Ricardo Lacerda
O ilustre advogado e morador da Barra dos Coqueiros José Carlos
Montalvão cobra-me com frequência uma análise econômica sobre o município onde
reside e do qual é um divulgador incansável. Montalvão sente no seu dia a dia
as transformações pelas quais o município vem passando nos últimos anos, decorrentes
do intenso crescimento demográfico e da multiplicação de condomínios
residenciais na faixa costeira e que se constituem uma das principais frentes
de urbanização da Grande Aracaju. Não conhecendo como ele a realidade cotidiana
da Barra, arrisco-me a apresentar alguns dados agregados e fazer algumas
observações sobre a expansão urbana e a economia do município.
É possível, em linhas gerais, identificar os principais vetores de
crescimento do município nas próximas décadas: a) a multiplicação de
condomínios residenciais de pessoas que trabalham em Aracaju; b) a realização
de novos investimentos industriais no entorno do porto e no vizinho município
de Santo Amaro; c) os impactos das novas descobertas da Petrobrás; e,
finalmente, d) a complementação da ligação viária do litoral norte, com a
pavimentação do trecho Pirambu- Pacatuba da SE 100- Norte, mais uma etapa da
integração litorânea nordestina desde Salvador até Recife, faltando apenas uma
nova ponte sobre o rio São Francisco, entre Brejo Grande (SE) e Piaçabuçu (AL).
Muitas Barras
A Barra dos Coqueiros são muitas em uma só: abrange localidades de
ocupações mais antigas e outras de ocupações mais recentes, sendo algumas de
moradia e outras predominantemente de residências de finais de semana e
veraneio, hoje também denominadas de segunda moradia. Além dos núcleos urbanos
persistem áreas de características rurais, predominantemente sítios, nas quais
residem 16,4% da população.
No município convivem antigos núcleos urbanos ocupados por moradores,
como a sua sede, localidades ocupadas predominantemente por veranistas e frequentadores
de finais de semana, como o Jatobá, localidades mistas, digamos assim, como a
praia da Costa e a Atalaia Nova, e as novas áreas onde estão sendo implantados
condomínios residenciais de moradores e de segunda moradia, além da população
rural.
O município sedia também áreas industriais e o Porto de Sergipe, o
Terminal Integrado Inácio Barbosa (TMIB), já há alguns anos sob gestão da
subsidiária de logística da empresa Vale, a VLI.
Nos últimos dois anos, a Petrobras tem divulgado grandes descobertas de reservas
de petróleo e gás, entre as maiores do Nordeste, em águas ultraprofundas no
litoral do município, cerca de 100 km da costa. Segundo a empresa, os poços
deverão entrar em produção até 2020.
O município conta com um resort de médio porte e uma rede de bares e
restaurantes de praia. Mais recentemente foram sinalizados investimentos industriais e na
geração de energia de grande porte na zona portuária, além da presença do
parque eólico já em funcionamento. O vizinho município de Santo Amaro das Brotas
prepara-se para receber investimento de quase um bilhão de reais em uma fábrica
de cimento, o que certamente vai repercutir na demanda por moradia na Barra.
Os investimentos na cadeia de petróleo e gás, na produção de
fertilizantes e na geração de energia concorrerão para adensar a área
industrial no entorno do TMIB. Por tudo isso, o município e toda a região
afetada precisam se preparar para crescer, o que inclui planejar a expansão da
infraestrutura urbana, definir uma política de uso do seu território e
planejar a ampliação da rede de prestação de serviços públicos.
População
O IBGE estima para 2014 uma população de 28.093 pessoas residindo na
Barra dos Coqueiros (ver Gráfico). Entre 2000 e 2010, a população da Barra
cresceu notáveis 40,3%, equivalentes a uma média anual de 3,44%, somente
inferior ao crescimento de Carmópolis. A média estadual no período foi de 1,48%
ao ano. No período intercensitário anterior (1991-2000), a população da Barra
cresceu 3,9% ao ano, como parte do processo de metropolização de Aracaju que se
consolidava no período.
Fonte: IBGE, Censos Demográficos. *estimativa para 2014.
Ocupação
A diversidade espacial do território da Barra se reflete na estrutura
ocupacional da população. O contingente de pessoas ocupadas que residem no
município, não necessariamente trabalhando lá, saltou de 5.082, em 2000, para
8.469, em 2010. Nesse período houve uma ampliação considerável no número de
residentes no município que passou a contar com emprego com carteira assinada.
Eram 2.073 pessoas, em 2000, e somaram 3.801, em 2010, crescimento
extraordinário de 83%.
O número de funcionários estatutários praticamente duplicou no período,
mas ainda é reduzido, inferior a 500 empregados. Todavia, o total de pessoas com
qualquer tipo de vínculo com a administração pública, saúde e educação em 2010 passou
de 1.300, concorrendo com o comércio como a principal atividade econômica da
população ocupada. Chama atenção o crescimento do número de pessoas que
trabalham por conta própria, que respondia por quase 1/3 da população ocupada. Outras
750 pessoas se ocupavam na atividade primária, das quais cerca de 500 dedicavam-se
à pesca e aquicultura.
Tabela. Pessoas de 10 anos ou mais ocupadas na
Barra dos Coqueiros em 2000 e 2010
|
||||
Posição na ocupação
|
2000
|
2010
|
||
Pessoas ocupadas
|
%
|
Pessoas ocupadas
|
%
|
|
Total
|
5.082
|
100
|
8.469
|
100
|
Empregados
|
3.734
|
73,5
|
5.493
|
64,9
|
Empregados com carteira de trabalho assinada
|
2.073
|
40,8
|
3.801
|
44,9
|
Militares e funcionários públicos estatutários
|
250
|
4,9
|
497
|
5,9
|
Empregados - outros sem carteira de trabalho
|
1.410
|
27,7
|
1.194
|
14,1
|
Não remunerados em
ajuda a membro do domicílio
|
55
|
1,1
|
49
|
0,6
|
Trabalhadores na
produção para o próprio consumo
|
39
|
0,8
|
178
|
2,1
|
Empregadores
|
11
|
0,2
|
67
|
0,8
|
Conta própria
|
1.243
|
24,5
|
2.682
|
31,7
|
Fonte: IBGE, Censos Demográficos
Publicado no Jornal da Cidade, em 17 de maio de 2015
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