Ricardo Lacerda
O IBGE publicou na
semana passada o relatório Censo
Demográfico 2010- Aglomerados Subnormais- Informações Territoriais.
Trata-se de um amplo estudo sobre os 6.329 aglomerados urbanos classificados
como subnormais, conhecidos mais comumente como favelas. A publicação apresenta diagnóstico detalhado das carências
econômicas, sociais e de moradia da população residente dos aglomerados
subnormais e suas características topográficas, de vias de circulação interna, de
espaçamento das construções e de localização.
Os interessados em conhecer em maior profundidade o relatório podem
acessá-lo no link http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/aglomerados_subnormais_informacoes_territoriais/default_informacoes_territoriais.shtm. A publicação
revela, por exemplo, que a maior parte das aglomerações subnormais se localiza
predominantemente sobre ou nas margens de córregos, rios, lagoas, dunas,
manguezais ou sobre o mar.
No Brasil são 3,2 milhões de domicílios particulares nos aglomerados subnormais. Ou
seja, o total de domicílios em áreas carentes de serviços públicos ou com
padrão de urbanização inadequado no Brasil alcança essa magnitude, equivalente
a 5,5 vezes todos os 591.315 domicílios sergipanos ou tamanho similar ao total
de domicílios do estado do Paraná. Residem nessas aglomerações 11,4 milhões de brasileiros,
contingente superior à população de Portugal.
São considerados aglomerados
subnormais, segundo a nota técnica do IBGE, as aglomerações com no mínimo 51 unidades habitacionais, sejam casas ou barracos, carentes em sua
maioria de serviços públicos essenciais, ocupando ou tendo ocupado, até período
recente, terreno de propriedade alheia e dispostas de forma desordenada e/ou
densa. Algumas dessas aglomerações, como se sabe, notadamente as situadas nas
principais áreas metropolitanas do país, contam com população de dezenas de milhares
de pessoas.
A caracterização desses aglomerados urbanos como subnormal, ou favela,
considera, como explica o IBGE, aspectos como a ocupação ilegal da terra, mesmo
que tenha sido regularizada nos últimos dez anos, e a urbanização fora dos
padrões vigentes, como vias de circulação estreitas e de alinhamento irregular,
lotes desiguais e construções não regularizadas. Contam, em geral, com precários
serviços públicos considerados essenciais, como coleta de lixo, energia elétrica
e redes de água e esgoto.
O IBGE classifica os aglomerados subnormais em diferentes tipos de
ocupação como invasão, loteamento irregular ou clandestino, e áreas invadidas e
loteamentos irregulares e clandestinos regularizados em período recente.
Distribuição espacial
Por se tratar de um fenômeno essencialmente associado à formação de
grandes centros urbanos, as favelas não estão distribuídas no território
nacional de forma similar a da pobreza ou a da pobreza extrema, contingentes em
que o componente rural é muito acentuado, principalmente nas regiões mais
pobres do país.
A expansão do número e do tamanho de ocupações desordenadas e
carentes acompanha à formação de centros urbanos de maior porte, com presença
ainda mais intensa nas regiões metropolitanas. Seis em cada dez pessoas
residindo em aglomerações subnormais (59,3% ou 6,8 milhões de pessoas)
concentram-se nas Regiões Metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro, Belém,
Salvador e de Recife (ver gráfico). Quase quatro em cada cinco (77,1%) dos
domicílios dos aglomerados subnormais se situam em regiões metropolitanas com
mais de dois milhões de habitantes.
A Região
Metropolitana de São Paulo, formada por 39 municípios, conta 2,2 milhões de pessoas,
distribuídas em 596 mil domicílios, em aglomerados subnormais, números muito
próximos à população total e de domicílios totais do estado de Sergipe. É
seguida pela Região Metropolitana do Rio de Janeiro, com 520 mil domicílios.
Fonte: IBGE. Extraído da publicação Censo Demográfico 2010- Aglomerados
Subnormais- Informações Territoriais. 2013.
Estados e regiões
Em 2010, a região Sudeste respondia por 55,5% do total de setores do
IBGE situados em aglomerados subnormais em que residia praticamente a metade da
população (49,8%) do total do país morando em aglomerados subnormais. Eram 5,7
milhões de residentes no Sudeste. No Nordeste a população morando nos
aglomerados subnormais alcançava 3,05 milhões de pessoas, equivalentes a 26,7%
do total nacional, ainda um pouco abaixo do contingente populacional de 3,14
milhões que residiam nessas aglomerações na região Norte, 27,5% do total
nacional.
Em termos estaduais, o maior contingente populacional que reside em
aglomerações subnormais encontra-se no estado de São Paulo, 2,72 milhões de habitantes,
quase uma em cada cinco pessoa que reside em aglomerações subnormais no país
(23,8%), a maior parcela concentrada na região metropolitana de São Paulo, que
sozinha responde por 18,9% da população dessas aglomerações carentes de
estrutura e, frequentemente, mal servida de serviços públicos básicos como
saneamento e coleta de lixo (ver gráfico).
Sergipe
Em
Sergipe, a formação de favelas é também um fenômeno metropolitano. O censo
demográfico apontou a existência de aglomerações subnormais em 98 setores
censitários, o que não corresponde ao número de aglomerados subnormais, dado
que cada aglomeração pode abranger mais de um setor censitário.
Nessas
aglomerações, contavam-se 23.225 domicílios particulares, dos quais 17.538 no
município de Aracaju (ver dados dos municípios na tabela). São 82.208 pessoas
residindo nessas aglomerações, das quais 61.847, em Aracaju. Registre-se que
Aracaju apresenta a segunda menor proporção entre as capitais
nordestinas da população residindo em aglomerações subnormais (11,3%), superior
apenas ao município de Natal (10,1%), no Rio Grande do Norte. Nesse grupo, a
situação mais grave é a de Salvador, cuja população residente em aglomerados
subnormais alcança 881.572 pessoas, cerca de uma em cada
três pessoas (33%).
Tabela. Números
de setores censitários, domicílios e população residente em aglomerações
subnormais.
|
|||
Item
|
Setores
censitários
|
Nº de
domicílios particulares
|
População
residente
|
Total
de Sergipe
|
98
|
23.225
|
82.208
|
Aracaju
|
73
|
17.538
|
61.847
|
Barra dos Coqueiros
|
1
|
210
|
966
|
Nossa Senhora do Socorro
|
21
|
4.944
|
17.535
|
São Cristóvão
|
3
|
533
|
1.860
|
Fonte: IBGE. Censo Demográfico 2010- Aglomerados Subnormais- Informações Territoriais,
2013.
Nas
aglomerações subnormais, como consta da publicação e das tabelas disponíveis no
portal do IBGE, não apenas as condições de moradia e o ordenamento urbano são
precários. As pessoas são mais carentes e se encontram em situações muito mais
desvantajosas em termos de renda, de escolaridade, de acesso aos serviços
públicos e de emprego do que nas demais áreas dos centros urbanos que integram.
Publicado no jornal da Cidade em 10/11/2013
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