Ricardo Lacerda
O IBGE apresentou na última sexta-feira o Produto Interno Bruto
(PIB) do Brasil de 2014, já na nova metodologia que toma 2010 como ano de
referência para definir os pesos setoriais. Com as mudanças realizadas, foram
revistas as taxas de crescimento do PIB e de seus componentes para 2012 e 2013,
com o que o crescimento do PIB alcançou 1,8% em 2012, frente a 1% na
metodologia anterior, e 2,7%, em 2013, frente a 2,5% registrados anteriormente.
A soma de todos bens e serviços produzidos no país alcançou R$
5,52 trilhões em 2014, crescimento ínfimo de 0,1% em relação ao ano anterior.
Da riqueza produzida a preços básicos, sem considerar os tributos indiretos, o
setor de serviços respondeu por 71% do total, frente aos 23,4% do setor
industrial e 5,6% do setor agropecuário.
Estagnação industrial
Chama a atenção o fato de que, desde que a crise financeira se
instalou na economia mundial em 2008, a indústria de transformação perdeu mais
de 5 pontos de participação no Valor Adicionado Bruto do país, passando de
16,6%, naquele ano, para os 10,9%, em 2014. Passados seis anos, entre o final
de 2008 e o de 2014, o volume da produção da indústria de transformação tornou-se
1,3% menor, enquanto o setor de serviços cresceu 17,8%.
A maior parte da queda de participação da indústria de
transformação se deu entre 2011 e 2014 (ver Gráfico 1), depois que a crise
internacional voltou a se agravar. Neste período, a atividade da indústria de
transformação recuou 2,7%, enquanto o setor de serviços cresceu 5,7%. Em 2014,
o conjunto do setor industrial recuou 1,2% e a indústria de transformação
registrou a impressionante retração de 3,8%.
Fonte: IBGE. CNT.
Em tais circunstâncias, a afirmação, que se tornou lugar comum, de
que o ciclo de crescimento puxado pelo consumo se esgotou tem como contraface a
percepção menos difundida de que a continuidade do crescimento do PIB com a
estagnação da indústria de transformação também chegou ao seu limite.
Para não deixar margem a dúvida do que se está tratando,
observe-se na linha pontilhada do mesmo gráfico que a indústria de
transformação apresentou trajetória de crescimento robusta entre 2004 e 2008 e
somente depois da crise internacional passou a andar de lado.
Daí em diante, a sobrevida do crescimento brasileira se deveu
essencialmente à expansão da atividade do setor de serviços, secundada pela construção
civil (que contribuiu com uma parcela importante no crescimento do período). Ambas
as atividades são produtoras de bens não comercializáveis e puderam manter taxas
de crescimento significativas mesmo com o cenário externo muito adverso e o
câmbio depreciado.
Componentes da
demanda
Em comparação ao ano de 2013, todos os componentes da demanda
perderam ímpeto em 2014: o crescimento do consumo das famílias desacelerou de
2,9% para 0,9%; o gasto corrente da administração pública cresceu 1,3%, frente
aos 2,2% do ano anterior; o investimento em capital fixo despencou 4,4%, e as
exportações e importações de bens e serviços recuaram, respectivamente, em 1,1%
e 1,0% (ver Gráfico 2)
Duas observações se fazem necessárias: a primeira é que o
consumo das famílias e o da administração pública, os únicos componentes que
apresentaram crescimento em 2014, estão sendo nesse momento mais diretamente
restringidos pelas medidas de ajustes; a segunda observação é que as taxas de
crescimento desses componentes não apenas desaceleraram ao longo do ano como se
mostraram insuficientes para promover a continuidade do crescimento econômico,
mesmo a uma taxa modesta.
Perspectivas
Em conjunto, o consumo das famílias (62,5%) e do governo (20,2%)
responderam por 82,7% do PIB de 2014, frente aos 20,1% dos investimentos (em
capital fixo e em estoques) e -2,8% da participação do saldo entre exportações
e importações de bens e serviços.
Não há possibilidade de retomada do crescimento sem a expansão
do consumo. No próximo ciclo expansivo, todavia, o incremento do consumo em
bases robustas somente acontecerá no segundo estágio, após a recuperação da
confiança entre o empresariado e as famílias e quando a depreciação do real
começar a alterar os termos da competitividade da indústria de transformação,
com o auxílio muito valioso de uma melhoria substancial do cenário
internacional.
Fonte: IBGE. CNT.
Publicado no Jornal da Cidade em 29/03/2015
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