Ricardo Lacerda
O nível de atividade das
indústrias manufatureiras no Brasil em doze meses, no último resultado
disponível, é praticamente o mesmo do registrado em setembro de 2008, mês que
marca a derrocada financeira internacional.
O PIB acumulado em doze
meses desde então cresceu aproximadamente 15%, as atividades de serviços, cerca
de 16%, e o setor agropecuário, em torno de 14%. Em tal situação, não é de estranhar
que as regiões e estados mais industrializados tenham apresentado desempenho
inferior em relação àqueles nos quais as atividades manufatureira são menos
expressivas.
Não por outro motivo, a
crise tem castigado mais as regiões Sul e Sudeste do que regiões Norte, Nordeste
e Centro-Oeste.
Especialização
industrial
O Gráfico 1 apresenta o
índice de especialização manufatureira das regiões e unidades da federação.
Índices superiores a cem informam que naqueles estados e regiões o peso da
indústria de transformação na geração de riqueza (mais especificamente, no valor
adicionado bruto) é maior do que na média do país.
Os dados referentes a 2011
mostram que apenas seis estados (Amazonas, Santa Catarina, São Paulo, Rio Grande
do Sul, Paraná e Minas Gerais) e duas regiões (Sul e Sudeste) são relativamente
especializados na indústria transformação.
Fonte: IBGE. Contas
regionais de 2011. Obs*. O Índice de Especialização é definido pela relação
entre o peso da indústria de transformação
no Valor Adicionado Bruto (VAB) do estado ou região sobre o peso médio
da atividade no VAB brasileiro, multiplicado por cem.
No Nordeste, apenas Alagoas
se aproxima da média nacional, por conta do peso das atividades
sucroalcooleiras na riqueza estadual. É possível pensar em três agrupamentos
distintivos entre os demais estados da região: Ceará, Pernambuco e Bahia,
detentores dos maiores parques industriais em que as atividades manufatureiras
têm um peso na geração de riqueza superior à média regional; Rio Grande do
Norte e Sergipe, que se destacam mais na extração de petróleo do que na
atividade manufatureira; e Maranhão e Piauí, estados em que a produção
agropecuária ainda se destaca. O estado da Paraíba se situa em uma posição
intermediária, com a atividade manufatureira apresentando peso superior aos dos
estados petroleiros, mas inferior aos dos estados mais industrializados.
Ainda que o perfil
industrial deva ter influenciado mais o crescimento econômico do que as taxas
de expansão alcançadas pelas atividades industriais em si desde o iníco da
crise em setembro de 2008, no período mais recente o desempenho industrial foi decisivo
para o crescimento do conjunto da economia regional ou estadual.
Produção
Industrial
O Gráfico 2 registra a
evolução da produção física regional da indústria de transformação a partir dos
dados publicados pela Pesquisa Industrial Mensal (PIM), no acumulado de doze
meses, para alguns períodos selecionados.
A figura mostra que, com a forte
recuperação a partir do segundo semestre de 2009, o índice de produção física
da indústria de transformação do Brasil havia superado ligeiramente o nível
alcançado em setembro de 2008, nessa série de doze meses.
No período seguinte, a
atividade manufatureira voltou a mergulhar, de tal modo que nos doze meses
acumulados em setembro de 2012 o índice de atividade se encontrava em patamar
bem inferior ao de um ano antes. Nos dois períodos subsequentes, a produção
industrial apresentou crescimento
modesto, de tal forma que a produção física de doze meses em abril de 2014 era
inferior a de setembro de 2011, momento do pico da recuperação depois da
primeira etapa da crise.
O Gráfico 2 resume também a
evolução da produção física regional nos períodos selecionados nessa série de
doze meses acumulados. Apenas no estado de Goiás a evolução da produção
industrial tem sido consistentemente favorável, crescendo período a período. Mesmo
a produção do Paraná, depois de ter conhecido uma retomada robusta na
comparação entre setembro de 2008 e setembro de 2011, desde então se defronta
com oscilações do nível de atividade em torno de uma tendência estagnação.
Regiões
No Nordeste, o desempenho
mais consistente, ainda que modesto, tem sido o de Pernambuco e o mais
desfavorável, o do Ceará, responsável por jogar para baixo a média regional.
A derrocada da produção
industrial cearense se deveu essencialmente à crise do setor têxtil. Com a
recuperação gradual dessa atividade, aparentemente, afastaram-se os maiores
riscos de destruição do seu parque manufatureiro.
A produção industrial do Amazonas
saltou nos últimos doze meses, depois de um longo período de estagnação,
provavelmente por conta da explosão de demanda por televisores estimulada pela
realização da Copa do Mundo.
Finalmente, todos os
estados da região Sudeste apresentaram trajetórias problemáticas e nenhum deles
logrou retomar de forma consistente o crescimento da produção física da
indústria de transformação após o início da crise no final de 2008.
Fonte:
IBGE. Pesquisa Industrial Mensal.
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