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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

domingo, 8 de agosto de 2010

O Nordeste no Atual Ciclo Industrial

Um aspecto significativo em relação aos efeitos da crise econômica recente sobre o Nordeste decorre do grau de integração da economia da região ao restante da economia nacional, que faz com que a evolução econômica regional esteja fortemente associada à dinâmica de crescimento da economia brasileira.
No ciclo atual, tanto na fase da crise quanto na de recuperação, a economia do Nordeste acompanhou de perto a trajetória do conjunto da economia nacional. Enquanto as taxas de crescimento dos países ditos em desenvolvimento, como Brasil, Índia e China, até certo ponto, “descolaram” da forte queda de 2009 e da débil recuperação das economias avançadas em 2010, nas relações internas, as taxas de crescimento das regiões mantiveram certo grau de alinhamento.

Soldagem

Para o economista Leonardo Guimarães Neto, nos últimos 40 anos operou-se uma “soldagem” da economia nordestina ao centro econômico brasileiro que ajustou a dinâmica da região aos movimentos cíclicos da economia nacional. O caráter solidário da trajetória da economia nordestina ao conjunto do país é particularmente forte nas atividades industriais. Vale a pena passar uma vista no gráfico abaixo, que retrata as taxas de crescimento da produção da indústria de transformação do Brasil (linha contínua simples), de São Paulo (linha tracejada) e do Nordeste (linha continua dupla), desde janeiro de 2002. Não é difícil perceber que seguem uma trajetória muito semelhante.

Uma característica persistente em quase todo o período é a de que os ciclos de expansão e retração da economia nordestina são mais atenuados (ou menos agudos) do que os da média da economia brasileira ou os do Estado de São Paulo. Assim, a produção industrial do Nordeste, representada no gráfico pela linha contínua dupla, apresentou taxas acima da média brasileira (e da taxa de São Paulo) quando o Brasil estava desacelerando o seu crescimento, e abaixo dessas taxas quando o Brasil voltava a expandir em termos anuais a taxa de crescimento da produção industrial. A exceção são alguns meses do ano de 2003, durante um mini-ciclo expansivo, quando a taxa de crescimento da produção industrial do Nordeste situou-se acima da média brasileira.

O ciclo atual

A produção da indústria de transformação brasileira iniciou nos primeiros meses de 2004, uma etapa relativamente longa de expansão que, apesar de alguma oscilação, perdurou até o estouro da crise financeira internacional em setembro de 2008. Com o advento da crise internacional, a produção industrial brasileira declinou rapidamente e, apesar de diferentes respostas de cada um dos setores, o conjunto da indústria de transformação somente iniciou uma retomada consistente a partir do segundo semestre de 2009, observando-se a comparação com igual mês do ano anterior.
A produção indústria nordestina entrou em crise no mesmo momento que o conjunto da economia brasileira, impactada que foi pela reversão abrupta do cenário mundial e pela instalação da crise de confiança no país. O movimento declinante da produção industrial nordestina, todavia, foi bem mais atenuado do que o da média da economia brasileira e o de São Paulo. No ponto mais baixo da curva de crescimento, a produção industrial anualizada do Nordeste havia se retraído 7,56% (setembro de 2009), enquanto o conjunto da produção industrial brasileira, na mesma série, chegou a recuar 10,49%, e a de São Paulo, 11,1% (ambas em outubro de 2009).
Na etapa atual, de rápida aceleração do crescimento da produção industrial, as taxas do Brasil e de São Paulo voltam a se apresentar mais elevadas do que a do Nordeste, confirmando a prevalecência desse tipo de relação.
A crise atingiu todos os segmentos da indústria, ainda que os impactos sobre os setores de bens intermediários e de consumo duráveis como produtos químicos e materiais e equipamentos elétricos tenham sido mais acentuados. Em dezembro de 2008, a produção física da indústria de transformação nordestina havia caído 10,17% na comparação com dezembro de 2007. Os setores químicos, de materiais e equipamentos elétricos e Têxtil sofreram as maiores retração nesse momento. Em junho de 2009, o recuo da indústria de transformação, na comparação com o mesmo mês de 2008, se limitava a 2,9%, em fevereiro de 2010, a produção industrial do Nordeste já se situava 11,61% do resultado de fevereiro de 2009, mostrando a força de sua recuperação.
O grau de integração econômica do Nordeste ao centro dinâmico economia brasileira tem oscilado ao longo do tempo e se deve muito ao predomínio do mercado interno na economia nacional. Na crise atual, o Nordeste conheceu um mergulho menos profundo e de menor duração. Na retomada, a distribuição dos projetos estruturantes no território nacional e a continuidade das políticas sociais compensatórias é que vão definir se a região poderá reduzir de forma consistente o hiato de desenvolvimento em relação aos pólos mais ricos e crescer acima da média do país.

Ricardo Lacerda
Professor do Departamento de Economia da UFS e Assessor Econômico do Governo de Sergipe.
Publicado no Jornal da Cidade em 09 de maio 2010

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