Ricardo Lacerda
Um dos aspectos que mais impressiona nas dificuldades econômicas
que o Brasil enfrenta é o ritmo intenso com que a balança comercial se
deteriorou de 2012 em diante. A que
atribuir a deterioração tão acelerada da conta comercial: à piora do cenário
externo que derrubou os preços de nossas principais commodities e afetou as
importações de nossos principais destinos de produtos manufaturados ou à
manutenção até pouco tempo do real em patamar muito apreciado, ou uma
combinação dos dois fatores.
Depois de alcançar US$ 29,8 bilhões em 2011, o saldo entre as
exportações e importações caiu para US 19,4 bilhões em 2012 e a partir daí iniciou
uma trajetória de declínio acentuado que levou ao saldo de apenas US$ 2,3
bilhões em 2013. De novembro de 2014 em diante, em novo período de
deterioração, o saldo comercial no acumulado de doze meses inverteu e passou a
mostrar resultado negativo, fechando 2014 com déficit de US$ 4 bilhões (ver
Gráfico 1).
Há expectativa de que a forte depreciação do real, que foi
acelerada no 1º trimestre de 2015, possa ter impactos benéficos, concorrendo,
após certa defasagem de tempo, para elevar as exportações e comprimir as
importações, abrindo um novo período de resultados positivos e crescentes. O 1º
trimestre de 2015, todavia, ainda não captou esses efeitos, pelos menos não do
lado das exportações.
Fonte: BCB
Exportações
A deterioração da balança comercial brasileira desde o final de
2011 se deveu principalmente ao desempenho ruim das exportações e não propriamente
a uma explosão das importações. Em 2012, quando o saldo comercial recuou US$
10,4 bilhões, as importações também apresentaram retração, de US$ 3,1 bilhões,
mas a queda no valor das exportações foi muito mais acentuada, de US$ 13,5
bilhões (ver Gráfico 2).
O incremento das importações teve peso importante na piora do
saldo comercial de 2013, quando explicou
quase a totalidade de sua queda para o minguado superávit de US$ 2,3 bilhões.
Em 2014, a recessão e a depreciação do real começaram a impactar
no valor das importações, que se retraíram em US$ 10,6 bilhões, mas as
exportações tiveram um desempenho ainda pior, recuaram US$ 16,9 bilhões.
O ano de 2015 não começou bem para o comércio exterior
brasileiro. No primeiro trimestre, o saldo comercial acumulou déficit de US$
5,6 bilhões, um pouco inferior ao alcançado no 1º trimestre de 2014, de US$ 6,1
bilhões, mas isso não se deveu à melhoria de nossas exportações e sim porque as
importações apresentaram recuo ainda mais expressivo, quedas de,
respectivamente, US$ 12,9 bilhões e 13,7 bilhões.
Fonte: BCB
Cenário externo versus câmbio
Há uma questão importante relativa a que fatores atribuir a
deterioração recente do saldo comercial brasileiro, especificamente o
desempenho ruim das exportações. Em três anos (2012 a 2014), as exportações
brasileiras recuaram US$ 30,9 bilhões, enquanto as importações tiveram um
pequeno incremento, de US$ 2,9 bilhões.
A quase totalidade do recuo das exportações no período parece
estar associada à piora do cenário externo que afetou muito intensamente o
desempenho comercial de países muito dependentes de exportações de commodities
agrícolas e minerais, como o Brasil e a Rússia e mais recentemente atingiu os
nossos principais destinos de produtos manufaturados. A apreciação do real potencializou
de forma significativa a deterioração desse quadro já adverso, na medida em o
país perdeu mercado para outros concorrentes.
O exame dos dados das exportações brasileiras por fator agregado
tende a confirmar essa hipótese. Dos
referidos US$ 30,9 bilhões de queda nas exportações nos últimos três anos,
cerca de US$ 13 bilhões foram de produtos básicos, equivalentes a um recuo de
10,5%, mesmo com o volume exportado tendo aumentado 7,4%. Cerca de US$ 7
bilhões foram perdas nas exportações de semimanufaturados e outros US$ 12
bilhões nas exportações de produtos manufaturados. O curioso é que 70% das
perdas nas exportações dos produtos básicos no período se concentraram no ano
de 2012 enquanto nas exportações manufaturados o ano de 2013 mais do compensou
o recuo de 2012 e o desastre se concentrou integralmente em 2014, com queda de
US$ 12,7 bilhões.
Publicado no Jornal da Cidade, em 05/04/2015
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