As recorrentes revisões para baixo das
projeções que elabora sobre crescimento da economia mundial instigou o Fundo
Monetário Internacional a investigar as mudanças recentes no potencial de
crescimento de longo prazo entre as economias avançadas e entre as economias
emergentes.
A figura apresentada, extraída da edição
de abril do Panorama da Economia Mundial, ilustra como os PIBs das economias
avançadas e dos mercados emergentes evoluíram a taxas bem inferiores às que
foram projetadas em 2007 e 2008, antes da deflagração da crise financeira
internacional.
Gráfico:
Evolução dos Índices de crescimento das economias avançadas
e
das economias emergentes comparados com as projeções pré-crise. (2007=100)
Fonte: Extraído de FMI, Panorama da
Economia Mundial, abril de 2015.
Produto potencial
A edição de abril de 2015 do relatório
Panorama da Economia Mundial dedica o capítulo 3 ao exame da queda do potencial
de crescimento de longo prazo nos últimos anos. O capítulo examina as mudanças
recentes que aconteceram na evolução dos fatores do lado da oferta (trabalho,
capital e tecnologia) que teriam provocado deslocamento para baixo no potencial
de crescimento, tanto entre as economias avançadas quanto entre os chamados
mercados emergentes.
Segundo o relatório, o crescimento de
longo prazo entre as economias avançadas teria espaço para acelerar
moderadamente nos próximos anos, à medida que forem amortecidos os efeitos
restritivos da crise financeira.
As economias emergentes, por sua vez,
se situariam em outro estágio e amargariam redução adicional do produto
potencial depois de terem conhecido um período relativamente longo de sua
ampliação, entre o início dos anos 2000 e a deflagração da crise financeira no
final de 2008.
O relatório aponta as razões
substantivas para que o potencial de crescimento das economias avançadas não
alcance as taxas do período pré-crise: fatores associados a questões
demográficas como o envelhecimento da população e aspectos relacionados ao
ritmo lento da recuperação do investimento.
No caso das economias emergentes, as
taxas de expansão do PIB dos últimos anos viriam se posicionando acima do seu
potencial, rebaixado após a crise de 2008, resultando em desequilíbrios fiscais
e nas contas externas que minaram a confiança das empresas e famílias sobre as
perspectivas de crescimento.
Para o relatório do FMI, três seriam
as causas da revisão para baixo do potencial de crescimento de longo prazo das
economias emergentes: o envelhecimento da população, a forte contração dos
investimentos que acompanhou a crise internacional e a desaceleração dos
incrementos de produtividade à medida que as economias emergentes reduziram a
diferença tecnológica em relação às economias avançadas. Em outras palavras, a
maior parte das economias emergentes estaria crescendo mais do que pode.
Para aqueles países que se encontrariam
em tal situação caberia seguir duas linhas de ação: ajustar o crescimento
efetivo ao potencial de crescimento, adotando políticas fiscais e monetárias
restritivas, e fazer as reformas e investir em recursos humanos a fim de ampliar
tal potencial, a receita básica das agências internacionais.
Avançadas e emergentes
O FMI projeta que as economias
avançadas devem ampliar o potencial de crescimento médio anual de 1,3% entre
2008-2014 para as taxas ainda muito modestas, de 1,6% entre 2015 e 2020,
assinalando que elas alcançaram 2,25% entre 2001 e 2007. A ampliação do
potencial de crescimento entre as economias avançadas decorreria do incremento
gradual da taxa de investimento, acelerando a ampliação do estoque de capital à
medida que a crise ficasse para trás. Taxa média anual de 1,6%,
definitivamente, não é uma perspectiva extraordinária.
Entre os países emergentes, o
crescimento do produto potencial ter-se-ia retraído da média anual de 6,5%,
entre 2008 e 2014, para 5,2%, entre 2015 e 2020.
Como dito acima, a estimativa da
expansão do produto potencial, que funcionaria como um teto para o crescimento
equilibrado, se baseia na velocidade do crescimento da força de trabalho, do
estoque de capital e dos ganhos de produtividade proporcionados pela instalação
de equipamentos mais modernos, por contar com mão-de-obra mais qualificada ou
até mesmo por mudanças do ambiente econômico tornando-o mais favorável à
expansão dos negócios e à inovação. Ao fim e ao cabo significa apenas que a
economia somente pode crescer de forma equilibrada de acordo com a quantidade e
a eficiência dos fatores de produção com que dispõe, uma simples igualdade contábil.
Quando as condições internas ou
externas alterarem as possibilidades do crescimento do uso ou da disponibilidade
dos fatores ou a eficiência ou rentabilidade deles novos cálculos deverão ser
feitos.
Há limitações cruciais nas estimativas
do produto potencial que fazem com que sejam desautorizadas seguidamente:
mudanças institucionais, tecnológicas, regulatórias, comerciais, financeiras ou
macroeconômicas inesperadas ou mal dimensionadas na economia mundial fazem
picadinho das melhores projeções, como ocorreu após a deflagração da crise
financeira internacional; em relação aos países emergentes, persiste uma
limitação adicional; subestima-se o enorme potencial de crescimento que tem a
incorporação de grandes contingentes de força de trabalho subaproveitada, assim
como o da inclusão de tais pessoas no mercado de consumo.
Publicado no Jornal da Cidade, em 19/04/2015
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