Ricardo
Lacerda
A evolução da
economia sergipana nos anos oitenta foi marcada pelos intensos desequilíbrios
que atingiram a economia brasileira, associados à crise do endividamento
externo. Desde o final da década de
setenta, tais desequilíbrios se manifestavam por meio de acentuada queda nas
taxas de crescimento enquanto a inflação se acelerava de modo desconcertante. Em
1980, a inflação rompeu o teto de 100% e entre 1981 e 1983 o PIB nacional recuou
6,3%, no pior resultado desde o inicio de sua medição no país.
Em 1982, após a
declaração da moratória do México, o mercado internacional de crédito também se
fechou para o Brasil. Com o balanço de pagamentos em aberto, a partir daí o
país teve a sua economia diretamente monitorada pelo Fundo Monetário
Internacional, inaugurando um longo período de agonia, com a intercorrência de
alguns espasmos de crescimento mais robusto.
Conhecida como a
década perdida do desenvolvimento brasileiro, a década de oitenta conhece pelo
menos três subperíodos bem delimitados: 1981-83, em que foi mais agudo o ajuste
da crise de endividamento externo; 1984-1987, de retomada do crescimento puxado
pelo driver exportador gestado pelas maxidesvalorizações da moeda nacional
realizadas na fase anterior e 1988-1990, de descontrole do processo inflacionário
e de endividamento externo explosivo (ver Gráfico).
Fonte: PIB do Brasil, IBGE. Para Sergipe, dados da SUDENE até 1985 e IBGE a partir de 1986.
Desaceleração
Apesar das
dificuldades crescentes da economia nacional, a estrutura produtiva de Sergipe
apresentou importante transformação nos anos oitenta, com a chegada de grandes
empreendimentos industriais de empresas estatais e com a maturação dos
investimentos incentivados pela SUDENE.
Enquanto entre 1971 e
1980 o PIB brasileiro mais do que duplicou, entre 1981 e 1990 a expansão se
limitou a 17%, correspondendo a taxas anuais médias de 8,6% e 1,6%,
respectivamente.
Nos dois decênios considerados,
o crescimento da economia sergipana manteve-se acima da média do país. Com base
nos dados do departamento de contas regionais da SUDENE, estima-se que o PIB sergipano cresceu
10,2% ao ano, entre 1971 e 1980, e 4,8% entre 1981 e 1990.
O desempenho tão
diferenciado de Sergipe, na verdade da média dos estados do Nordeste, em
relação ao do Brasil nos anos oitenta, decorre do impacto dos investimentos
direcionados pela política de desenvolvimento regional e, no caso de Sergipe,
particularmente em virtude da implantação dos grandes investimentos realizados
pelo sistema Petrobras na exploração e beneficiamento de suas riquezas
minerais.
A riqueza gerada pela
implantação e entrada em funcionamento dos novos empreendimentos industriais
fez com que o PIB da indústria sergipana em 1990 se apresentasse 61% maior do
que em 1980.
Subperíodos
O comportamento do
PIB sergipano foi marcadamente distinto do nacional no subperíodo 1981-1983.
Enquanto a economia brasileira mergulhava na crise, Sergipe crescia acima de 4%
ao ano, impulsionado pelos investimentos industriais.
No subperíodo
1984-1987, de retomada do crescimento da economia brasileira, Sergipe apresentou
taxas de crescimento espetaculares, tanto em função da expansão das atividades
industriais quanto por conta da forte recuperação da produção agrícola em 1984,
depois da retração de um longo período de incidência da seca.
Mas no subperíodo
1988-1990, o sonho desenvolvimentista de Sergipe começava a se desmanchar. Se
nos dois subperíodos anteriores Sergipe logrou continuar crescendo a taxas
elevadas, apesar da intensa flutuação, o agravamento da crise nacional após a
frustração do Plano Cruzado e a sangria de recursos para fazer frente aos
compromissos internacionais, e seus reflexos em termos de contenção dos investimentos
das empresas estatais, não apenas interromperam o processo de transformação
estrutural da economia sergipana, como jogou para baixo as taxas anuais de
crescimento do PIB. Na média do subperíodo o crescimento foi apenas de 1,8% ao
ano.
Publicado no Jornal da Cidade em 07 de julho de 2013
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