Ricardo Lacerda
O roteiro da crise em termos espaciais não
era exatamente inesperado. A recessão inicialmente bateria de forma mais
intensa na atividade industrial e se concentraria, por conseguinte, nos estados
e regiões mais industrializados. Em seguida, a retração do nível de atividade se
estenderia para o setor de serviços e se agravaria a deterioração no mercado de
trabalho, alcançando com força os estados e regiões mais pobres e com mercados
de trabalho mais frágeis. A seca e/ou a queda nas cotações internacionais
cuidaram para que as áreas dedicadas aos modernos agronegócios também não
fossem poupadas.
Regiões
No momento a economia do Nordeste continua
prostrada, enquanto o nível de atividade em algumas regiões já ensaia a
retomada de um certo crescimento, que pode ser sustentável ou não. A economia
do Nordeste vem sendo atingida pela conjunção da forte retração do nível de
atividade no segmento de serviços, pelo colapso da construção civil, pela forte
deterioração das finanças públicas nas esferas estaduais e municipais e, mais
recentemente, pelos efeitos da estiagem sobre a produção de grãos, inclusive
nas áreas de fronteira agrícolas dedicadas aos agronegócios.
Se a crise econômica foi menos dura no
Nordeste nos primeiros estágios do ciclo descendente o inverso está acontecendo
no período mais recente.
Na comparação com dezembro de 2014, o Índice
de Atividade Regional do Banco Central (IBC-R) do Nordeste de julho de 2016, no
acumulado em doze meses, se situava 9,2%, frente aos 4,5% abaixo na região
Norte e aos 2,9% na região Sudeste (ver Gráfico 1).
A região Centro-Oeste, que em 2015 havia sido
favorecida pelos efeitos da depreciação da moeda sobre o setor exportador, viu
despencar o nível de atividade ao longo de 2016, em grande parte por conta da
estiagem. O IBC-R do Centro-Oeste em doze meses, que
chegou a se situar 8,2% acima do resultado de dezembro de 2014, recuou para
99,2% nos doze meses encerrados em julho de 2016, portanto 0,8% abaixo.
A crise no setor agropecuário também não
poupou a região Sul, que em julho de 2016 apresentava o acumulado de doze meses
do IBC-R de 93,8, portanto 6,2% abaixo do resultado de dezembro de 2014.
Fonte: Banco Central do Brasil
Bola da vez
Em meados de 2015, a crise já havia se
instalado em todas as regiões do país. No segundo trimestre de 2015, o nível de
atividade da economia da região Nordeste havia recuado 1,1%, em relação ao 1º
trimestre, na série livre de efeitos sazonais, a menor queda entre as cinco
regiões. A retração do nível de atividade econômica se agudizou muito no último
trimestre de 2015, com o IBC-R caindo 2,3%, a mesma taxa de recuo da média
nacional e já mais acentuada do que as quedas registradas nas regiões Sudeste,
Sul e Centro-Oeste (ver Gráfico 2).
Ao longo de 2016, o nível de atividade da
economia brasileira manteve-se prostrado, arrastando-se em direção ao ainda não
alcançado fundo do poço, mas os comportamentos das regionais foram muito
distintos entre si. No primeiro trimestre do ano, as regiões Norte, Sul e
Centro-Oeste apresentaram crescimento, mesmo que a taxas modestas, enquanto as
regiões Nordeste e Sudeste continuaram em trajetória descendente.
No segundo trimestre de 2016 e no primeiro
resultado trimestral da segunda metade do ano, referente ao período maio-julho,
as regiões Norte e Sudeste, em que as atividades industriais têm maior peso no
PIB, já haviam invertido a trajetória de queda, enquanto o nível de atividade
na economia do Nordeste se manteve estável em relação ao trimestre anterior
(-0,1%) e as regiões Centro-Oeste e Sul foram duramente atingidas pela crise do
setor agropecuário.
Entre a recuperação do nível de atividade e o
incremento na ocupação e na remuneração média decorre um certo tempo. Se os
indicadores do mercado de trabalho nas regiões que já apresentam algum
crescimento continuam se deteriorando, a situação do trabalho no Nordeste ainda
pode se agravar muito antes de começar a reagir.
Fonte: Banco Central do Brasil: Obs: Série
livre de efeitos sazonais.
Publicado no Jornal da Cidade, em 25/09/2016