A semana correu repleta de informações inquietantes que criaram um ambiente de angústia entre aqueles que acompanham o cenário econômico brasileiro: revisão da taxa de crescimento econômico americano para 1,7% em 2011, contra a projeção anterior de 2,7%; revisão da taxa de crescimento do PIB brasileiro de 2011 pelo Banco Central de 4% para 3,5%; o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, surpreendeu o mercado financeiro, antecipando o corte da taxa básica de juros em 0,5%, frente à expectativa de sua manutenção, quando ainda são tênues os sinais de recuo da taxa de inflação no acumulado de doze meses.
A semana fechou com o anúncio do crescimento do PIB brasileiro do segundo trimestre de 2011, de 0,8%, em relação ao semestre anterior, na série livre de efeitos sazonais, o que aponta a taxa anualizada de 3,6%.Para além do recorrente comportamento histriônico de certos setores do chamado mercado, sempre que suas projeções não são confirmadas, como se assim fosse colocada em questão a sua pretensa onisciência, a decisão do Copom de reduzir a taxa de juros responde à deterioração do cenário externo e procura se antecipar aos seus efeitos recessivos sobre a economia brasileira, que apesar de ter mantido aquecido o nível de atividade, encontra-se em rápido processo de desaceleração, muito particularmente no setor industrial.DesaceleraçãoAinda que o crescimento do PIB dos últimos doze meses, em relação aos doze meses anteriores, tenha se mantido relativamente elevado, atingindo 4,7%, a trajetória apresentada é de rápida desaceleração, frente aos 6,2% no final do 1º trimestre, e dos 7,5% obtidos nessa série nos dois trimestres anteriores.Quando se observam os resultados do trimestre comparativamente ao mesmo trimestre do ano anterior, é possível constatar o quão abruptamente a economia brasileira vem desacelerando em 2011. Depois de crescer 5% no 4º trimestre de 2010, em relação ao 4º trimestre de 2009, a taxa de crescimento nessa série caiu para 4,2% no 1º trimestre de 2011 e agora, no 2º trimestre de 2011, para 3,1% (ver Gráfico 1).Setor IndustrialNo setor industrial, mais sensível à valorização do câmbio e ao acirramento da competição com os produtos importados, depois das elevadas taxas de incremento no início de 2010, que na verdade apenas repunham parcialmente a produção perdida no ano de 2009, o PIB setorial se expandiu 4,3% no último trimestre de 2010, em relação ao mesmo trimestre de 2009, desacelerou para 3,5% no 1º trimestre de 2011, e cresceu apenas 1,7% na comparação entre o 2º trimestre de 2011 e o 2º trimestre de 2010, acionando o sinal de alerta (ver Gráfico 1). Entre o primeiro e segundo trimestres de 2011, na série sem efeitos sazonais o PIB industrial teve incremento de 0,2%, o que corresponde a uma taxa anualizada inferior a 1%.Fonte: IBGE. Contas trimestraisGastosDo ponto de vista do dispêndio, o consumo das famílias, responsável por 63% da demanda total da economia brasileira e principal motor do crescimento nos últimos anos, reduziu o ritmo de expansão nos últimos trimestres, à força das medidas voltadas para a restrição do crédito, mesmo que as taxas de incremento ainda se mantenham elevadas.Depois de crescer 7,5% na comparação entre o 4º trimestre de 2010 e o mesmo período de 2009, o consumo das famílias aumentou 5,9% no 1º trimestre, nessa série, e 5,5% no 2º trimestre. O dispêndio de consumo da administração pública manteve uma trajetória de expansão moderada, com taxa de incremento de 2,5% no 2º trimestre, e a outra variável interna da demanda, a Formação Bruta de Capital (FBCF), fundamental para ampliar a capacidade produtiva interna e expandir o potencial de crescimento e que vinha se ampliando rapidamente à reboque da expansão do mercado de consumo interno, desacelerou intensamente no último trimestre (ver Gráfico 2).O governo federal apontou para um novo redirecionamento da política econômica, com maior emprego dos instrumentos fiscais e menor uso da política monetária, diante dos efeitos dessa última sobre a valorização cambial.Fonte: IBGE. Contas trimestraisConfirmou-se, sem dúvida, uma mudança de comportamento do Copom, no sentido de se antecipar aos fatos adversos e demonstrar compromisso com a manutenção do crescimento, em uma conjuntura em que isto depende essencialmente do comportamento do mercado interno, mas como dizia Keynes àqueles que lhe cobravam coerência: quando mudam os fatos, eu mudo de ideia, e o que você faz?
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