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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

O ajuste e o Nordeste

Ricardo Lacerda

A nova equipe econômica estreou apresentando algumas das medidas de ajuste fiscal que deverão ser adotadas ao longo de 2015 a fim de alcançar o prometido superávit primário de 1,2% do PIB, enquanto as autoridades monetárias já iniciaram o ciclo de elevação de juros que deverá ser mantido nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária.

Em 2014, a economia brasileira deve ter basicamente repetido o nível de atividade do ano anterior, com o crescimento do PIB um pouco abaixo ou acima de zero. O Nordeste, por sua vez, deve ter encerrado o ano com taxa de crescimento ainda relativamente elevada, em torno de 3%. Mesmo demonstrando uma resistência à crise maior do que a média do país, a economia da região Nordeste não deixou de ser contaminada pela intensa desaceleração do crescimento da economia brasileira nos últimos meses, o que deverá se refletir nos resultados a serem obtidos ao longo de 2015.

Descolamento

A economia do Nordeste apresentou taxas de crescimento muito próximas à média do país ao longo do ciclo expansivo, entre o início de 2004 e setembro de 2008. As curvas de crescimento do Índice de Atividade do Banco Central (IBC) para o país e para a região se mantiveram quase sobrepostas nesse período (ver Gráfico 1).

Foi depois da deflagração da crise financeira internacional, em setembro de 2008, que a evolução do IBC do Nordeste descolou em relação ao crescimento das regiões mais industrializadas. A economia da região sofreu inflexão bem mais suave do que a média do país, em 2009. Entre o início de 2010 e meados de 2011, o Nordeste e a média do país voltaram a apresentar taxas de crescimento próximas, até que o impacto causado pelo segundo momento da crise internacional, em meados daquele ano, se mostrou muito mais intenso nas regiões mais industrializadas do que no Nordeste. Em meados de 2013, depois que a crise de confiança interna encavalou com a nova deterioração do quadro externo, a economia do Nordeste foi menos impactada do que a média do país.

Parte do desempenho mais favorável da economia do Nordeste nesse período de instabilidade pode ser atribuída a questões mais estruturais, relacionadas ao amplo processo de inclusão social e de formalização do mercado de trabalho e à implantação de empreendimentos de grande porte na região e seus efeitos de realimentação em termos de atração de investimento e expansão do consumo. Outra parte da evolução mais favorável da região, todavia, pode estar relacionada a questões de natureza mais conjuntural, como a resposta da política econômica de manter o consumo aquecido com o propósito de contrarrestar a tendência recessiva, o que teve efeitos maiores nas regiões mais pobres.


Fonte: Banco Central do Brasil.

Se os componentes do primeiro tipo conferem uma vantagem relativa ao Nordeste durante o período duro que o Brasil deve enfrentar nos próximos semestres, porquanto o crescimento recente do emprego e da renda pode ainda atrair novos investimentos, a reversão dos estímulos ao consumo, já anunciada pela equipe econômica, deverá ter implicações especialmente negativas para a região.

Desaceleração e crise
O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC) já refletiu nos últimos meses o impacto da crise sobre a economia da região (ver Gráfico 2). Ainda que o IBC-R referente ao Nordeste tenha crescido 3,5% nos doze meses encerrados em outubro, frente a 0,2% do IBC do país, a economia da região vem apresentando queda desde julho de 2014 quando se observa o IBC-R trimestral em relação ao trimestre imediatamente anterior, na série livre de efeitos sazonais.

Ou seja, o trimestre maio-julho apresentou nível de atividade inferior ao de fevereiro-abril, já descontadas as influências sazonais, e a série registrou resultados negativos em agosto e setembro e depois estacionou no trimestre encerrado em outubro. Com tal desempenho ruim na ponta, o índice de atividade da região Nordeste em doze meses acumulados vai começar a desacelerar acentuadamente entre o final de 2014 e os primeiros meses de 2015.

O propósito da política econômica de que o consumo das famílias passe a crescer em ritmo ligeiramente inferior ao PIB poderá ter impacto recessivo mais intenso sobre as economias das regiões mais pobres, amortecendo a tendência recente de redução das disparidades regionais de renda e de produto, em um processo inverso ao que ocorreu quando o aumento mais intenso do consumo favoreceu as regiões mais pobres.


 Fonte: Banco Central do Brasil. Obs: * Índice em doze meses em relação a igual período anterior;
 ** Índice trimestral na série livre de efeitos sazonais, em relação ao trimestre imediatamente anterior.



Publicado no Jornal da Cidade, em 11 de janeiro de 2015 

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