Ricardo Lacerda
O Fundo Monetário Internacional publicou na
semana passada relatório revendo o crescimento potencial das economias
avançadas e das economias emergentes, mostrando, no caso das primeiras, que o
declínio do potencial de crescimento remete ao início dos anos 2000, ainda que
tenha se acentuado com a crise financeira mundial, enquanto entre as economias
emergentes a queda do potencial do crescimento se deu depois da crise.
O relatório reconhece que os PIBs
apresentaram desempenhos nos anos pós-crise muito abaixo do que esperava em
2008 e que as expectativas de médio prazo têm sido revisadas para baixo desde
2011 , tanto para as economias avançadas quanto para os
mercados emergentes.
Não se sabe se o desvio recorrente deve ser
atribuído a deficiências metodológicas ou ao desejo da instituição de procurar estimular
o espírito animal dos empresários e passar o sentimento de que o pior da crise
já passou, à maneira de um célebre ex-ministro da fazenda do Brasil.
Talvez o mais correto seja afirmar que a
economia mundial se encontra em uma embrulhada difícil de desbaratar e as
expectativas de uma retomada robusta de crescimento, depois de sete anos de
anemia econômica, vão sendo postergadas ano após ano. O relatório pode ser
encarado como o reconhecimento de tais dificuldades.
Avançadas e emergentes
Na atualização de janeiro do relatório Panorama
da Economia Mundial, o FMI projetou leve aceleração do crescimento do PIB
mundial, dos 3,3% obtidos nos últimos três anos, para 3,5%, em 2015, e 3,7%, em
2016. No relatório de outubro passado, as projeções para 2015 e 2016 eram mais
altas, 3,8% e 4,0%, respectivamente. Não vai ser surpresa se nas próximas
atualizações as projeções voltarem a ser revistas para taxas próximas às
alcançadas no último triênio, ou quem sabe a instituição até subestimou as
forças da recuperação desta vez.
O Panorama da Economia Mundial de janeiro informa
que as revisões para baixo das projeções de crescimento para 2015 e 2016 se
devem à piora, em relação ao relatório anterior, dos desempenhos esperados para
a China, Rússia e para os países exportadores de petróleo. Entre as grandes
economias, apenas a norte-americana teve a projeção revista para cima, o que
equivale dizer que as expectativas de recuperação das economias da zona do euro
e do Japão continuam a causar frustrações.
Para 2015, a publicação de janeiro projeta
que as economias avançadas deverão manter a trajetória de suave aceleração passando
de 1,8% para 2,4%, lideradas pela retomada da economia norte-americana (projeção
de 3,6%), enquanto as economias emergentes registrariam mais um ano de
desaceleração, de 4,4% para 4,3%.
Determinantes
Entre outubro e janeiro, informa o relatório,
a economia mundial foi impactada por quatro movimentos significativos para a
reformulação das perspectivas de curto e médio prazos: a queda muito acentuada
nas cotações dos petróleo, de cerca de 55% desde setembro de 2014, e seus efeitos
sobre os investimentos no setor, ainda que seja razoável prever uma recuperação
parcial nos preços nos próximos meses; uma certa aceleração do crescimento da
economia mundial no terceiro trimestre de 2014, mesmo que os desempenhos tenham
sido muito divergentes entre as principais economias, acima do esperado nos EUA
e abaixo no Japão e zona do euro; valorização do dólar frente às principais
moedas, que se apresentou ainda mais acentuada em relação às moedas dos países
emergentes exportadores de commodities; e, por último, a súbita elevação das
taxas de juros e dos riscos nos títulos nos países emergentes.
Foi com tal cenário externo com se defrontou
o Brasil nos últimos meses de rápida deterioração do quadro econômico e
político do país. Uma sequência de desequilíbrios macroeconômicos foram se
acumulando internamente enquanto as tentativas de manter mercado interno em
expansão entregavam resultados cada vez menos consistentes.
Trajetórias
O Gráfico apresentado resume o desempenho do
PIB mundial e de algumas das principais economias depois que eclodiu a crise
financeira internacional no final de 2008 até o ano de 2014. São apresentadas
médias trienais de crescimento a fim de captar o movimento tendencial,
amortecendo as oscilações nervosas de cada ano.
Na média do triênio 2005-2007, o PIB mundial
cresceu 5,4%. Em 2011, a média trienal havia caído para 3,2% e três anos
depois, com as renovadas frustrações nas expectativas de retomada, a média
trienal se limita a 3,3%.
A rápida desaceleração do crescimento do
gigante chinês é inequívoca, como se pode perceber, da mesma forma que os
atoleiros em que se meteram as economias japonesa e da zona do euro. A economia
norte-americana apresenta uma retomada consistente, mas ainda modesta, depois
de ter despencado nas primeiras etapas da crise.
O Gráfico também traz as trajetórias de
algumas das maiores economias emergentes (Brasil, México e Rússia) com
desempenhos não tão exuberantes quanto a China. O Brasil resiste relativamente
bem aos impactos crise internacional até 2011-2012 e depois disso entra em um
processo de forte desaceleração acompanhada pela deterioração dos indicadores
macroeconômicos. Os desempenhos do México e da Rússia também não são dignos de
júbilo.
Fonte: FMI. Database
Publicado no Jornal da Cidade, em 12/04/2015
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