Ricardo
Lacerda
A
crise industrial não tem poupado as regiões menos industrializadas, com a
notória exceção do Centro-Oeste. A produção industrial do Nordeste, que havia
se retraído menos do que a média do país na crise de 2009, não repetiu o
desempenho diferenciado quando a partir de meados de 2011 o agravamento do
quadro econômico europeu contaminou a atividade interna.
O
mau desempenho industrial da região nesse período se deveu principalmente ao
comportamento do setor no estado do Ceará, que puxou a curva da trajetória da
produção regional para abaixo da média nacional, mas os demais estados
pesquisados pelo IBGE, Pernambuco e Bahia, também foram atingidos.
Da queda...
A
observação do Gráfico 1, apresentado mais adiante, permite identificar um
padrão bem distinto do comportamento da produção física do Nordeste em relação
à média do Brasil, São Paulo ou Amazonas. A evolução da produção física industrial da
região foi especialmente ruim em 2011.
Depois
do boom de 2010, a produção industrial no Nordeste desacelerou muito rapidamente,
de tal forma que em junho de 2011 a atividade do setor já havia estagnado,
enquanto mantinha crescimento ainda expressivo na média do Brasil, em São Paulo
e no Amazonas. Ao encerrar-se 2011, a produção anual da indústria nordestina
despencava 4,3%, enquanto a média do país ainda apresentava um resultado
positivo de 0,35%.
A
queda tão acentuada na produção industrial regional em 2011 resultou de uma
combinação desastrosa do comportamento dos setores de bens de consumo não
duráveis, que sofriam a competição direta com os produtos importados, com a
produção têxtil despencando 24%, vestuário, 12,9% e calçados, 13,3%, e a crise da
atividade sucroalcooleira, que levou à queda de 8% no subsetor do IBGE que agrega
as atividades de refino de álcool e petróleo.
...à estabilização
Ao
longo de 2012, em parte por conta da base de comparação mais baixa, desacelerou-se
o ritmo de queda no acumulado de doze meses, até que a partir de julho de 2012
a produção industrial nordestina de doze meses se estabilizou, apresentando
mesmo crescimento residual, enquanto continuava caindo na média nacional.
Assim,
em outubro de 2012, a produção industrial do Nordeste no acumulado de doze
meses registrou crescimento de 0,42%, enquanto a média do país caiu 2,7%. Alguns estados apresentaram recuos acentuados,
como os -6% do Amazonas, -5,57% do Rio de Janeiro, -4,35% de São Paulo. Anote-se
que a produção do Ceará continuou caindo, -3,22% no período, ainda que muito
menos do que em meses anteriores, como em dezembro de 2011, quando a produção
anualizada havia recuado 11,7% (ver Gráfico 1).
Fonte: IBGE-PIM
Emprego
Apesar
da estabilização no nível da produção física da indústria regional no segundo
semestre de 2012, o comportamento do emprego no setor permanece problemático.
Nos
doze meses completados em outubro de 2012, a indústria de transformação do
Nordeste fechou 6.667 postos de trabalho formal. A queda do emprego concentrou-se em quatro
estados e em três segmentos produtivos. Em Alagoas e Pernambuco, por conta da
crise do setor sucroalcooleiro que sofre ainda os efeitos da estiagem. Na
Bahia, o corte do emprego industrial deve-se essencialmente ao fechamento de
diversas unidades da indústria de calçados no interior do estado, e no Rio
Grande do Norte, a demissão se concentrou nas atividades da cadeia
têxtil-confecção. O Ceará tem um resultado paradoxal, com recuo acentuado na
produção industrial, mas com emprego em expansão.
As
maiores taxas de crescimento do emprego na indústria de transformação, no
período, ocorreram, em termos proporcionais, em Sergipe, Paraíba e Ceará (ver
Gráfico 2).
Fonte: MTE-CAGED
O resultado positivo do
PIB industrial brasileiro no 3º trimestre de 2012 ainda está distante de significar
uma recuperação mais robusta na atividade. Dessa vez, nem mesmo o forte
incremento do mercado do consumo no Nordeste tem sido suficiente para reverter a
situação difícil da atividade industrial na região.
Publicado no Jornal da Cidade, em 09/12/2012
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