Ricardo Lacerda
Publicado no Jornal da Cidade em 06/07/2014
A taxa de crescimento econômico
dos países e regiões, em uma perspectiva de longo prazo, é determinada pelo ritmo
do aumento da quantidade de recursos que são utilizados no processo de geração de
riqueza (capital, trabalho e recursos naturais) e a tecnologia empregada que
vai determinar a maior ou menor eficiência na utilização de tais recursos. Cada
ciclo de crescimento resulta de uma combinação de aumento na utilização dos
recursos e de variação na eficiência com que eles são empregados.
O crescimento ao longo do tempo da quantidade
de recursos produtivos disponíveis é chamado de processo de
acumulação, quando a sociedade acumula recursos produtivos que poderão ser
utilizados na geração de riqueza.
O grande debate sobre as causas do crescimento econômico se dá em
torno de investigar as forças que promovem o aumento da disponibilidade dos
recursos produtivos e do uso de tais recursos, que pode ser pleno ou não, e o
que provoca a melhoria na produtividade (eficiência) dos fatores de
produção.
Os ciclos
recentes
A contar da implantação do
Plano Real, em julho de 1994, a economia brasileira conheceu dois períodos relativamente
mais extensos de crescimento do produto interno a taxas mais robustas. O
primeiro, iniciado ainda em 1993 e se estendeu até 1995, foi muito favorecido
pela explosão de consumo que se seguiu à implantação do plano de estabilização.
O segundo ciclo de
crescimento, de fôlego bem mais acentuado e com taxas mais elevadas, se
estendeu do início de 2004 até meados de 2011, com duas
desacelerações expressivas, quando são consideradas as taxas de crescimento acumulado
em quatro trimestres: uma de duração mais curta, entre o final de 2005 e o
início de 2006, e outra de maior extensão e mais aguda, entre o final de 2008 e
ao longo de 2009, sob impacto da crise financeira internacional (ver Gráfico
1).
Fonte: IBGE. Contas Nacionais Trimestrais.
As forças
do crescimento
O primeiro ciclo de
crescimento, 1993-1995, foi impulsionado no primeiro momento pela expansão das
exportações, até a implantação do Plano Real, e, em seguida, pela expansão do
consumo das famílias. A desaceleração que marcou o fim do ciclo de crescimento,
a partir do último trimestre de 1995, foi causada pela rápida deterioração do
comércio exterior do país, com a perda de ritmo de expansão e depois queda das
exportações de bens e serviços e a explosão nas importações. A piora abrupta do comércio exterior
contaminou a confiança em relação a sustentabilidade do ciclo de crescimento,
impactando as demais variáveis da demanda, notadamente os gastos das famílias e
os investimentos.
Mas, na investigação das
causas de um ciclo de crescimento, não é suficiente mostrar as evoluções das
variáveis de dispêndio que fizeram a economia se expandir e depois declinar. É
necessário explicar quais foram os fatores que as moveram para cima ou para
baixo: a mudança do cenário internacional? um choque de oferta derivado de uma
estiagem, do racionamento de energia ou a mudança de patamar do preço do petróleo? ou,
no caso desse ciclo expansivo, a manutenção da paridade de câmbio em patamar
insustentável, favorecendo as importações e prejudicando as exportações.
O segundo
ciclo
O
segundo ciclo de crescimento, entre 2004 e o inicio de 2011, foi impulsionado
nas primeiras etapas por forças que se moviam desde 2002, quando o ataque
especulativo à economia brasileira
promoveu intensa desvalorização cambial, alterando os preços relativos internos
frente aos externos o que, se por um lado, fez deprimir o consumo, por outro,
alavancou nossas exportações.
O
crescimento das exportações foi seguido, a partir de 2004, pelo forte
incremento do consumo das famílias, acompanhado, com maior ou menor desfasagem
temporal, pela expansão dos gastos públicos e pelo aumento dos investimentos
(FBCF).
A
primeira desaceleração desse longo ciclo de crescimento, ao final de 2005, deveu-se
à perda do ímpeto de expansão em todas as variáveis internas: consumo das
famílias, gastos de governo e investimentos. A retomada da aceleração do crescimento ao
longo do ano de 2006 foi claramente determinada pela expansão do consumo das
famílias, com rebates extremamente intensos sobre os gastos do governo e sobre os
investimentos voltados para o atendimento do mercado interno em expansão.
A força
dessas variáveis internas compensou, com larga vantagem, os efeitos negativos
da rápida desaceleração do crescimento do saldo das exportações de bens e
serviços ao exterior. Esses movimentos podem ser acompanhados pelo exame do
Gráfico 2, que apresenta a contribuição de cada componente, medida em milhões
de reais a preços constantes de 1995, na variação absoluta do PIB em doze
meses.
Saltando
para o período mais recente, pode-se observar que o fator de maior peso na
explicação do baixo crescimento da economia brasileira desde 2011 foi a rápida deterioração
do saldo de exportação e importação de bens e serviços, que findou por
contaminar as demais variáveis.
Quais as causas que explicam os movimentos para
baixo dessas variáveis no período mais recente. Os economistas não se entendem: a piora do
cenário internacional? a manutenção da paridade de câmbio em patamar
insustentável, favorecendo as importações e prejudicando as exportações? a
escassez de poupança interna que limita o crescimento do PIB potencial? o
excesso de intervenção estatal? o esgotamento do mercado de trabalho? todas
respostas anteriores?
Fonte:
IBGE. Contas Nacionais Trimestrais. Valores encadeados a preços de 1995.
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