assumiu o governo de Sergipe no início de 2007 com um projeto marcadamente popular. Apresentava-se como um homem de esquerda, sem subterfúgios, integrante da esquerda democrata e socialista, a esquerda entendida como o campo da política que defende a igualdade e combate o privilégio e que tem por compromisso ampliar os direitos das classes subalternas, em linha com a definição de Noberto Bobbio.

Não era, todavia, estatista, entendia o papel do setor privado na economia e estimulava a atração de empreendimentos produtivos para Sergipe, e, principalmente, não possuía uma visão sectária da sociedade, advogava um governo para todos os sergipanos. 

Inclusão social

A primeira e principal característica do seu pensamento econômico, que pautava todas as demais, era de que o desenvolvimento das forças produtivas, da base material da sociedade, digamos assim, não é um propósito em si mesmo. Na apresentação que assina no seu programa de governo, ainda durante a campanha em 2006, enfatiza que pertence “a uma geração que aprendeu cedo a acreditar na política como instrumento da inclusão social”.Isso significava não apenas que os recursos públicos deveriam ser aplicados para promover a inclusão social como também era uma posição manifesta de recusa à captura dos recursos públicos por interesses particularistas, empresariais ou não.

As ações de governo deveriam se alinhar em torno aos dois eixos do plano de desenvolvimento: a inserção pela renda, que abrangia a geração de emprego e renda oportunizada pelo crescimento econômico, o apoio aos pequenos empreendimentos e à agricultura familiar e os programas de transferência de renda; e a inserção pelos direitos, relacionada àampliação, melhoria e democratização do acesso a politicas públicas.

Curiosamente, os dois eixos são sociais, distinguindo-se do padrão dos programas de governo que, em geral, dedica um eixo para o avanço da economia e direciona o outro eixo para a inclusão social. Como não demorei a perceber, era essa mesma a compreensão de Marcelo Déda. Não tinha um eixo social e outro econômico, porque o eixo econômico (inclusão pela renda) era na verdade um eixo social.

Progresso material

Essa posição não significava, todavia, menosprezo pelo desenvolvimento das atividades produtivas. Mesmo porque entendia que o progresso material é uma condição necessária, ainda que não suficiente, para promover a elevação do bem estar e de ampliar as oportunidades de realização pessoal.

Em relação ao desenvolvimento econômico propriamente, as principais ações de seu governo se estruturaram em torno de alguns eixos:
¾    Viabilização de investimentos estruturantes, notadamente aqueles que potencializem a exploração das riquezas minerais de Sergipe nas áreas de petróleo, gás natural, fertilizantes e cimento;
¾    Atração de investimentos privados visando adensar as cadeias produtivas existentes e diversificar a economia com a implantação de novas cadeias produtivas, incluindo a internalização no estado de segmentos da indústria automobilística e a produção de energia eólica;
¾    Apoio à agricultura familiar, como estratégia de geração de ocupação e renda e de inclusão social, visando fortalecer as economias locais, notadamente no semiárido;
¾    Interiorização e fortalecimento das vocações produtivas locais por meio de fomento aos APLs;
¾    Fomento à cadeia produtiva do turismo, cujo potencial de geração de emprego é inequívoco na região Nordeste;
¾    Utilização do poder de compra do setor público para estimular os pequenos e médios empreendimentos;
¾    Fortalecimento da infraestrutura produtiva, abrangendo rodovias, distritos industriais, aeroporto, terminal portuário e energia;
¾    Fortalecimento do sistema local de inovação, orientando as ações do parque tecnológico e da fundação de pesquisa para uma efetiva e consequente interação entre o conhecimento científico e o setor produtivo local, distinguindo-se sobremaneira das gestões anteriores, e;
¾    Ampliação e disseminação no território de formação de pessoal técnico por meio da implantação da educação profissionalizante, em linha com as vocações produtivas.

Alguns desses eixos caminharam mais depressa do que outros, mas, no conjunto da obra, é inegável o quanto Sergipe avançou em diversas dessas dimensões do desenvolvimento econômico.

Marcelo Déda tinha uma percepção muito particular sobre a importância dos investimentos em infraestrutura rodoviária em Sergipe.O sistema viário deveria contemplar duas estratégias básicas: de um lado, articular as produções dos municípios e povoados aos eixos rodoviários principais a fim de fortalecer a produção do interior; de outro, integrar Sergipe, que possuí um mercado restrito de cerca de dois milhões de habitantes, com a economia dos estados vizinhos gerando sinergia e tornando o tamanho de mercado mais atraente para os investidores. Poucos sabem, mas foi com base nessas diretrizes que priorizou os investimentos em rodovias financiados por recursos próprios ou por meio de operações de crédito: articulação territorial e integração regional.

Emprego

Marcelo Déda ficava extremamente feliz quando verificava que suas ações resultavam em melhorias concretas para a população, a exemplo da expansão da pecuária do leite e do cultivo do milho no semiárido, da rede viária interligando povoados às sedes dos municípios, mas ficava especialmente feliz quando via o gráfico que se segue, o sucesso do seu governo na geração e interiorização do emprego formal, com
a distribuição equilibrada dos novos empregos entre capital e interior.





Publicado no Jornal da Cidade, em 08 de dezembro de 2013

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