Ricardo
Lacerda
A consolidação do polo citrícola nos anos oitenta provocou importantes
mudanças na economia agrícola sergipana. Até o inicio daquela década, era amplo
o predomínio da pecuária e das culturas temporárias, sejam aquelas cultivadas
no semiárido, como mandioca, milho e feijão, seja a cana-de-açúcar na zona
úmida.
Em 1980, as culturas temporárias, com os destaques da cana-de-açúcar e
da mandioca, responderam por 73% do valor da produção vegetal, contra 27% das
culturas permanentes, entre as quais já despontavam a laranja e o coco-da-baia
(ver Tabela 1).
Ao longo da década, as culturas permanentes ampliaram fortemente a
participação no valor da produção. O Censo Agropecuário de 1985 já apontava que
as culturas permanentes representavam 38,8% produção agrícola e a Pesquisa
Agrícola Municipal (PAM) de 1990 mostrou que a participação delas havia
alcançado quase a metade (47,9%) do valor da produção vegetal.
Citricultura
A expansão da citricultura nos anos oitenta foi notável. O cultivo da
laranja passou de 9,6% do valor da produção vegetal de Sergipe, em 1980, para
28,4%, em 1990, enquanto a cana-de-açúcar recuava sua participação de 30,8%
para 23,6%.
Tabela 1: Sergipe. Participação das
principais culturas no valor da produção agrícola de 1990. (%)
|
|||
Descriminação
|
1980
|
1985
|
1990
|
Culturas permanentes
|
27,0
|
38,8
|
47,9
|
Coco-da-baia
|
8,0
|
10,6
|
6,1
|
Laranja
|
9,6
|
18,4
|
28,4
|
Outras
permanentes
|
9,3
|
9,8
|
13,4
|
Culturas temporárias
|
73,0
|
61,2
|
52,1
|
Arroz
|
3,8
|
5,5
|
2,5
|
Cana-de-açúcar
|
30,8
|
22,8
|
23,6
|
Feijão
|
7,6
|
4,2
|
6,8
|
Mandioca
|
21,3
|
9,8
|
7,2
|
Milho
|
0,8
|
7,3
|
3,2
|
Outras
temporárias
|
8,7
|
11,6
|
8,8
|
Soma das culturas permanentes e temporárias
|
100
|
100
|
100
|
Fonte: IBGE. Censos agropecuários de 1980 e 1985 e Pesquisa Agrícola
Municipal de 1990.
Seguindo a trajetória percorrida nas duas décadas anteriores, nos anos
oitenta a citricultura continuou se disseminando na parte sul do território
sergipano. A produção de laranja saltou
de 967 milhões de frutos, em 1980, para 3,67 bilhões em 1990, crescimento de
280%, equivalentes a uma expansão anual de 14,3%.
Territórios da
laranja
A formação de um polo citrícola nas regiões Sul e Centro-Sul alterou a
geografia da economia agrícola sergipana. As três microrregiões (Boquim,
Agreste de Lagarto e Estância) que abrangem o polo citrícola detinham em 1990
quase a metade (49,3%) do valor da produção vegetal do estado, quando em 1980
respondiam por cerca de 33%.
Os principais municípios produtores em 1990 eram Boquim, Lagarto,
Salgado e Riachão dos Dantas (ver Tabela 2). A laranja já se constituía na principal
cultura agrícola da maioria dos municípios dessas microrregiões. Em alguns deles
exercia quase o monopólio das terras. Em Boquim respondia por 93,2% do valor da
produção agrícola. Em Pedrinhas, por 88,8%, em Umbaúba, 75,2%; e em Arauá,
74,8%.
Tabela 2: Sergipe. Principais
municípios produtores de laranja. 1990
|
|||
Descriminação
|
Produção
|
Participação no valor da produção
agrícola municipal (%)
|
|
Mil
Frutos
|
%
|
||
Sergipe
|
3.674.756
|
100,0%
|
28,4%
|
Boquim
|
746.052
|
20,3%
|
93,2%
|
Lagarto
|
656.809
|
17,9%
|
35,7%
|
Salgado
|
566.100
|
15,4%
|
63,7%
|
Riachão do
Dantas
|
410.522
|
11,2%
|
60,8%
|
Arauá
|
246.110
|
6,7%
|
74,8%
|
Itabaianinha
|
237.137
|
6,5%
|
67,4%
|
Pedrinhas
|
206.593
|
5,6%
|
88,8%
|
Umbaúba
|
189.449
|
5,2%
|
75,2%
|
Cristinápolis
|
114.552
|
3,1%
|
67,2%
|
Estância
|
79.600
|
2,2%
|
31,1%
|
Tomar do
Geru
|
65.345
|
1,8%
|
65,7%
|
Santa Luzia
do Itanhy
|
42.116
|
1,1%
|
28,3%
|
Itaporanga
d'Ajuda
|
37.392
|
1,0%
|
22,7%
|
Indiaroba
|
37.123
|
1,0%
|
25,0%
|
Simão Dias
|
17.582
|
0,5%
|
8,8%
|
Fonte: IBGE. Pesquisa Agrícola Municipal de 1990.
Assim como a atividade canavieira forjou aos longos dos séculos uma
civilização do açúcar nas bacias dos rios Cotinguiba e Japaratuba, a expansão
da citricultura no sul do estado a partir da década de 1960 mudou o padrão de
ocupação das terras, com a proliferação de estabelecimentos rurais dedicados
quase que exclusivamente ao cultivo de citros. Cultura, todavia, mais democrática propiciou a
formação de uma classe média de base rural que impulsionou as atividades comerciais
no sul do Estado.
Nos anos oitenta, a citricultura se expandiu e alcançou um novo patamar
de produção, consolidando na região o principal polo agrícola do estado. Nos
anos noventa, a cultura passou a crescer em ritmo menos intenso, seguindo em
busca de áreas territoriais do norte da Bahia.
Publicado no Jornal da Cidade em 21/07/2013
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