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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

O emprego formal em 2014

Ricardo Lacerda

A estagnação da economia brasileira fez com que a criação de emprego formal em 2014 tenha se apresentado bem menos intensa do que em anos anteriores. Desde que se iniciou o ciclo de inclusão social em 2004 o Brasil manteve a notável marca de mais de um milhão de empregos formais gerados por ano, mesmo depois que a crise financeira mundial se instalou no final de 2008.

2014 foi o ano em que a crise econômica ameaçou a continuidade da melhoria do mercado de trabalho, no sentido de que a criação de emprego com carteira assinada deverá ter crescido, depois de muitos anos,  à taxa similar a do incremento da PEA- População Economicamente Ativa, interrompendo o longo ciclo de formalização do mercado de trabalho. Depois dos dois milhões de empregos formais criados em 2011, foram gerados 1,37 milhão em 2012, e 1,1 milhão, em 2013, frente a uma geração de empregos bem menos intensa em 2014, de 397 mil, equivalentes a taxa de crescimento de 0,98% (ver Gráfico 1).


Fonte: MTE- CAGED

Setorial

A geração de quase 400 mil postos de trabalho em um ano de crescimento próximo a zero do PIB não chega a ser um resultado desastroso, comparado ao que aconteceu  nas economias centrais depois de 2008, mas, além de ter sido um recuo muito grande em relação ao que vinha ocorrendo nos anos anteriores, ele foi especialmente duro em alguns setores de atividade.

Foram os desempenhos negativos na indústria de transformação e na construção civil que mais contribuíram para  a menor geração do emprego em 2014 (ver Gráfico 2). A indústria de transformação, mesmo enfrentando dificuldades há alguns anos, ainda gerou 122 mil empregos em 2013. Em 2014 a situação se agravou muito. Foram destruídos simplesmente 163 mil postos de trabalho na atividade industrial.

Ainda que grande parte dos empregos perdidos no setor industrial tenha se concentrado no subsetor metal-mecânico, reflexo do recuo da produção automobilística, todos os subsetores da indústria, com a exceção de alimentos e bebidas, desempregaram em 2014.
Além do complexo automobilístico, as atividades em alguns ramos de bens não duráveis intensivos em trabalho, como calçado e têxteis-confecções dispensaram grandes contingentes de trabalhadores.

Na construção civil, foram fechados 106 mil postos de trabalho. O comércio e o setor de serviços, que vêm sustentando o crescimento econômico desde que a atividade industrial estagnou em 2008, abriram um grande número de vagas em 2014, mas em quantidades bem inferiores às do ano anterior, sintoma de que a perda de dinamicidade vem se disseminando nos vários segmentos econômicos. Em comparação ao ano de 2013, a geração de emprego de 2014 foi menor em todos os setores de atividade (a exceção foi o setor agrícola, mas ele já havia reduzido o emprego em 2013, apenas cortou menos postos de trabalho em 2014).


Fonte: MTE- CAGED

Regional

Em termos regionais, a desaceleração na geração de emprego em 2014 foi mais acentuada nas regiões em que a atividade industrial pesa mais no emprego total, o Sudeste e o Norte, mas todas as regiões criaram menos emprego do que no ano anterior. Alguns estados das regiões Norte e Nordeste ainda mantiveram taxas de elevação do emprego formal acima de 3%. No caso do Nordeste, além de Sergipe (3,01%), Piauí, Ceará e Paraíba. Em Sergipe foram criados quase nove mil (8.913) novos empregos formais em 2014. Os setores que mais criaram emprego na economia sergipana em 2014 foram o comércio, o turismo, a atividade sucroalcooleira, devido a retomada parcial depois da estiagem, o setor de saúde e a  atividade de call center, que continuou se expandindo.

Não foram poucos os economistas ortodoxos que atribuíram a maior parte dos nossos desequilíbrios macroeconômicos à baixa taxa de desocupação dos últimos anos. Em uma perspectiva invertida em relação aos objetivos da política econômica, infelizmente muito disseminada, a intensa geração de emprego foi vista como um mal. Argumentavam tais especialistas que a ocupação próxima ao pleno emprego pressionava os salários para cima, colocando-os em patamar superior ao da produtividade do trabalho, o que seria a raiz dos todos os nossos males, desde a relutância da inflação em retornar ao centro da meta até a perda de competitividade do nosso setor industrial.

Nesta perspectiva, o real valorizado e o cenário de crise prolongada da economia internacional deveriam ser tomados como meros dados da realidade em relação aos quais nada haveria a fazer; o ajuste deveria vir pelo mercado de trabalho, em forma de destruição de postos de trabalho a fim de alinhar os reajustes salariais ao incremento da produtividade. O ano de 2015 está apenas começando. Para quem não compartilha de crenças tão maquiavélicas, a evolução do mercado de trabalho será o termômetro mais sensível para acompanhar o desenrolar da economia ao longo dos próximos meses.

Publicado no Jornal da Cidade, em 25/01/2015

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