Ricardo Lacerda
Concluído o processo eleitoral e 2014 se
aproximando do final, o país se prepara para enfrentar em 2015 um período de
ajuste econômico, com a expectativa de construir ao longo do ano as condições
de transição para um novo ciclo crescimento.
Há grandes desafios a serem enfrentados. O
principal deles é dispersar a atmosfera de pessimismo em relação às possibilidades
de crescimento da economia brasileira no curto prazo.
A questão central que tem pautado os
analistas é identificar as forças capazes de retirar a economia da situação atual
de letargia e impulsionar o mecanismo econômico em direção a taxas anuais de
crescimento entre 2% e 3%. Não é tão
difícil assim.
Cenário externo
Um dos maiores entraves decorre da perspectiva
de manutenção de um cenário externo muito adverso em 2015 e anos seguintes. Particularmente
ruins são as perspectivas da zona do euro que recentemente reverteu o muito frágil
ensaio de retomada da economia e poderá enfrentar por tempo indefinido o
prolongamento da estagnação econômica.
Ainda em setembro a zona do euro reviu a
projeção de crescimento para 2014 de 1,2% para 0,8%, depois de ter enfrentado
dois anos seguidos de queda do PIB. O Fundo Monetário Internacional tem emitido
repetidos alertas para o risco concreto de a economia da região enfrentar um
processo de deflação de preço nos próximos meses. A projeção é de que os preços
aos consumidores variem 0,54% em 2014, com a deflação se instalando na Espanha
e na Grécia, enquanto Portugal deverá registrar zero de inflação em 2014 e a
França, 0,7%.
Para o FMI, a zona do euro não voltará a
apresentar crescimento robusto até o final da presente década. Mesmo o
desempenho do PIB alemão deverá se situar abaixo de 1,5% em 2014 e em 2015. Em
tal cenário externo, a queda nas cotações de nossas principais commodities
adiciona dificuldades à retomada do crescimento.
Vetores do crescimento
Do ponto de vista da demanda agregada, a
retomada de um ciclo de crescimento pode ser impulsionada pelo aumento do
consumo das famílias, pelo incremento dos investimentos, por meio de um drive
de exportações ou por uma combinação entre eles. Dadas as dificuldades no front
externo, o país deve buscar internamente os estímulos que poderão acionar tais
componentes, até que um novo ciclo de crescimento da economia mundial possa
alargar o nosso potencial de crescimento.
Em relação ao consumo das famílias,
componente que representa cerca de 2/3 da demanda agregada, a sua expansão é
determinada pelo crescimento do emprego, do rendimento médio das famílias, pelo
volume de crédito, transferências sociais e por uma dimensão menos tangível que
é a expectativa das famílias em relação a sua própria situação financeira e a do
país no futuro próximo.
Como se sabe, o consumo das famílias tem sido
o principal sustentáculo do crescimento do mercado interno nos últimos anos,
tendo registrado taxas de crescimento superiores às do PIB em todos os anos
depois que a economia desacelerou em 2011 (ver Gráfico).
Fonte: IBGE. CNT.
Esse empuxe aparentemente encontrou seu teto,
seja do ponto de vista macroeconômico, como indicam as pressões inflacionárias,
seja do ponto de vista microeconômico, referente ao grau de endividamento das
famílias.
O desempenho dos investimentos tem sido limitado
pela instabilidade do cenário internacional e pelo agravamento do cenário
interno desde junho do ano passado. Há, todavia, expectativas razoáveis para
que, afastada a crise de confiança atual, tenha início um novo ciclo de
investimentos de proporção moderada, impulsionado pelas oportunidades e pelos
efeitos multiplicadores gerados pelo aumento da produção de petróleo no pré-sal
e pelas concessões de infraestrutura nos segmentos de rodovia, aeroportos e energia.
Há poucas discordâncias de que são enormes as oportunidades de investimento em
infraestrutura no Brasil.
Outra linha de impulso ao crescimento pode
advir de ajustes na taxa de câmbio. É sabido que o hiato criado entre a
velocidade de expansão do consumo e o da produção, notadamente da produção
industrial, vem sendo preenchido pelo crescimento das importações. Além disso, a desvalorização consistente do
real, ainda que cuidadosa por conta do seu impacto sobre os preços internos, poderia
abrir um drive de crescimento das exportações nacionais, com importante efeito
multiplicador sobre o conjunto da economia.
Os novos investimentos em infraestrutura e as
mudanças nas condições de competividade da atividade industrial não apenas
concorrerão para reverter o declínio do nível de atividade que vem rondando a
economia nos últimos meses como serão fundamentais para elevar a produtividade
média de nossa economia, ampliando o produto potencial.
Nas últimas semanas que restam em 2014 e nas
primeiras do ano vindouro, o país tem por desafio espantar o mau humor do
mercado e apresentar um caminho consistente no médio prazo para o reequilíbrio
das contas públicas, sem recorrer a armadilha da recessão. As oportunidades de
investimentos em infraestrutura, o tamanho do nosso mercado de consumo e o
impulso de um novo drive exportador podem mover a economia brasileira para um
novo ciclo virtuoso.
Publicado no Jornal da Cidade em 09/11/2014
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