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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

A crise industrial também bate à porta do Nordeste


Ricardo Lacerda

A crise industrial não tem poupado as regiões menos industrializadas, com a notória exceção do Centro-Oeste. A produção industrial do Nordeste, que havia se retraído menos do que a média do país na crise de 2009, não repetiu o desempenho diferenciado quando a partir de meados de 2011 o agravamento do quadro econômico europeu contaminou a atividade interna.

O mau desempenho industrial da região nesse período se deveu principalmente ao comportamento do setor no estado do Ceará, que puxou a curva da trajetória da produção regional para abaixo da média nacional, mas os demais estados pesquisados pelo IBGE, Pernambuco e Bahia, também foram atingidos.

Da queda...

A observação do Gráfico 1, apresentado mais adiante, permite identificar um padrão bem distinto do comportamento da produção física do Nordeste em relação à média do Brasil, São Paulo ou Amazonas.  A evolução da produção física industrial da região foi especialmente ruim em 2011.

Depois do boom de 2010, a produção industrial no Nordeste desacelerou muito rapidamente, de tal forma que em junho de 2011 a atividade do setor já havia estagnado, enquanto mantinha crescimento ainda expressivo na média do Brasil, em São Paulo e no Amazonas. Ao encerrar-se 2011, a produção anual da indústria nordestina despencava 4,3%, enquanto a média do país ainda apresentava um resultado positivo de 0,35%.

A queda tão acentuada na produção industrial regional em 2011 resultou de uma combinação desastrosa do comportamento dos setores de bens de consumo não duráveis, que sofriam a competição direta com os produtos importados, com a produção têxtil despencando 24%, vestuário, 12,9% e calçados, 13,3%, e a crise da atividade sucroalcooleira, que levou à queda de 8% no subsetor do IBGE que agrega as atividades de refino de álcool e petróleo.

...à estabilização

Ao longo de 2012, em parte por conta da base de comparação mais baixa, desacelerou-se o ritmo de queda no acumulado de doze meses, até que a partir de julho de 2012 a produção industrial nordestina de doze meses se estabilizou, apresentando mesmo crescimento residual, enquanto continuava caindo na média nacional.

Assim, em outubro de 2012, a produção industrial do Nordeste no acumulado de doze meses registrou crescimento de 0,42%, enquanto a média do país caiu 2,7%.  Alguns estados apresentaram recuos acentuados, como os -6% do Amazonas, -5,57% do Rio de Janeiro, -4,35% de São Paulo. Anote-se que a produção do Ceará continuou caindo, -3,22% no período, ainda que muito menos do que em meses anteriores, como em dezembro de 2011, quando a produção anualizada havia recuado 11,7% (ver Gráfico 1).


Fonte: IBGE-PIM

Emprego

Apesar da estabilização no nível da produção física da indústria regional no segundo semestre de 2012, o comportamento do emprego no setor permanece problemático.

Nos doze meses completados em outubro de 2012, a indústria de transformação do Nordeste fechou 6.667 postos de trabalho formal.  A queda do emprego concentrou-se em quatro estados e em três segmentos produtivos. Em Alagoas e Pernambuco, por conta da crise do setor sucroalcooleiro que sofre ainda os efeitos da estiagem. Na Bahia, o corte do emprego industrial deve-se essencialmente ao fechamento de diversas unidades da indústria de calçados no interior do estado, e no Rio Grande do Norte, a demissão se concentrou nas atividades da cadeia têxtil-confecção. O Ceará tem um resultado paradoxal, com recuo acentuado na produção industrial, mas com emprego em expansão.

As maiores taxas de crescimento do emprego na indústria de transformação, no período, ocorreram, em termos proporcionais, em Sergipe, Paraíba e Ceará (ver Gráfico 2). 



Fonte: MTE-CAGED

O resultado positivo do PIB industrial brasileiro no 3º trimestre de 2012 ainda está distante de significar uma recuperação mais robusta na atividade. Dessa vez, nem mesmo o forte incremento do mercado do consumo no Nordeste tem sido suficiente para reverter a situação difícil da atividade industrial na região.

Publicado no Jornal da Cidade, em 09/12/2012 

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