Ricardo Lacerda
Em período de baixo crescimento, acompanhado de cortes de
gasto público, dissemina-se uma atmosfera de ansiedade associada à incerteza em
relação às perspectivas da economia brasileira. A recessão duradoura que
acomete as economias avançadas findou contaminando as perspectivas de
crescimento das economias emergentes por meio de diversos canais de transmissão e é natural
que as pessoas questionem quais seriam os vetores que poderiam impulsionar à
recuperação da nossa economia.
Cenário externo
Algumas considerações são necessárias para dimensionar o
tamanho de nossas dificuldades e os horizontes de nossas perspectivas. No
cenário externo, apesar da aceleração do crescimento norte-americano, o quadro
ainda é de baixo dinamismo nas principais economias. Mesmo que as agências
multilaterais venham reiterando que o pior da crise da zona do euro teria
passado, a verdade é que não há segurança sobre tais vaticínios que já se
revelaram equivocados em anos anteriores.
Os relatórios de tais agência apontam que países e bancos europeus
teriam reduzido a vulnerabilidade relativa a dívidas problemáticas, mas não há
até o momento sinais de crescimento robusto da economia do euro. Assim como não
há, no curto prazo, muito o que se esperar em termos de reaceleração do
crescimento chinês ou de recuperação no Japão, cuja economia encontra-se
adormecida há muitos anos.
Em síntese, se nada atrapalhar as economias avançadas
deverão acelerar moderadamente nos próximos anos, lideradas pelo crescimento da
economia norte-americana e apoiadas pela adoção de política monetária expansiva
na zona do euro. Na projeção do FMI, o potencial de crescimento das economias avançadas
aponta para taxas médias anuais de crescimento de 1,6% entre 2015 e 2018.
Tal cenário externo restringe as possibilidades de que a
retomada do crescimento brasileiro possa ser impulsionada por um drive de
exportações movido pela melhoria dos termos de trocas, mas isso não significa que
o comércio externo não possa desempenhar papel importante na medida em que a
depreciação recente do real impacte a competitividade da produção
interna, tanto no mercado doméstico quanto no exterior.
Cenário interno
Não há obstáculos internos de monta que impeçam a economia
do país de seguir em frente, após o equacionamento de algumas questões básicas.
Os desajustes nas contas públicas estão sendo enfrentados e os desequilíbrios
do balanço de pagamento não guardam proporção com o que já se enfrentou no
passado. Enfim, há tempo para fazer os ajustes, desde que haja determinação
para tal.
Alguns fatores internos deverão delimitar as possibilidades
de retomada do crescimento. Entre os mais importantes, julgo que devem ser
elencados os efeitos do ajuste fiscal sobre a demanda corrente e os ganhos de
credibilidade que podem proporcionar e o desenlace da crise da Petrobras e a
continuidade da expansão dos investimentos na cadeia de petróleo e gás.
Duas outras questões também me parecem decisivas para
alavancar os investimentos e deixar para trás o impasse que imobiliza o país. A
primeira é a retomada dos leilões de concessão de infraestrutura que poderá
viabilizar a expansão de investimentos importantes, tanto em termos de geração
de emprego e renda quanto pelos efeitos que geram pela abertura de fronteiras
de crescimento e pela elevação da produtividade.
O segundo fator diz respeito ao encaminhamento
satisfatório da situação energética, em comparação a situação atual de
estrangulamento de oferta e de preços proibitivos do suprimento emergencial. A
normalização do nível dos reservatórios e a ampliação da oferta de energia a
custos mais baixos podem conferir ganhos extraordinários ao país que, somados à
queda dos preços do petróleo, equivaleriam a um deslocamento para baixo na
curva de custos de produção, além de liberar renda das famílias.
Os ciclos expansivos
A deflagração de um ciclo expansivo depende de alargar os
fatores de oferta, quando não há ociosidade dos recursos produtivos, que restringem
fisicamente o potencial de crescimento. Depende igualmente de um ou mais impulsos
pelo lado do dispêndio que arrastem e multipliquem a demanda efetiva na
economia. Frente ao nível de endividamento das famílias e da restrição fiscal é
difícil imaginar uma expansão autônoma do consumo.
Na ausência de ociosidade de recursos, ou na vigência de
restrições fiscais e no balanço de pagamento, que é o nosso caso, os
investimentos privados e públicos deverão liderar a expansão do gasto,
concorrendo simultaneamente para superar os limitantes físicos do lado da
oferta e injetar poder de compra na economia, ao tempo que estimulam a expansão
do dispêndio corrente das famílias e do governo. Tal como em um modelo
autoalimentado do tipo acelerador-multiplicador.
Para finalizar, vale a pena indagar sobre os fatores que
mantêm as economias das regiões Norte e Nordeste crescendo a ritmos próximos a
3% enquanto as demais regiões se encontram em estagnação já há alguns
trimestres. O Gráfico apresenta as trajetórias das taxas de crescimento do
Indice de Atividade do Banco Central (IBC) para o Brasil e para o Nordeste no
acumulado de doze meses e as taxas de crescimento trimestral em relação a
iguais períodos do ano anterior.
Fonte: BCB
Nos doze meses encerrados em fevereiro a economia do
Nordeste cresceu 3,6%. Na série trimestral, em relação ao mesmo trimestre do
ano anterior, percebe-se que a economia vem desacelerando desde dezembro do ano
passado. Ainda assim no trimestre encerrado em fevereiro de 2015 o IBC-R NE se situa 3,1% acima de fevereiro
de 2014. Nas duas séries, o IBC-BR apresenta resultados negativos em fevereiro
de 2015.
A resposta mais adequada, provavelmente, é a de que tais
regiões ainda se beneficiam do impulso anterior de expansão da renda interna
que alimentou a realização de investimentos em busca do atendimento do poder de
compra aumentado e que não há segurança que manterão taxas de crescimento tão
robustas por muito tempo. Ainda assim, a manutenção de tais taxas de
crescimento em um cenário interno adverso serve para ilustrar as possibilidades
de um novo ciclo expansivo, após o período de ajuste.
Publicado no Jornal da Cidade, em 26/04/2015
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