Ricardo Lacerda
A nova equipe econômica estreou apresentando algumas das medidas de
ajuste fiscal que deverão ser adotadas ao longo de 2015 a fim de alcançar o
prometido superávit primário de 1,2% do PIB, enquanto as autoridades monetárias
já iniciaram o ciclo de elevação de juros que deverá ser mantido nas próximas
reuniões do Comitê de Política Monetária.
Em 2014, a economia brasileira deve ter basicamente repetido o nível de
atividade do ano anterior, com o crescimento do PIB um pouco abaixo ou acima de
zero. O Nordeste, por sua vez, deve ter encerrado o ano com taxa de crescimento
ainda relativamente elevada, em torno de 3%. Mesmo demonstrando uma resistência
à crise maior do que a média do país, a economia da região Nordeste não deixou
de ser contaminada pela intensa desaceleração do crescimento da economia
brasileira nos últimos meses, o que deverá se refletir nos resultados a serem
obtidos ao longo de 2015.
Descolamento
A economia do Nordeste apresentou taxas de crescimento muito próximas à
média do país ao longo do ciclo expansivo, entre o início de 2004 e setembro de
2008. As curvas de crescimento do Índice de Atividade do Banco Central (IBC)
para o país e para a região se mantiveram quase sobrepostas nesse período (ver
Gráfico 1).
Foi depois da deflagração da crise financeira internacional, em setembro
de 2008, que a evolução do IBC do Nordeste descolou em relação ao crescimento
das regiões mais industrializadas. A economia da região sofreu inflexão bem
mais suave do que a média do país, em 2009. Entre o início de 2010 e meados de
2011, o Nordeste e a média do país voltaram a apresentar taxas de crescimento
próximas, até que o impacto causado pelo segundo momento da crise
internacional, em meados daquele ano, se mostrou muito mais intenso nas regiões
mais industrializadas do que no Nordeste. Em meados de 2013, depois que a crise
de confiança interna encavalou com a nova deterioração do quadro externo, a
economia do Nordeste foi menos impactada do que a média do país.
Parte do desempenho mais favorável da economia do Nordeste nesse período
de instabilidade pode ser atribuída a questões mais estruturais, relacionadas ao
amplo processo de inclusão social e de formalização do mercado de trabalho e à
implantação de empreendimentos de grande porte na região e seus efeitos de
realimentação em termos de atração de investimento e expansão do consumo. Outra
parte da evolução mais favorável da região, todavia, pode estar relacionada a
questões de natureza mais conjuntural, como a resposta da política econômica de
manter o consumo aquecido com o propósito de contrarrestar a tendência
recessiva, o que teve efeitos maiores nas regiões mais pobres.
Fonte: Banco Central do Brasil.
Se os componentes do primeiro tipo conferem uma vantagem relativa ao
Nordeste durante o período duro que o Brasil deve enfrentar nos próximos
semestres, porquanto o crescimento recente do emprego e da renda pode ainda
atrair novos investimentos, a reversão dos estímulos ao consumo, já anunciada
pela equipe econômica, deverá ter implicações especialmente negativas para a
região.
Desaceleração e crise
O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC) já refletiu nos
últimos meses o impacto da crise sobre a economia da região (ver Gráfico 2).
Ainda que o IBC-R referente ao Nordeste tenha crescido 3,5% nos doze meses
encerrados em outubro, frente a 0,2% do IBC do país, a economia da região vem
apresentando queda desde julho de 2014 quando se observa o IBC-R trimestral em
relação ao trimestre imediatamente anterior, na série livre de efeitos
sazonais.
Ou seja, o trimestre maio-julho apresentou nível de atividade inferior
ao de fevereiro-abril, já descontadas as influências sazonais, e a série
registrou resultados negativos em agosto e setembro e depois estacionou no
trimestre encerrado em outubro. Com tal desempenho ruim na ponta, o índice de
atividade da região Nordeste em doze meses acumulados vai começar a desacelerar
acentuadamente entre o final de 2014 e os primeiros meses de 2015.
O propósito da política econômica de que o consumo das famílias passe a
crescer em ritmo ligeiramente inferior ao PIB poderá ter impacto recessivo mais
intenso sobre as economias das regiões mais pobres, amortecendo a tendência
recente de redução das disparidades regionais de renda e de produto, em um
processo inverso ao que ocorreu quando o aumento mais intenso do consumo
favoreceu as regiões mais pobres.
Fonte:
Banco Central do Brasil. Obs: * Índice em doze meses em relação a igual período
anterior;
**
Índice trimestral na série livre de efeitos sazonais, em relação ao trimestre
imediatamente anterior.
Publicado no Jornal da Cidade, em 11 de janeiro de 2015
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