Ricardo
Lacerda
Quando
refletimos sobre os percalços que o Brasil enfrentou e superou ou vem superando
desde o final do regime militar em 1985 encontramos razões substantivas para
acreditar no país. Não é difícil elencar as áreas em que o país avançou e os principais
desafios e as tarefas que são inadiáveis.
Em
1982 o Brasil estava quebrado financeiramente e foi constrangido a assinar o
primeiro dos acordos de resgate com o Fundo Monetário Internacional, da série cuja
vigência se estendeu até 2005. Guardadas as especificidades geográficas e de
período, a situação do Brasil nos anos oitenta e boa parte dos anos noventa não
era muito diversa da que se encontram hoje alguns países do sul europeu, com a
gestão de economia sendo operada, na prática, sob a tutela das agências
internacionais.
A
necessidade de fazer frente ao serviço da dívida externa, contratada nas duas
décadas anteriores, desorganizou a economia brasileira, provocou o descontrole
inflacionário, desestabilizou as finanças públicas e interditou por duas
décadas o crescimento mais vigoroso e sustentado (ver Gráfico sobre a evolução
da dívida externa líquida como proporção do PIB). Não apenas o desenvolvimento econômico
desandou como não se conseguia avançar na área social.
Fonte: Banco Central
Pacto pela
cidadania
A
promulgação da Constituição de 1988 selou um novo pacto nacional e estabeleceu
compromissos sociais para nortear a atuação dos governos.
É
notável o preâmbulo da
Constituição de 1988 em que se afirma a determinação de “...instituir um
Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos individuais
e sociais, a liberdade, a segurança, o bem estar, o desenvolvimento, a
igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade pluralista e sem
preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida na ordem interna e
internacional com a solução pacífica das controvérsias...”.
Estabilização e
desenvolvimento
Nos
anos noventa, a estabilização da inflação e o posterior estabelecimento dos marcos
da gestão macroeconômica foram conquistas fundamentais para os progressos
subseqüentes, ainda que tenham sido acompanhados por concessões e opções que causaram
impactos desestruturantes na matriz industrial e que limitaram a retomada de
taxas de crescimento mais expressivas.
Foi
na primeira década do novo século que o Brasil fez as pazes com o crescimento
econômico, agora em nova feição, compatibilizando prosperidade econômica e
inclusão social. Fatores externos e internos se combinaram para promover o mais
vigoroso período crescimento econômico desde os anos setenta, incorporando ao
mercado de consumo mais de 30 milhões de brasileiros que emergiram para a
chamada Classe C. O Nordeste e Sergipe, especificamente, foram muito
beneficiados no novo ciclo virtuoso de crescimento.
Desafios
Em
meados de 2011, o ciclo expansivo da economia brasileira foi atropelado pelo
agravamento da crise internacional. A resposta do governo brasileiro focou dois
objetivos: impulsionar a demanda interna de modo a assegurar o crescimento nos
próximos semestres a taxas superiores a 3% ao ano para enfrentar com menor dano
possível os efeitos da crise prolongada; estimular as forças de oferta para
tornar a economia Brasileira mais competitiva no longo prazo.
Nessa
última agenda, formou-se quase um consenso a respeito das tarefas fundamentais,
que são custosas e vão demandar tempo e inventividade política: destravar os
investimentos em infraestrutura produtiva; simplificar o sistema tributário e
desonerar o investimento e a produção; reduzir de forma sustentada o patamar
dos juros praticados e desvalorizar o câmbio; fazer valer mecanismos regulatórios
que induzam a redução das tarifas de serviços que afetam os custos industriais;
avançar na desindexação dos preços e tarifas; multiplicar os esforços na
capacitação de recursos humanos com ênfase na área tecnológica e elevar o nível
geral de escolaridade e a qualidade do sistema educacional, sem o que é não é
possível explorar as oportunidades para desenvolver os setores intensivos em
conhecimento.
Na
área social, apesar dos avanços promovidos e da importância de ter focalizado as
ações nos segmentos mais pobres da população, estamos ainda entre os campeões de
desigualdade de renda.
Há
sempre a opção de não se deter nos resultados positivos alcançados, sempre
imperfeitos e muitas vezes inacabados, e prestar mais atenção em nossas mazelas
mais endêmicas, que não são poucas, ou destacar retrocessos incorridos. Essa
posição de questionamento crítico certamente contribui para minimizar
imperfeições e avançar, desde que não se perca a capacidade de reconhecer as
conquistas, pois configuraria um passo em direção a abrir mão delas.
Publicado
no Jornal da Cidade em 09/09/2012
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