Ricardo Lacerda
A economia brasileira vai encerrar o
ano de 2013 com um pouco mais de um milhão de novos empregos com carteira
assinada. A taxa de desocupação nas regiões metropolitanas atingiu 4,6% em
novembro, a mais baixa na nova série histórica iniciada em 2002. Os rendimentos
reais dos trabalhadores continuam crescendo e a massa de rendimento real habitual dos ocupados cresceu 2,3%, em relação a
novembro do ano passado, ainda que o total de pessoas ocupadas, na soma dos
mercados formal e informal, tenha parado de crescer.
Alguns
indicadores macroeconômicos, todavia, sinalizam dificuldades em retomar o
crescimento econômico em um ritmo mais robusto de forma sustentável. O Banco Central
publicou na semana passada o Relatório da Inflação de dezembro de 2013.
Trata-se de um uma publicação trimestral do Comitê de Política Monetária (Copom)
criada em 1999 para acompanhar o desempenho do regime de metas de inflação. O
relatório visa explicitar para o mercado e para especialistas o cenário
internacional e nacional considerado pelo Copom nas suas decisões referentes à
condução da política monetária, mais especificamente, em suas decisões em
relação às taxas básicas de juros da economia. O relatório poder ser acessado
no link http://www.bcb.gov.br/htms/relinf/port/2013/12/ri201312P.pdf .
2013
O relatório de dezembro reviu para
baixo a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2013 do
relatório anterior, de setembro, de 2,5% para 2,3%. É importante registrar que em 2012 o
crescimento do PIB se limitou a 1% e que, portanto, a economia em 2013 deve
apresentar uma recuperação moderada e abrangente do nível de atividade, ainda que
em patamar abaixo do que se esperava quando o ano começou.
A evolução mais favorável é o do setor
agropecuário que reverterá o resultado negativo do ano anterior (-2,1%), com
projeção de 7,5% em 2013 que, caso confirmada, será o mais elevado resultado
anual da série histórica iniciada em 1996. O crescimento setor industrial para
2013 está projetado para 1,3%, frente à redução de 0,8% em 2012.
A indústria de transformação vai deixar
para trás uma queda de 2,4% em 2012 para crescer 1,4%, em 2014. Ainda assim,
deverá terminar o ano com o mesmo nível de produção de 2008, indicando o grau
de dificuldade que o setor vem enfrentando desde o início da crise financeira
internacional. Para se ter uma ideia de que como a crise internacional impactou
a nossa indústria de transformação é suficiente observar que o índice de produção
física acumulado em doze meses em setembro de 2008 é ainda ligeiramente
superior ao de outubro de 2013.
O setor de serviços deve praticamente repetir
em 2013 a taxa de crescimento do ano anterior, 2,0% e 1,9%, respectivamente,
com a particularidade de que o comércio e o setor financeiro ganharam algum
fôlego e o setor governo deverá crescer menos do que no ano anterior.
O setor externo, abrangendo as
exportações e importações de bens e serviços, teve um desempenho muito
desfavorável em 2013, de tal forma que o vazamento adicional de demanda nas
relações externas correspondeu à perda de 1% no crescimento do PIB.
Em relação à evolução dos preços, o
relatório trimestral projeta o fechamento do ano com o IPCA atingindo 5,8%,
mesmo resultado do ano anterior. O aspecto positivo é de que o IPCA acumulado
em doze meses vem caindo desde o início do segundo semestre, mas a custa principalmente
da compressão dos preços administrados pelo governo. Os preços livres, sejam de
produtos comercializáveis (que sofrem competição com os importados) quanto de
não comercializáveis, apesar de virem desacelerando, se mantêm em patamar de
muito elevado.
A deterioração do setor externo foi
acelerada. A balança comercial deverá fechar o ano com superávit de apenas US$ 2
bilhões, frente aos US$ 19 bilhões de 2012, e a conta de transações correntes
deverá saltar de um déficit de US$ 54,2 bilhões, em 2012, para um déficit
projetado de US$ 79 bilhões em 2013 (ver Quadro). É possível concluir que os
indicadores do crescimento, inflação e relações externas apontam que a retomada
na taxa do crescimento do PIB em 2013 teve impacto não desprezível na evolução
dos preços e custo exacerbado nas relações externas.
2014
Como alguns especialistas têm sublinhado,
o desempenho da economia brasileira em 2014 não está dado. As projeções do
relatório trimestral do BC são de que o PIB deverá estar crescendo 2,3% ao ano ao
final do 3º trimestre de 2014, com a indústria de transformação andando de lado
nesse período e a atividade comercial apresentando alguma aceleração do
crescimento. Os comportamentos do IPCA e dos indicadores externos manteriam o
padrão de 2013.
Os indicadores macroeconômicos mostram
que algumas tensões e desequilíbrios vêm se acumulando na economia brasileira,
refletindo a dificuldade de o país retomar taxas de crescimento mais altas de
forma sustentável, quando o cenário externo se mantem ainda muito desfavorável.
Quadro. Indicadores
macroeconômicos
|
|||
Indicadores
|
2012
|
2013*
|
2014*
|
Crescimento do PIB
|
1,0%
|
2,3%
|
2,3%**
|
IPCA
|
5,8%
|
5,8
|
5,6%
|
Balança Comercial (em US$ bilhões)
|
19,4
|
2,0
|
10,0
|
Saldo em Transações Correntes (em US$ bilhões)
|
-54,2
|
- 79
|
-78
|
Investimento Direto Estrangeiro (em US$ bilhões)
|
65,3
|
63
|
63
|
Fonte: IBGE (PIB e IPCA) e Banco
Central (relações externas).
Obs* As projeções para 2013 e 2014 são
do Relatório da Inflação de dezembro de 2013 do Banco central.
** A projeção do PIB de 2014 refere-se
ao acumulado de quatro trimestres no terceiro trimestre de 2014.
Publicado no Jornal da Cidade, em 22/11/2013
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