Ricardo
Lacerda
Nos próximos dias 26 e
27 realizar-se-á no auditório da Didática V da UFS a rodada de Sergipe da I
Conferência Nacional de Desenvolvimento Regional. O evento é promovido pela
Secretaria Nacional de Desenvolvimento Regional (SNDR), do Ministério da
Integração, com o objetivo de levantar subsídios para reformular a Política
Nacional de Desenvolvimento Regional.
Segundo o
texto de referência, elaborado pela SNDR, a proposta de construção da política
regional está norteada pelo duplo objetivo de “i. Sustentar uma trajetória de
reversão das desigualdades inter e intrarregionais, valorizando os recursos
endógenos e as especificidades culturais, sociais, econômicas e ambientais; ii.
Criar condições de acesso mais justo e equilibrado aos bens e serviços públicos
no território brasileiro, reduzindo as desigualdades de oportunidades
vinculadas ao local de nascimento e moradia.”
O primeiro
eixo diz respeito ao fato de que, apesar dos progressos apresentados pelas
regiões mais pobres e de menor densidade econômica que têm logrado reduzir a
distância em relação às regiões mais desenvolvidas, as desigualdades entre as
regiões brasileiras e internamente a elas se mantêm muito acentuadas em
praticamente todas as dimensões relevantes. As regiões Norte, Nordeste e, em
menor grau, Centro-Oeste continuam apresentando amplas desvantagens em termos
infraestrutura, base produtiva, renda, escolaridade, ciência & tecnologia e
nos indicadores de educação e saúde. As desigualdades entre os estados de uma
mesmo região também são muito acentuadas.
O segundo
eixo trata das desigualdades de acesso a políticas públicas que penalizam as
populações residentes nas áreas mais pobres.
Como foi
assinalado no artigo da semana passada (http://cenariosdesenvolvimento.blogspot.com.br/2012/09/crescimento-e-convergencia-no.html),
as regiões mais pobres vêm apresentando há mais de uma década taxas de
crescimento do PIB superiores à média brasileira. Em parte, a redução das
disparidades econômica regionais tem
sido motivada por políticas que favoreceram a elevação da renda das pessoas
mais pobres, cujos pesos são maiores em suas populações, muito especialmente no
Nordeste. Cabem nessa linha tanto os aumentos reais do salário mínimo, quanto
os recursos dos programas de transferências de renda.
Outra
parte é explicada pelo fato de o ciclo expansivo iniciado em 2004 ter
propiciado a realização de investimentos estruturantes em todo o território
nacional. No caso do Nordeste, desde a primeira metade dos anos oitenta não se implantavam
projetos em infraestrutura produtiva e na matriz industrial tão significativos para
o desenvolvimento regional.
Produção e renda
No
diagnóstico sobre o atraso do Nordeste elaborado ainda no final dos anos
cinqüenta, Celso Furtado constatava que havia um duplo fluxo de renda entre o
Nordeste e o então chamado Centro-Sul, que se equivalia em montante. Saindo do
Nordeste, investimentos de grupos econômicos regionais em busca de
oportunidades de negócios que se descortinavam no Centro-Sul em intenso
processo de industrialização. A compensação era a entrada na região de
transferências de recursos federais, principalmente nos anos de seca. O
Nordeste trocava perda na estrutura produtiva por ganhos de renda, mesmo assim
insuficientes para contrabalançar o crescimento pujante da renda na região mais
industrializada.
Certamente,
esse processo não se repetiu no ciclo expansivo mais recente. Muitas empresas
têm se dirigido para a região em busca das oportunidades que o crescimento
diferenciado do Nordeste proporciona. Nele, o Nordeste reduziu a distância
tanto no que diz respeito à estrutura produtiva quanto à renda, ainda que em
velocidades muito distintas.
A renda per
capita do Nordeste passou de 54%, em 2001, para 62,2% da média nacional em
2009. O crescimento da renda média do Nordeste e a sua proporção em relação à
nacional se acentuaram na medida em que o ciclo expansivo da economia nacional
se acelerava (Ver Gráfico).
Fonte: IBGE. Contas regionais e PNAD.
Obs. O cálculo da renda familiar per capita foi extraído da publicação
A Nova Classe Média, do CPS/FGV.
O
crescimento do PIB per capita do Nordeste também evoluiu a taxas mais
favoráveis do que a média brasileira. Todavia, no período em tela, como se dizia
antigamente, não apenas a distância do PIB per capita da região em relação à
média brasileira é mais acentuada do que a da renda per capita, quanto a
convergência do PIB per capita vem evoluindo de forma mais lenta.
Esses dados
podem auxiliar nas reflexões que serão feitas durante a conferência regional.
As regiões mais pobres, especialmente localidades mais carentes, precisam de
políticas de renda, mas requerem igualmente transformações em infraestrutura,
em recursos humanos e na base produtiva e empresarial.
Publicado no Jornal da Cidade de 23/09/2012
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