Ricardo Lacerda
O Banco Mundial publicou na semana passada a edição de janeiro
do seu relatório semestral Global
Economic Prospects em que apresenta os principais condicionantes do crescimento
da economia mundial para 2015 e 2016.
O relatório inicia reconhecendo que o crescimento da economia
mundial decepcionou em 2014, devendo ficar abaixo do que foi projetado pela
instituição nos relatórios semestrais anteriores, em janeiro e junho passados. Segundo estimativa da instituição, a economia
mundial deve ter crescido 2,6%, em 2014; os países de alta renda apresentaram
recuperação modesta, elevando a taxa de expansão do PIB de 1,4%, em 2013, para
1,8%, em 2014, mas, enquanto os EUA e o Reino Unido surpreenderam positivamente
(cresceram, respectivamente, 2,4% e 2,6%), a Zona do Euro teve incremento de apenas
0,8% e o Japão, 0,2%.
Para 2015, a projeção é de modesta aceleração do crescimento
tanto para os países de alta renda quanto para os países em desenvolvimento,
indicando que vamos ter que aguardar por mais algum tempo uma retomada mais
robusta da economia global: o crescimento do PIB mundial se elevaria para 3,0%,
com os países de alta renda devendo registrar o ainda modesto resultado de 2,2%
e os países em desenvolvimento passando de 4,4%, em 2014, para 4,8%, em 2015.
Frustração
A frustração do crescimento da economia em 2014 é um ponto
sensível, posto que tem sido recorrente: por três anos, sucessivamente, a
economia mundial tem se recusado a seguir as perspectivas relativamente
otimistas das instituições multilaterais que, em essência, apontavam que o pior
da crise teria ficado para trás. A duração do baixo crescimento por um período
de tempo tão longo põe em xeque a efetividade das políticas fiscais e
monetárias recomendadas por essas instituições com o propósito de acionar o
crescimento.
A frustração do crescimento de 2014 se explicaria principalmente
pelo desempenho abaixo do esperado no Japão e na Zona do Euro, enquanto a
revisão para baixo da projeção para 2015 foi influenciada em maior parte pelas
dificuldades enfrentadas pela Rússia e Brasil, pela Zona do Euro e Japão e,
complementarmente, pela maioria das demais economias, que na virada para 2015
estão apresentando desempenho inferior ao que se esperava a um ano atrás.
O Gráfico apresentado ilustra as revisões das projeções de
crescimento calculadas pelas edições recentes do relatório. Informa, entre
outras coisas, que em janeiro de 2014 havia uma expectativa de aceleração do
crescimento mundial em relação ao que se previa em junho do ano anterior, mas
as dificuldades acima do esperado pelo Japão, Zona do Euro e por algumas das
principais economias emergentes fizeram com que as projeções fossem rebaixadas
nos relatórios de junho de 2014 e na edição atual, de janeiro de 2015.
Fonte: Extraído de Worldbank. Global economic prospects. Janeiro
de 2015.
Vetores
Outro aspecto destacado na edição de janeiro é que as tendências
de crescimento entre as principais economias do mundo se apresentam mais
divergentes do que anteriormente, com a economia norte-americana ganhando
impulso nos ultimos trimestres, enquanto na zona do Euro e no Japão frustou-se
a expectativa de retomada do crescimento e que essas diferenças devem estar
associadas as opções de políticas monetárias adotadas, mais expansiva nos EUA
do que na Europa e no Japão.
O relatório enfatiza algumas ideias chave. As perspectivas da
economia mundial nos próximos anos estariam associadas a alguns vetores
fundamentais: a evolução dos preços das commodities, particularmente do que vai
acontecer com as cotações do petróleo; o comportamento das políticas monetárias
nas economias centrais, que se tornou crescentemente divergente; e a débil
expansão do comércio mundial.
Petróleo
O relatório assume uma posição otimista em relação aos efeitos
da queda acentuada dos preços do petróleo desde meados de 2014 sobre o
crescimento global. Assinala que um
longo período de cotações baixas acionaria um fator de crescimento que ajudaria
a compensar as dificuldades hoje enfrentadas pelas economias dos países em
desenvolvimento importadores de petróleo, ainda que tenha o potencial de provocar
desequilíbrios nas regiões que concentram as exportações do produto.
Em relação à política fiscal, o relatório é
cauteloso. Reconhece que a recuperação nos países de alta renda é ainda muito
frágil e envolve riscos de reversão. Recomenda a continuidade da política monetária
acomodatícia. Para aqueles países que contam com espaço fiscal para elevar os
gastos, indica que devem utilizar esse instrumento, enquanto aqueles, como boa
parte dos países emergentes, inclusive o Brasil, que já o teriam utilizado
deveriam realizar reformas estruturais, a fim de conquistar espaço fiscal, o
que em geral significa adotar ajustes que envolvem sacrifício da população.
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