Ricardo Lacerda
A estagnação da economia brasileira fez com que a
criação de emprego formal em 2014 tenha se apresentado bem menos intensa do que
em anos anteriores. Desde que se iniciou o ciclo de inclusão social em 2004 o
Brasil manteve a notável marca de mais de um milhão de empregos formais gerados
por ano, mesmo depois que a crise financeira mundial se instalou no final de
2008.
2014 foi o ano em que a crise econômica ameaçou a
continuidade da melhoria do mercado de trabalho, no sentido de que a criação de
emprego com carteira assinada deverá ter crescido, depois de muitos
anos, à taxa similar a do incremento da PEA- População
Economicamente Ativa, interrompendo o longo ciclo de formalização do mercado de
trabalho. Depois dos dois milhões de empregos formais criados em 2011, foram
gerados 1,37 milhão em 2012, e 1,1 milhão, em 2013, frente a uma geração de
empregos bem menos intensa em 2014, de 397 mil, equivalentes a taxa de
crescimento de 0,98% (ver Gráfico 1).
Fonte: MTE- CAGED
Setorial
A geração de quase 400 mil postos de trabalho em um
ano de crescimento próximo a zero do PIB não chega a ser um resultado
desastroso, comparado ao que aconteceu nas economias centrais depois
de 2008, mas, além de ter sido um recuo muito grande em relação ao que vinha
ocorrendo nos anos anteriores, ele foi especialmente duro em alguns setores de
atividade.
Foram os desempenhos negativos na indústria de
transformação e na construção civil que mais contribuíram para a
menor geração do emprego em 2014 (ver Gráfico 2). A indústria de transformação,
mesmo enfrentando dificuldades há alguns anos, ainda gerou 122 mil empregos em
2013. Em 2014 a situação se agravou muito. Foram destruídos simplesmente 163
mil postos de trabalho na atividade industrial.
Ainda que grande parte dos empregos perdidos no
setor industrial tenha se concentrado no subsetor metal-mecânico, reflexo do
recuo da produção automobilística, todos os subsetores da indústria, com a
exceção de alimentos e bebidas, desempregaram em 2014.
Além do complexo automobilístico, as atividades em
alguns ramos de bens não duráveis intensivos em trabalho, como calçado e
têxteis-confecções dispensaram grandes contingentes de trabalhadores.
Na construção civil, foram fechados 106 mil postos
de trabalho. O comércio e o setor de serviços, que vêm sustentando o
crescimento econômico desde que a atividade industrial estagnou em 2008,
abriram um grande número de vagas em 2014, mas em quantidades bem inferiores às
do ano anterior, sintoma de que a perda de dinamicidade vem se disseminando nos
vários segmentos econômicos. Em comparação ao ano de 2013, a geração de emprego
de 2014 foi menor em todos os setores de atividade (a exceção foi o setor
agrícola, mas ele já havia reduzido o emprego em 2013, apenas cortou menos
postos de trabalho em 2014).
Fonte: MTE- CAGED
Regional
Em termos regionais, a desaceleração na geração de
emprego em 2014 foi mais acentuada nas regiões em que a atividade industrial
pesa mais no emprego total, o Sudeste e o Norte, mas todas as regiões criaram
menos emprego do que no ano anterior. Alguns estados das regiões Norte e
Nordeste ainda mantiveram taxas de elevação do emprego formal acima de 3%. No
caso do Nordeste, além de Sergipe (3,01%), Piauí, Ceará e Paraíba. Em Sergipe
foram criados quase nove mil (8.913) novos empregos formais em 2014. Os setores
que mais criaram emprego na economia sergipana em 2014 foram o comércio, o
turismo, a atividade sucroalcooleira, devido a retomada parcial depois da
estiagem, o setor de saúde e a atividade de call center, que
continuou se expandindo.
Não foram poucos os economistas ortodoxos que
atribuíram a maior parte dos nossos desequilíbrios macroeconômicos à baixa taxa
de desocupação dos últimos anos. Em uma perspectiva invertida em relação aos objetivos
da política econômica, infelizmente muito disseminada, a intensa geração de
emprego foi vista como um mal. Argumentavam tais especialistas que a ocupação
próxima ao pleno emprego pressionava os salários para cima, colocando-os em
patamar superior ao da produtividade do trabalho, o que seria a raiz dos todos
os nossos males, desde a relutância da inflação em retornar ao centro da meta
até a perda de competitividade do nosso setor industrial.
Nesta perspectiva, o real valorizado e o cenário de
crise prolongada da economia internacional deveriam ser tomados como meros
dados da realidade em relação aos quais nada haveria a fazer; o ajuste deveria
vir pelo mercado de trabalho, em forma de destruição de postos de trabalho a
fim de alinhar os reajustes salariais ao incremento da produtividade. O ano de
2015 está apenas começando. Para quem não compartilha de crenças tão
maquiavélicas, a evolução do mercado de trabalho será o termômetro mais
sensível para acompanhar o desenrolar da economia ao longo dos próximos meses.
Publicado no Jornal da Cidade, em 25/01/2015
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