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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Os desafios da presidente



Ricardo Lacerda

São muitos os desafios que a presidente vai enfrentar para recolocar a economia brasileira nos trilhos do desenvolvimento sustentado, entendido como aquele capaz de: a) manter a geração de emprego; b) reverter a queda da atividade industrial e retomar a expansão do PIB em ritmo robusto; ao tempo em que c) dispersa as pressões inflacionárias; e d) reduz os déficits em transações correntes enquanto proporção do PIB. Como um cobertor curto, a priorização de um objetivo conspira contra outro.

A atividade econômica interna perdeu dinamicidade desde o segundo semestre de 2011, quando a economia mundial entrou no segundo estágio da crise iniciada em 2008. Na série em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, desde o terceiro trimestre daquele ano que o crescimento do PIB apresenta resultados abaixo de 2,5%, com exceção do 2º trimestre de 2013 (ver Gráfico 1).


Fonte: IBGE. CNT.

O ensaio de retomada iniciado no final de 2012 foi abortado pela nova deterioração do cenário externo em meados de 2013 e pela crise de confiança que se estabeleceu internamente, em parte por conta dos efeitos dos anúncios de reversão da política de expansão quantitativa  pelo Banco Central norte-americano, em parte por conta dos efeitos das mobilizações que tomaram as ruas do país, em parte por conta do acúmulo de dificuldades internas. O crescimento do PIB em 2014 tem sido especialmente ruim. 

Imperativo

A retomada do crescimento é um imperativo nesse momento e a superação da crise de confiança que se instalou no país é a tarefa mais imediata. A questão é o preço que o país está disposto a pagar para recuperar a confiança do mercado financeiro. O mercado exige atitudes convincentes de que o governo vai tomar medidas visando reequílibrar as finanças públicas e trazer a inflação para patamar mais confortável, sem recorrer à contenção dos preços regulados, como energia elétrica e combustíveis.  

Com o cenário externo ainda muito adverso, sem perspectivas de retomada consistente do crescimento nas economias centrais nos próximos trimestres, a margem de manobra do governo permance muito estreita para entregar o que o mercado exige sem adotar medidas que, inevitavelmente, aprofundarão a desaceleração da economia, com riscos de provocar desemprego e perda de poder de compra das famílias.  

Inflação

Otaviano Canuto, assessor sênior para assuntos dos BRICS do Banco Mundial, tem alertado para o descasamento entre as evoluções dos preços livres e dos preços regulados (ver Gráfico 2). Para o economista sergipano, o realinhamento dos preços dos bens e serviços monitorados (regulated) é o principal desafio na gestão da política macroecômica, quando a inflação anualizada já encostou no teto superior superior da meta de inflação e a atividade econômica se encontra debilitada.

A correção dos preços monitorados teria que ser acompanhada pela desaceleração dos preços livres, o que somente poderia ser alcançado por meio de medidas fortes de contenção do gasto público e de elevação das taxas de juros, o que o governo resiste  em fazer porque jogaria a economia em uma recessão aberta.

Para Canuto, a retomada de um novo ciclo virtuoso de crescimento e de inclusão social vai depender da capacidade do país em ampliar os investimentos em infraestrutura, preferencialmente por meio de concessões, e em educação profissional que propiciem a elevação da produtividade econômica no médio prazo.



Fonte: IBGE. Extraído da apresentação de Canuto in Brazil – U.S. Business Council,
 Washington, 30 de outubro de 2014.

Nelson Barbosa, ex-secretário executivo do ministério da fazenda e um dos nomes mais cotados para assumir a titularidade da pasta, tem destacado um outro aspecto a respeito da gestão do nosso sistema de metas de inflação. Ele lembra que em oito dos onze anos em que o Brasil cumpriu a meta inflacionária, no limite das bandas, desde que o sistema foi introduzido em 1999, a valorização do real cumpriu papel decisivo e nos outros três anos (1999, 2012 e 2013), o Banco Central recorreu a instrumentos não convencionais de gestão macroeconômica.

Ou seja, o controle da inflação desde o início do sistema de metas inflacionárias tem exigido, regularmente, a valorização de nossa moeda, que, se proporciona elevação do poder de compra das famílias e das empresas, compromete a competitividade da produção industrial tanto no mercado externo quanto no mercado doméstico. Em outras palavras, troca-se produção por consumo.

Para ele, o país deve procurar alternativa de controlar a inflação sem recorrer a um novo ciclo de apreciação do real que ameaça a sobrevivência do setor industrial.

Perspectivas

Com as medidas que deverão ser anunciadas nas próximas semanas, o governo vai procurar superar a desconfiança dos agentes econômicos em relação à gestão macroeconômica, iniciando um período de ajustes que pode ser mais duro ou mais suave.

Em algumas situações, a dose do remédio faz a diferença entre recuperar o paciente ou matá-lo. Ao lado do anúncio de controle das contas públicas, o governo deverá buscar destravar os investimentos em infraestrutura, que são fundamentais para retomar o crescimento o mais cedo possível.  A correção do câmbio, imprescindível para recuperar a competitividade de nossa economia, aparentemente, vai ser adiada mais uma vez ou será realizada muito diluída no tempo.

Publicado no Jornal da Cidade, em 02/11/2014 


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