Ricardo Lacerda
A
expansão da ocupação formal no Brasil foi um dos aspectos mais virtuosos do ciclo de crescimento econômico iniciado em
2004. São caracterizados como vínculos formais, de acordo com a Organização
Internacional do Trabalho (OIT), os trabalhadores com carteira de trabalho, os
servidores civis e militares estatutários e os empregadores e os trabalhadores
por conta própria desde que possuam vínculos com a previdência oficial.
Mantêm vínculos não formais de trabalho os empregados sem
carteira assinada, os empregadores e os trabalhadores por conta própria sem
cobertura previdenciária, os familiares e agregados não remunerados e aqueles que
desenvolvem produção para consumo próprio, como são os casos de algumas
categorias de agricultores, pescadores e pessoas dedicadas à criação animal.
O grau de formalização do trabalho no Brasil varia muito
entre os setores de atividade, se limitando a 22% na agricultura, 34% nos
serviços domésticos, 37% em certos segmentos do setor serviços, 44% na
construção civil e 46% nas atividades culturais e esportivas e de recreação. No
outro extremo, alcançam mais de 80% de formalização os setores de eletricidade
e gás, as atividades financeiras, a administração pública, o setor de saúde e
serviços sociais e as indústrias extrativas (dados de 2010).
Na
comparação entre os anos censitários de 2000 e 2010, a população ocupada que
possuía vínculos formais de trabalho saltou de 31,3 milhões para 49,8 milhões,
aumentando em mais de 50%, na verdade 54%, o que corresponde a uma taxa média
anual de 4,4%. Ao longo da década, a participação dos trabalhadores com vínculo
formal superou a dos trabalhadores em situação informal. Em 2010 eram, respectivamente,
57,7% e 42,3%, quando no ano de 2000 o grau de formalização era de 49,2% (ver
Gráfico 1).
Fonte: IBGE. Censos Demográficos de 2000 e 2010.
Nordeste
Nas
regiões que possuem estrutura produtiva menos desenvolvida o percentual de
formalização não apenas é bem inferior à média do país, como mais da metade da
força de trabalho ainda se encontra ocupada em atividades informais.
Em
2010, cerca de 40% da população ocupada na região Nordeste possuía vínculos
formais, frente a cerca de 60% de trabalhadores em atividades informais. Por si
só, tal dado mostra a disparidade da situação do mercado de trabalho e do
desenvolvimento econômico entre as regiões brasileiras. Enquanto nas regiões
Sudeste e Sul quase sete em cada dez trabalhadores encontram-se ocupados em atividades
formais, com produtividade de trabalho relativamente melhor e amparados pela
legislação, nas regiões Norte e Nordeste apenas quatro em cada dez se situam na
mesma condição.
Todavia,
uma série de fatores favoráveis fez que o emprego formal crescesse a taxas bem mais
acentuadas nas regiões mais pobres do que nas regiões mais ricas, como a expansão
do mercado de consumo promovida pelos aumentos reais do salário mínimo, pelos
programas de transferência de renda e pela disseminação do crédito às famílias
e a ampliação dos programas de construção habitacional.
O
crescimento do mercado de consumo deu partida, por sua vez, a efeitos de
retrolimentação na geração de emprego, na medida em que novas empresas foram
criadas localmente e outras foram atraídas para região a fim de atender a
demanda em rápido crescimento.
Entre
2000 e 2010, o número de trabalhadores com vínculos formais na região Nordeste
saltou de 5,3 milhões para 8,5 milhões, incremento de 59,2%, equivalentes a um
ritmo anual de crescimento de 4,8%, frente aos já citados 4,4% da média
nacional.
Sergipe
Entre
2000 e 2010, a ocupação formal em Sergipe, entre empregados com carteira de
trabalho, servidores estatutários e empregadores e trabalhadores por conta própria
com vínculo previdenciário pulou de 231 mil para 373 mil, crescimento de 61,3%
ou 4,9% ao ano, bem mais intenso do que a média do país e um pouco superior à
média do Nordeste.
Nesse
período, a taxa de formalização da força de trabalho na economia sergipana
saltou de 37,6% para 44,8%, a segunda maior da região Nordeste, atrás do Rio
Grande do Norte, mas à frente dos demais, inclusive dos três estados mais
industrializados da região: Bahia, Pernambuco e Ceará (ver Gráfico 2).
Além
dos aspectos já citados, outro fator teve grande importância na expansão do
emprego formal no Nordeste no período. Com a pressão de demanda sobre mercado
de trabalho nas áreas mais industrializadas do país, empresas intensivas em
trabalho, tanto na atividade industrial como no setor de serviços, migraram em
busca da ampla disponibilidade de mão-de-obra que persiste na região, movimento
que deve perdurar e até se intensificar em um novo ciclo expansivo da economia
brasileira.
Fonte:
IBGE. Censo Demográfico de 2010.
Publicado no Jornal da Cidade, 07/09/2014
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