Ricardo Lacerda
A crise tem sido extremamente penosa para a
região Nordeste. O impacto mais forte da crise econômica sobre o mercado de
trabalho da região desdobra-se em várias implicações sociais e econômicas;
entre as últimas cabe destacar a reversão de ganhos de participação que a região
acumulou no mercado de consumo nacional durante o ciclo de crescimento e de
inclusão social, entre 2004 e 2014.
Considerando-se apenas as rendas de trabalho,
sem contabilizar, portanto, as rendas de importantes transferências como as
previdenciárias e as de assistência social, o Nordeste respondeu por mais de
70% das perdas nacionais da massa de rendimentos entre 2015 e 2017. Mesmo
quando nesse último ano a massa de rendimentos voltou a crescer no Brasil, o
aumento na região Nordeste foi mais lento do que em todas as demais regiões.
Nunca é demais lembrar que os mecanismos de
auto reforço entre a variação na participação do tamanho de mercado e o ritmo
comparativo de crescimento econômico das regiões operam nos dois sentidos,
favorecendo a atração de investimentos para aquelas regiões em que o poder de
compra cresce mais rápido, e com isso voltando a ampliar a participação no
tamanho de mercado, e, inversamente, acentuando a retração absoluta ou relativa
do tamanho de mercado naquelas regiões em que o poder de compra encolhe mais ou
cresce mais lentamente; aparentemente, é isso que vem acontecendo nos últimos
três anos nas regiões mais pobres do país.
A crise relativamente mais acentuada na
construção civil regional, a paralisia dos investimentos em infraestrutura
produtiva e social e os desinvestimentos das empresas estatais na região, a
exemplo do que vem acontecendo no setor de petróleo e gás, leia-se Petrobras,
são importantes fatores de declínio relativo e absoluto da região Nordeste nos
últimos três anos.
Retardando a retomada
Em linhas gerais, em termos da evolução de
massa de rendimentos do trabalho quatro são as características distintivas da
região Nordeste: apresentou crescimento mais acelerado no período anterior à
crise, pelo menos na média entre 2012 e 2014; demorou mais a inverter a
trajetória de positiva para negativa do que a maioria das demais regiões; mas,
quando a massa de rendimentos começou a cair a partir do final de 2015, o ritmo
de queda foi muito mais acentuado no Nordeste do que em todas as demais regiões;
e, finalmente, o Nordeste foi uma das regiões em que mais se retardou a
retomada do incremento de renda e, quando o fez, se deu em um ritmo inferior ao
das demais regiões. O Gráfico 1, que apresenta o índice de evolução da massa de
rendimento na média móvel de quatro trimestres, retrata essas características
distintivas.
Fonte: IBGE. PNADCT
Participações regionais
O Gráfico 2 apresenta as participações na
massa de rendimentos do trabalho na média de quatro trimestres entre 2012 e
2017, com base nos dados da Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar Contínua
(PNADCT), do IBGE. Acompanhando o que se verificou a evolução relativa das
ocupações nas regiões, a participação da massa de rendimento do Nordeste se
ampliou entro 2012 e 2014, quando a economia, o emprego e os rendimentos
cresciam no país. Na comparação entre as médias de quatro trimestres, a
participação da região Nordeste na massa de rendimento real de todos os
trabalhos habitualmente recebidos aumentou de 16,1%, em 2012, para 16,5%, em
2014. Ainda que a variação de participação possa parecer ter sido limitada no
período, cabe assinalar que a região absorveu 23,2% do incremento real da massa
de rendimento do país, participação substancialmente superior ao peso da região
nessa variável.
Mais ampla, porém, foi a perda de
participação da região nos anos de 2015 a 2017, quando retroagiu até atingir os
15,8%. A penúltima coluna do Gráfico 2 mostra que 73,9% da perda de massa de
rendimentos nesse período se concentrou no Nordeste, enquanto as regiões
Sudeste e Sul não apresentaram redução de massa de rendimentos de trabalho,
nessa série que compara a média de quatro trimestres.
A última coluna mostra, por sua vez, que os
incrementos da massa de rendimentos do trabalho que se verificaram em 2017 foram
menos do que proporcional na região Nordeste e na região Sudeste, e mais
acentuados nas regiões Norte, Centro-Oeste e Sul.
Ainda que o período de recuperação seja muito
curto para confirmar uma nova tendência, a evolução recente do mercado de
trabalho, muito especificamente os dados de ocupação e de massa de rendimento,
sinaliza perspectiva problemática da retomada do crescimento no Brasil do ponto
de vista regional.
Fonte: IBGE. PNADCT
Após os governos do PT, o Nordeste voltou a ser tratado como o 'patinho feio' entre as regiões do país.
ResponderExcluirE a situação continua se agravando
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