Ricardo
Lacerda
Nos dias 17 e 18
de novembro, o BNDES realizou na cidade de Recife seminário para lançamento do
livro Um olhar territorial sobre o
desenvolvimento: Nordeste. A publicação integra coleção que abrange as
cinco macrorregiões brasileiras.
Os cincos volumes, dos quais dois já lançados
(Amazônia e Nordeste), foram elaborados com o propósito de orientar o
planejamento das ações do banco de desenvolvimento econômico e social,
em geral guiado pela perspectiva setorial, a partir de um recorte de
desenvolvimento regional, mas as contribuições da publicação certamente vão muito
além desse objetivo institucional.
O Olhar territorial
Cada volume está
estruturado em três partes. Uma parte introdutória que buscou sistematizar as
principais contribuições dos capítulos e os desafios que afloram das reflexões.
A segunda parte é
dedicada a apresentar as ações do BNDES nos últimos dez anos em um recorte
regional, detalhando os financiamentos que foram realizados segundo cada uma
das suas áreas operacionais. Essa seção traz uma riqueza de informações, contemplando
os investimentos em energia e logística, na área industrial, na infraestrutura
social (educação, saúde, saneamento, mobilidade urbana), nas atividades
agropecuárias e sociais e as ações voltadas para o meio ambiente.
Dada a
importância do banco de desenvolvimento no financiamento dessas áreas no Brasil, os relatos setoriais com
recorte espacial desenham um cenário consistente dos investimentos mais
estruturantes que foram realizados, cujo conhecimento a respeito é
fundamental para compreender as transformações por que passaram as regiões no
período.
A parte final é
constituída por capítulos elaborados por profissionais convidados vinculados à academia, agências federais ou
estaduais de desenvolvimento ou ainda relatos de experiências empresariais. São
reflexões sobre o significado e limites do progresso social e econômico das
regiões e sobre os desafios que se colocam para a sua continuidade.
O Seminário
No
seminário de lançamento do livro dedicado ao desenvolvimento territorial do
Nordeste, coordenado pela professora
Maria Helena Lastres, da assessoria da presidência do banco, e pelo
Chefe do Departamento Regional Nordeste, Paulo Ferraz Guimarães, foram
apresentadas análises e reflexões apoiadas nos capítulos publicados e
avaliações mais recentes sobre as perspectivas para a região.
Foram debatidos temas de grande relevância para o
desenvolvimento da região, desde as oportunidades de expansão da oferta de energias renováveis (eólica,
solar e biomassa) aos investimentos programados para os próximo anos em
infraestrutura de transporte, em seus vários modais.
A
professora Maria Lúcia Falcón, da
Universidade Federal de Sergipe, apresentou uma síntese do capítulo que
elaborou para o livro sobre o papel do estado e do planejamento regional para o
desenvolvimento do Nordeste, destacando as várias escalas espaciais e os
horizontes temporais das ações de planejamento.
Participei
de mesa com as honrosas presenças de especialistas em economia regional, a professora
Tânia Bacelar, da UFPE, e o professor
Jair Amaral, da UFC, e de técnicos da área de planejamento do BNDES sobre os Desafios e as Oportunidades para o
Desenvolvimento do Nordeste.
Perspectivas
para o Nordeste
Parte
do debate focou o abrangente progresso social e econômico que marcou a evolução
da região nos últimos doze anos. Procurou-se avaliar o significado das
transformações, afastando-se de explicações
simplistas que procuram atribuir o recente desenvolvimento social e econômico da
região unicamente às transferências de recursos federais para famílias e
governos da região.
Para
além dos mitos consagrados, firmou-se no seminário a avaliação de que os
investimentos públicos em infraestrutura econômica e social, os investimentos privados
induzidos para a região pelas políticas de desenvolvimento ou pelo crescimento
da renda, a abrangente inclusão social, a incorporação de largas parcelas da
população ao mercado de consumo provocaram transformações estruturais que
colocaram o Nordeste em novo patamar de desenvolvimento. Com isso, novos
desafios se colocam para a região que permanece como a mais pobre e a mais
carente de infraestrutura física e de conhecimento. Enfatizou-se a urgência de
se propor uma política de envergadura suficiente para mudar a realidade da sub-região
semiárida.
Destaco
duas dimensões do mercado de trabalho que revelam o quanto a região avançou e como
as carências se mantêm muito elevadas. Entre 2002 e 2013, o contingente de
empregos formais da região saltou de 4,85 milhões para 8,9 milhões, incremento
de notáveis 83%, equivalentes a crescimento médio anual de 6,3%. Apesar disso,
o censo demográfico de 2010 ainda constatou que 59% da força de trabalho
ocupada na região região se encontrava em atividades informais.
Entre
2000 e 2010, o nível de instrução da população nordestina avançou
significativamente, mas o quadro geral é ainda muito ruim. O número de profissionais
com grau de doutor na região saltou de 3.705, em 2000, para 15.446 em 2010. A
participação das pessoas de 25 anos ou mais que possuíam curso superior
multiplicou catorze vezes, passando de inexpressivos 0,5%, em 2000, para 7,1%,
em 2010, da população com 25 anos ou mais. Também foi muito expressiva a
expansão da força de trabalho com curso médio completo ou superior incompleto,
que representava 4,7% das pessoas com 25 anos ou mais em 2000 e alcançou 21,1%,
em 2010 (ver Figura).
Somando
essas duais faixas de escolaridade, quase 30% da população em 2010 contavam com
curso médio ou superior, o que habilita a região a receber investimentos de
maior complexidade técnica e em novos setores de atividade. De outra parte,
quase seis em cada dez pesssoas de 25 anos ou mais de idade não contavam com
ensino fundamental completo, demonstrando a dimensão do esforço necessário para
elevar a escolaridade da população regional.
Nível
de instrução da população de 25 anos ou mais (%)
Fonte:
IBGE. Censos demográficos de 2000 e 2010.
A
publicação sobre a Amazônia já está disponível no portal do BNDES na internet
e, em breve, o volume sobre o Nordeste também poderá ser acessado no link https://web.bndes.gov.br/bib/jspui/handle/1408/2801
Publicado no Jornal da Cidade, em 23/11/2014
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