Ricardo Lacerda
Dentre os componentes
do crescimento da riqueza nacional, o investimento se não é o de maior peso,
tem grande influência na sua evolução, na medida em que está sujeito a fortes
flutuações que têm o poder de afetar o resultado global. O comportamento
nervoso do investimento, que mergulha em cada momento em que motivações econômicas
e políticas, de origens externas ou internas, deprimem as expectativas sobre a
evolução da economia brasileira, pode ser observado no Gráfico 1, com base nas
taxas acumuladas em quatro trimestres.
O volume de
investimentos no Brasil despencou na esteira de cada um dos episódios
turbulentos listados a seguir: em
1998, com a crise de insolvência externa do Brasil, seguida pela mudança do
regime cambial no início de 1999; entre 2001 e 2003, pela combinação do apagão
de energia elétrica, do temor do empresariado em relação à eleição de Lula e da
instabilidade política causada pelos atentados terrorista nos EUA; e com a crise
financeira internacional no final de 2008.
Atualmente, o
comportamento do investimento está sob a influência da nova crise de confiança instalada
na Zona do Euro em 2011, que levou a economia mundial ao segundo mergulho, como
desdobramento dos episódios de 2008 e 2009 (ver Gráfico).
Obs.
Os dados de 2012 referem-se ao acumulado em quatro trimestres em no 2º
trimestre de 2012.
Fonte:
IBGE- Contas Trimestrais.
O esforço do governo
brasileiro tem se voltado para enfrentar esse novo período de turbulência na
economia mundial, mantendo o mecanismo econômico funcionando com o menor dano
possível.
Quando ocorre uma
reversão abrupta como a verificada a partir de meados de 2011, com o
recrudescimento da crise europeia, o governo abre sua caixa de ferramentas para
atuar incisivamente sobre os componentes que determinam o crescimento
econômico.
De um lado, procura estimular
o consumo das famílias, diante do seu peso na geração da riqueza. De outro
lado, busca reverter as expectativas negativas que jogaram para baixo o
investimento privado, atuando sobre variáveis que podem elevar as perspectivas
de rentabilidade dos negócios no futuro próximo, desde o valor do câmbio e as
taxas de juros, até a adoção de medidas de desoneração do investimento e de defesa
da produção interna frente à agressividade crescente do comércio exterior.
Complementarmente,
o governo procura atuar sobre as forças de oferta a fim de superar gargalos na
infraestrutura produtiva que inibem a retomada desses investimentos.
Duplo efeito
Os investimentos
atuam duplamente sobre o nível da atividade econômica, na medida em que geram
efeitos sobre o nível de renda e sobre a capacidade produtiva. São os chamados Efeito
Demanda e Efeito Capacidade. O efeito demanda atua por meio da elevação dos
gastos da economia ampliando a produção e a renda.
Em 2011, o
investimento bruto em capital fixo conjunto do setor privado e da administração
pública representou cerca de 20% do PIB, sob a ótica da despesa, alcançando
cerca de R$ 800 bilhões, em valores correntes, um crescimento real de 4,7% em
relação ao resultado de 2010, quando apresentou o crescimento notável de 21,3%,
em relação à base rebaixada de 2009.
Enquanto efeito
capacidade, o investimento em capital fixo aumenta o potencial de produção da
economia por meio da ampliação do parque fabril e de edificações do setor
privado e da infraestrutura produtiva provida pelo setor público e ou pelo setor
privado.
O investimento em
infraestrutura produtiva, abrangendo os diversos modais de transporte, energia,
telecomunicações e armazéns e silos é especialmente importante para o
crescimento econômico porque além de superar os gargalos, que impedem
fisicamente o crescimento da produção do setor privado, concorre para elevar a
competitividade das empresas na medida em que reduz custos, cria oportunidades
para novos investimentos e conecta novas áreas do país aos canais de
comercialização interna e externa.
Foi com o intuito de
mobilizar esse duplo efeito do investimento: de um lado, injetar renda para
movimentar a economia e, de outro, ampliar a infraestrutura produtiva para
elevar a competitividade do setor privado, que o governo federal convocou os
estados a se somarem na tarefa de ampliação dos investimentos públicos.
A
novidade é que a economia brasileira está próxima da plena utilização de sua
capacidade produtiva, tornando-se ainda mais premente a ampliação dos
investimentos para elevar a sua produtividade.
Publicado no Jornal da Cidade em 11/11/2012
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