Ricardo Lacerda
A
semana se inicia com ansiedade em relação ao resultado da reunião do Comitê de
Política Monetária (COPOM) do Banco Central. Há sinais intensos de que o comitê
deverá anunciar ao final da reunião, na quarta-feira, a elevação da taxa básica.
Na reunião anterior, nos dias 2 e 3 de março,
mesmo com fortes pressões de setores de mercado pela subida da taxa, o Copom
decidiu, por unanimidade, manter a Selic em 7,25% a.a. , sem viés, aguardando a
evolução do cenário macroeconômico. Apesar
de a inflação já apontar para a tendência de rompimento do teto da meta em
meses seguintes, temia-se que a elevação da taxa básica quando a economia
ensaiava ainda sinais titubeantes de recuperação jogaria água fria nas
expectativas de crescimento.
De lá
para cá, o IPCA acumulado em doze meses subiu, atingindo 6,59%, patamar
superior ao limite da banda da meta inflacionária, de
6,5%. Os analistas consideram mais preocupante o fato de o índice de difusão de
preços ter se mantido elevado em março, com alta em 69% dos produtos pesquisados pelo IBGE.
Frente
aos pronunciamentos e consultas diversas na semana passada, predomina entre os
analistas a percepção de que será anunciada uma elevação moderada da taxa Selic,
ainda que o Banco Central possa surpreender e adiar a decisão.
A inflação
Há
poucas dúvidas de que no segundo semestre o IPCA acumulado em doze meses vai
apresentar números declinantes e abaixo do teto da banda. A maioria das
projeções aponta que o ano deverá encerrar com taxa de 5,8%. As próximas
edições do IPCA mensal deverão apresentar, na maioria dos meses, números inferiores
aos de 2012, empurrando a média anual para baixo. Ainda assim, construiu-se um
quase consenso entre os analistas de que a elevação da Selic nesse momento é um
sinal necessário para reverter as expectativas inflacionárias.
Há
dois grupos de preços que pressionam atualmente os índices inflacionários,
sendo que, enquanto o efeito do primeiro é essencialmente episódico, o do
segundo é persistente. A elevação nos preços dos alimentos deve desacelerar nos
próximos meses posto que eventos que puxaram para cima os resultados em 2012,
como quebras de safra no exterior e no país e os efeitos da desvalorização
cambial, não se repetirão. Todavia, a inflação renitente dos serviços reflete a
pressão do poder de compra acrescido da população e o mercado de trabalho aquecido. Mesmo que a desaceleração no crescimento dos
preços dos alimentos atenue o IPCA nos próximos meses, deverá persistir a
tensão provocada pela elevação nos preços dos serviços.
O
ponto central em vista é o de que uma taxa de difusão tão ampla pode criar uma
rigidez para baixo na taxa de inflação. O papel da elevação dos juros nesse
momento seria basicamente de reverter a expectativa que vem se formando nos
últimos meses em relação à trajetória futura da inflação.
O PIB
Haveria
a alternativa de postergar mais uma vez a elevação da Selic para o segundo
semestre, quando a confiança na recuperação do nível de atividade econômica se
consolidasse e a curva do IPCA em doze meses apontasse para baixo. Os efeitos gerados
pelas desonerações adotadas nos últimos meses podem permitir ganhar tempo,
aguardando que o segundo semestre trouxesse noticias acalentadoras em relação a
preços e crescimento do PIB.
O gráfico
apresentado mostra que desde meados de 2012 a taxa trimestral de crescimento do
PIB (linha contínua sem marcador), em relação ao mesmo trimestre do ano
anterior, vem se recuperando, mas em ritmo muito lento. A comparação com o
trimestre imediatamente anterior (linha pontilhada), na série dessazonalizada
anualizada, já vinha crescendo mesmo
antes disso, mas também com inclinação muito modesta. Como a desaceleração da
economia em 2011 foi muito acentuada, a trajetória do PIB em doze meses (linha
contínua com marcador) apenas deixou de desacelerar, devendo apresentar
resultados crescentes somente nos próximos trimestres.
Fonte: IBGE. Obs: Os dados do crescimento do PIB do final da série referem-se ao IBC-BC do trimestre dezembro de 2012 – fevereiro 2013. IPCA de doze meses do final de cada trimestre
Foi
sedimentando em meio ao público especializado a percepção de que a elevação da
Selic nesse momento é a alternativa de menor custo frente ao risco de maior de
contaminação das expectativas, o que exigiria mais adiante aumentos de juros
mais elevados. Embora não seja muito provável, não deve ser descartada a
hipótese de o Banco Central manter o sangue frio e adiar a elevação da taxa básica
para o segundo semestre, se não estiver confiante que a recuperação do nível da
atividade já está contratada.
Publicado no Jornal da Cidade em 14/04/2013
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