Ricardo Lacerda
O desenvolvimento do Nordeste, pelo menos desde a década de
setenta, esteve fortemente associado aos ciclos de crescimento da economia
brasileira e à implementação de politicas de desenvolvimento voltadas para a
região que tiveram maior ou menor efetividade ao longo do tempo.
No ciclo mais recente, a principal fonte do crescimento da
economia da região foi o impulso dado pela elevação da renda das famílias, pela
formalização do emprego e pelos investimentos em infraestrutura produtiva e
social realizados pelo governo federal, alguns deles em parceria com os
governos estaduais.
Ciclo inclusivo
O ciclo de crescimento econômico brasileiro iniciado em 2004 teve
um primeiro impulso dado pelo rápido incremento de nossas exportações, seguido pela
expansão do poder de compra das famílias decorrente do aumento do emprego e da
elevação da renda nos estratos mais pobres da população proporcionada pelos
ganhos reais do salário mínimo e pelos programas de transferências de renda. O
acesso ao crédito foi mais uma fonte de incremento do poder de compra das
famílias.
Diferentemente do que se costuma divulgar, a expansão das
exportações e do consumo foi acompanhada pela aceleração dos investimentos. A
Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) teve um forte impulso já a partir do
segundo trimestre de 2004 e, depois de uma desaceleração em 2005, registrou taxas
muito robustas de expansão até ser atropelada pela crise financeira internacional
ao final de 2008.
O investimento em capital fixo cresceu 9,1% em 2004, desacelerou
para 3,6%, em 2005, e, entre 2006 e 2008, se expandiu à taxa média de 12,4% ao
ano. Nos anos pós debacle financeiro internacional, mesmo considerando o forte
crescimento em 2010, a média de expansão do investimento em capital fixo caiu
para 3,7% ao ano. Nos últimos três anos (2011-2013), quando as economias dos
países centrais voltaram a mergulhar na crise e arrastaram consigo as economias
emergentes, o crescimento dos investimentos se reduziu para o patamar anual de
1,9% ao ano.
Depois que o ritmo de crescimento do PIB se acelerou em 2004 e se
manteve elevado até 2008, a economia da região Nordeste cresceu mais do que a
média do Brasil em quatro dos cinco anos. Na média do período, a economia do
Nordeste se expandiu a taxas superiores às apresentadas pelas regiões mais
ricas, um pouco acima do Sudeste e bem acima do Sul, enquanto as regiões Norte
e Centro-Oeste cresceram um pouco mais do que o Nordeste. Em outras variáveis,
como rendimento e emprego, a expansão das do Nordeste se diferenciou ainda mais
do desempenho das regiões mais ricas e industrializadas, em função das
políticas de transferência de renda e pela valorização do salário mínimo que
impulsionaram o seu mercado interno.
O Nordeste nos ciclos
Na maioria dos ciclos de crescimento anteriores, desde quando as
contas regionais começaram a ser apuradas no inicio dos anos setenta, o
Nordeste apresentou taxas de crescimento superiores à média do país. Assim, durante
o período do milagre econômico, a economia do Nordeste foi duplamente
impulsionada, recebendo os efeitos positivos do crescimento da renda nacional sobre
ela e pelos impactos da política de incentivos regionais para a região (Ver
Quadro).
Entre 1974-1980, um período de desaceleração em relação ao
milagre, mas em que a economia continuou apresentando taxas de expansão ainda
muito robustas, o Nordeste cresceu também em ritmo intenso, ainda que ligeiramente inferior
à média nacional, porém isso foi mais do que compensado por ter enfrentado a
crise de 1981-83 com crescimento, enquanto a média do Brasil se afogava na
recessão.
A contar dos anos setenta, somente em um ciclo expansivo a taxa de
crescimento da economia do Nordeste ficou bem abaixo da média nacional. Foi
durante o período de gestão liberal a economia. Entre 1993 e 1997, quando a
economia brasileira cresceu 4,2% ao ano, o PIB do Nordeste cresceu 3,4%.
Os ciclos de crescimento da economia nacional são o principal
determinante do crescimento da região Nordeste. Todavia, a redução das
disparidades de desenvolvimento entre as regiões, a melhoria mais efetiva da
renda das famílias e a inclusão social da população mais necessitada requerem
uma política orientada para o desenvolvimento das regiões mais pobres.
Quadro. Taxas de Crescimento do PIB e do Nordeste nos
ciclos econômicos
|
|||
Anos/períodos
|
Política
regional
|
Brasil
|
Nordeste
|
Auge do Milagre Econômico 1971-1973
|
Incentivos
Fiscais SUDENE
|
12,4
|
13,9
|
II PND. 1974-1980
|
SUDENE
e polos de investimentos do II PND
|
7,0
|
6,6
|
Crise da Dívida Externa 1981-1983
|
-2,2
|
1,8
| |
Drive exportador e Plano Cruzado. 1984-1986
|
SUDENE
e polos de investimentos
|
6,9
|
8,2
|
Descontrole da Inflação e Planos
de Estabilização 1987-1992
|
0,3
|
1,2
|
|
Itamar e 1ª fase Plano Real 1993-1997
|
Abandono
das politicas regionais. Multiplicação de programas de desenvolvimento de
base local
|
4,2
|
3,4
|
Crise do Plano Real e II FHC e
transição 1998-03
|
1,9
|
2,2
|
|
Inclusão Social no Governo Lula. 2004-10
|
Programas
sociais e retomada de investimentos em infraestrutura e de polos de
crescimento, combinados com programas de desenvolvimento de base local
|
4,4
|
4,9
|
Fonte: O cálculo do PIB do Nordeste até 1985 foi elaborado pela
SUDENE. Nos anos seguintes, e os dados para o Brasil são do IBGE.
Publicado no Jornal da Cidade em 28/09/2014
Nenhum comentário:
Postar um comentário