Ricardo
Lacerda
A
Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE) apresentou diagnóstico da
situação atual e perspectivas para os próximos anos muito duros para a economia
mundial, em face ao agravamento da instabilidade da zona do euro. Na versão
preliminar do segundo relatório anual sobre as perspectivas econômicas, a
instituição inicia o documento assinalando que “após cinco anos de crise, a
economia mundial está se enfraquecendo novamente. No presente ano, não estamos
diante de um padrão diferente”.
Para
a OCDE, os sinais de recuperação sofreram abrandamento e o risco de uma nova
contração na economia mundial, o chamado duplo mergulho, não pode ser
descartado. A economia da zona do euro permanece em recessão e a economia
americana, ainda que a recuperação esteja em curso, apresenta desempenho abaixo
do esperado, com fortes implicações negativas para as economias ditas
emergentes.
Mesmo
apontando uma diversidade de causas do enfraquecimento da recuperação da
economia mundial, a instituição não titubeia sobre o vetor chave da piora do
cenário: a nova queda na confiança em relação às perspectivas da economia
mundial.
Para
a OCDE, a desaceleração no crescimento nas economias emergentes deve ser
atribuída parcialmente a fatores domésticos e parcialmente aos efeitos
induzidos pela recessão europeia sobre o comércio externo desses países e sobre
a deterioração das expectativas.
Projeções
Ao
final de 2012, economia da zona do euro deverá estar rodando a -1,3%
anualizados, a economia americana estará apresentando o crescimento pífio de
1,2% e o conjunto das economias avançadas que formam a OCDE, de 0,5%. Nos
próximos anos, as economias avançadas, além de fortemente sujeitas a
instabilidades, deverão apresentar recuperação em ritmo modesto, de tal forma
que, para o final de 2013, o crescimento trimestral anualizado está estimado em
apenas 1,2% para zona de euro e de 2,6% para a economia americana (ver Gráfico
1). Com os dados disponíveis atualmente, as projeções para 2014, melhores do
que as de 2013, não são muito alentadoras para zona de euro, ainda que sejam mais
robustas para a economia americana.
Fonte: OCDE-
Economic Outlook. Volume 2012/2
Recuperação sofrida
Frente
a condições externas tão desfavoráveis, a recuperação do nível de atividade da
economia brasileira tem sido sofrida, apresentando resultados reiteradamente
abaixo das expectativas, tanto das autoridades econômicas, quanto do mercado. O
resultado do PIB do 3º trimestre, anunciado na sexta-feira passada, novamente
frustrou mercado e governo. Quando se esperava crescimento trimestral do PIB de
1%, na série sem efeitos sazonais, o aumento se limitou a 0,6%, o que equivale
a uma revisão do crescimento trimestral anualizado de 4% para 2,4%.
Em
termos setoriais, no trimestre, o crescimento foi mais pujante na agropecuária
e no setor industrial, em parte por conta da base de comparação, muito baixa em
ambos os segmentos, em parte por conta dos fortes estímulos para a atividade
industrial.
A grande surpresa foi o crescimento zero do
setor de serviços, que jogou para baixo a taxa de expansão do PIB trimestral. O
resultado médio do setor serviços foi fortemente influenciado pelo recuo de
5,6% do setor financeiro, às voltas com o aumento da inadimplência e com a redução
nas taxas de juros.
A
expansão da atividade industrial foi especialmente bem vinda, mostrando que as
medidas de estímulos para o setor começam a dar resultados. Em termos das
variáveis da demanda, o consumo das famílias voltou a apresentar taxas de
expansão acima de 3%, enquanto a taxa de investimentos continuou declinando
(ver Gráfico 2).
Apesar
de sofrida, com números inferiores ao projetados, a recuperação da economia
brasileira se encontra em pleno curso e deverá se acelerar nos próximos
trimestres. Depois de quatro períodos de crescimento muito baixo, o PIB
brasileiro mostrou sinais claros de recuperação, o que deve marcar o início de
um ciclo expansivo mais vigoroso. A OCDE avalia que, em 2013, o crescimento da
economia brasileira deverá atingir 4%, e, em 2014, de 4,1%.
Fonte: IBGE- Contas
Trimestrais
A série de quatro trimestres de crescimento anualizado abaixo ou igual a 1% provocou fortes efeitos negativos no sistema econômico, desde o abalo na confiança das famílias e das empresas a perdas importantes nas finanças da união, estados e municípios, e começava a atingir a capacidade de geração de novos empregos.
Com a confirmação, nos próximos trimestres, da recuperação do nível de atividade, como os indicadores atuais apontam, lenta e progressivamente, deverá ser restabelecida uma situação de maior confiança e de melhoria da situação econômica geral.
Publicado no Jornal da Cidade, em 02/12/2012
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