Ricardo Lacerda
Apesar de a maior parte dos índices de
confiança disponíveis registrar elevação, emergiu entre os especialistas um
sentimento de ceticismo sobre as possibilidades de crescimento no curto prazo do
nível de atividade da economia brasileira. As publicações na semana passada dos
resultados do PIB do 2º trimestre e da produção industrial de julho não
concorreram para aliviar as preocupações.
A evolução do PIB no segundo trimestre de
2016 não apresentou desaceleração do ritmo de queda em relação ao trimestre
anterior, como vinha ocorrendo desde o terceiro trimestre de 2015. Depois de
registrar retração de 1,3% no último trimestre de 2015 e de 0,4% no 1º
trimestre de 2016, o PIB no segundo trimestre recuou 0,6%.
O volume da produção industrial de julho também
decepcionou, com incremento de apenas 0,1%, que pode ser interpretado como
estabilização, depois de quatro meses de incremento, ainda que modestos. Em
julho, um número menor de atividades industriais apresentou crescimento do que na
edição de junho. E na comparação com o mesmo mês do ano anterior a produção
física da indústria caiu 6,6%, mais do que os 5,8% que havia recuado no mês de
junho.
Mercado de trabalho e consumo
São duas as observações que merecem ser
destacadas em relação à continuidade da queda do PIB brasileiro no segundo
trimestre de 2016, em uma série que completa seis resultados negativos
sucessivos: a principal é que a acelerada deterioração do mercado de trabalho
impacta muito fortemente os componentes principais do PIB, tanto da ótica da
produção setorial quanto do lado da demanda agregada.
A segunda observação é a de que a evolução do
setor externo no segundo trimestre inverteu a tendência recente e passou a
contribuir negativamente para o crescimento do PIB. Enquanto as exportações de
bens e serviços perderam o impulso, as importações de bens e serviços voltaram
a crescer, na comparação com o trimestre imediatamente anterior.
Há ainda uma terceira observação que merece
destaque relativa ao efeito da estiagem sobre a produção do setor agropecuário,
que tem apresentado comportamento ruim desde o início do ano e recuou 2% no
segundo trimestre.
Os resultados recente do nível de atividade
econômica sinalizam a necessidade urgente de interromper o mais rápido possível
a espiral descendente do consumo e estancar a deterioração do mercado de
trabalho. A redução dos juros e o destravamento do crédito são medidas óbvias,
mas podem não ser suficientes.
Produção
Do ponto de vista da produção, além da
referida queda de 2% na produção agropecuária o setor serviços, que representa
mais de 70% da produção da riqueza do país, registrou a sexta queda trimestral
sucessiva e não sinalizou ainda a interrupção do seu declínio, enquanto a
atividade industrial apresentou um desempenho relativamente modesto, invertendo
a queda de 0,3% no 1º trimestre para um incremento de 0,3% no segundo (ver
Gráfico 1). Os piores desempenhos entre as atividades de serviço foram os dos
segmentos de atividades de transporte e armazenagem, de outros serviços e de
intermediação financeira.
Fonte: IBGE- CNT
Demanda
Do ponto de vista da demanda agregada, o
desempenho de todos os componentes no segundo trimestre foram muito ruins,
ainda que a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), a partir de uma base de
comparação muito rebaixada, tenha deixado de cair. Especialmente preocupante foi o desempenho do
consumo das famílias que responde por mais de 60% do dispêndio global e não dá
sinais de estabilização, já registrando seis trimestres consecutivos de quedas
muito acentuadas.
Cabe também assinalar que o setor externo da
economia também concorreu para o declínio do nível de atividade, em parte por
conta do refluxo do impulso exportador, em parte porque a importação de bens e
serviços parou de encolher. A grande incógnita é qual vai ser a resposta do
governo não apenas para estancar a espiral descendente no mercado de trabalho mas
sobretudo para reanimar o nível de atividade econômica.
Fonte: IBGE- CNT
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