Ricardo
Lacerda
Com
a redução da taxa Selic para 7,5% ao ano na reunião da semana passada do
Conselho de Política Monetária do Banco Central, a taxa de juros real ex-ante atingiu
patamar inferior a 2% ao ano, quando em agosto de 2011 se situava em torno de 7%,
também em termos reais. Foram nove rodadas seguidas que reduziram em 5 p.p. a taxa
básica que remunera o financiamento no mercado interbancário brasileiro
(ver Gráfico).
Ainda
que o custo das operações de crédito para as famílias e empresas não tenha
caído proporcionalmente e se mantenha absurdamente elevado por conta dos spreads bancários praticados, o novo
patamar da taxa básica de juros, muito mais baixo do que em qualquer período posterior
à estabilização da inflação em meados dos anos noventa, trará importantes
implicações para a economia brasileira dos próximos anos.
Fonte:
Banco Central. Extraído da exposição do Ministro da Fazenda na reunião do CDES
de 30/08/2012.
*
Em relação a SWAP –DI de 360 dias.
A
queda na taxa básica decorreu de uma conjunção de fatores que propiciou raio de
manobra para a atuação incisiva do Banco Central a partir de meados de 2011.
Entre os fatores conjunturais, certamente o de maior alcance foi o impacto da
desaceleração do crescimento da economia mundial sobre a cotação das
commodities, atenuando a pressão sobre os preços internos. Some-se a isso a
própria redução no ritmo de crescimento dos preços de bens e serviços por conta
do esfriamento da economia brasileira. Abriu-se uma janela de oportunidade para
que o Banco Central acelerasse a redução da taxa básica de juros a fim de se
contrapor à forte reação recessiva acionada pela piora das expectativas a
respeito do cenário externo.
Mudanças
de caráter mais estrutural do que conjuntural, como a melhoria na situação da
reservas internacionais e a redução da dívida líquida do setor público como
proporção do PIB, podem ter habilitado o país a operar com um patamar mais
baixo de juros em uma perspectiva de longo prazo.
Sustentabilidade
Atento
ao quadro geral de instabilidade, o governo brasileiro vem dando uma resposta
diferente aos efeitos desse segundo mergulho da economia mundial sobre o nível
de atividade interna, comparativamente às medidas adotadas em 2008/2009. Faz
uma nova combinação de instrumentos em que as medidas fiscais orientadas para a
expansão do consumo do governo e, em menor grau, de desoneração do consumo das
famílias perdem peso, e as medidas de expansão do investimento público e
privado, de um lado, e de facilitação do crédito e redução nas taxas de juros,
de outro, ganham força.
Ao
trocar política de expansão fiscal pela redução de juros e expansão do crédito
o governo paga um tributo à visão de que, em momentos de turbulência, é crucial
dobrar o compromisso com a sustentabilidade de longo prazo do crescimento
brasileiro em que a responsabilidade com as contas públicas é elemento
fundamental.
Duas
questões emergem: uma relativa à sustentabilidade de longo prazo do novo
patamar dos juros e outra referente à efetividade das medidas para promover a
recuperação do crescimento em um quadro internacional muito instável. Para a
segunda questão, o governo mostra-se otimista, ainda que a retomada do
crescimento venha se dando em velocidade muito inferior à esperada.
Em
relação à primeira questão, deve-se considerar que taxas de juros reais muito
baixas, e até negativas, como as praticadas em vários países, somente fazem
sentido em razão das medidas monetárias expansionistas adotadas em um cenário
de recessão crônica nas economias avançadas. Com a projetada recuperação do
nível de atividade da economia brasileira, alguns ajustes provavelmente serão
necessários em 2013, mas o manejo seguro das contas públicas e solidez das
contas externas podem respaldar juros abaixo dos vigentes no passado.
A
taxa de juros é um dos preços mais fundamentais da economia, ao lado da taxa de
câmbio e dos salários. Na medida em que afeta a alocação de recursos reais e
financeiros, os fluxos internacionais de capital e mesmo a distribuição da
riqueza entre segmentos sociais e entre setores de atividade, a sua mudança
para um patamar significativamente mais baixo por um longo prazo move
positivamente forças poderosas do sistema econômico.
Publicado no Jornal da Cidade em 02/09/2012
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