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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

O consumo em 2014 e em 2015

Ricardo Lacerda

As vendas no comércio em 2014 continuaram crescendo à velocidade superior ao do PIB. O volume de vendas no comércio varejista no Brasil cresceu 2,2% em 2014, enquanto a nossa economia deve ter apresentado crescimento próximo a zero. Todavia, quando se considera o varejo ampliado, o que inclui as vendas de automóveis, motocicletas e peças e as de material de construção, o volume de vendas se retraiu 1,7%. As vendas do segmento de automóveis, motos etc caíram 9,4%.

O crescimento do volume de vendas no varejo de 2014 foi o menor desde 2003 (ver Gráfico), quando havia recuado 3,7% em uma sequencia de queda de três anos (2001-2003), enquanto a  retração do varejo ampliado em 2014 é a primeira na série histórica do IBGE iniciada em 2003.


Fonte: IBGE. PMC

Fim de um ciclo

O desempenho ruim das vendas do comércio no ano passado é o resultado mais concreto de que o ciclo de expansão puxado pelo consumo, que dava mostras de que estava perdendo folêgo nos últimos anos, atingiu o limite de suas possibilidades. Quando forem publicadas as contas nacionais do último trimestre de 2014, certamente o crescimento do consumo das famílias mostrará ainda resultado anual positivo, enquanto o PIB terá andado de lado.

Não há, todavia, que se extrair ilações moralistas do episódio, de que o crescimento do consumo por um longo período é sempre insustentável. Fica insustentável quando não é acompanhado pela expansão do investimento e do comércio exterior, como vem acontecendo depois de 2008 e mais acentuadamente após o cenário externo voltar a se deteriorar em 2011 e, novamente, em 2013.

Um ciclo de crescimento liderado pela expansão do comércio exterior que não fosse acompanhado pela ampliação do consumo interno e pela formação de capital (investimento) ou ainda liderado pelo investimento que não fosse seguido pelos incrementos de consumo e do comércio exterior, por outros motivos, logo encontraria seus limites.

Como a expansão do consumo interno não foi suficiente para influenciar as decisões de investimento no quantum necessário para compensar a piora das relações externas, e não era razoável esperar que poderia se ignorar os efeitos de uma a crise de enormes proporções  na economia internacional, a expansão do PIB foi sendo solapada: de um lado, as três esferas do governo se defrontaram com a desaceleração da arrecadação que comprometeu a situação das finanças públicas; de outro, agravou-se em uma velocidade impressionante o resultado das contas externas; e ainda há a crise de confiança que se segue nesse cenário, até que chega a hora de dar um freio de arrumação, que já começou.

Perspectivas

O governo vem adotando uma série de medidas para sanear as finanças públicas, o que certamente não vai favorecer a expansão do consumo em 2015. Os cortes nos subsídios implícitos nas tarifas de energia elétrica e nos preços dos combustíveis, ao lado da elevação dos tributos e dos juros, quando a economia já não cresce reduzem a renda disponível e a capacidade de endividamento das famílias. Inevitavelmente, a evolução do consumo vai ser bastante restrita em 2015.

A discriminação por atividades de varejo mostra como, salvo aluns segmentos bem específicos e de peso não muito elevado no conjunto do setor, as vendas apresentaram desempenho bem modestos em 2014, desde as vendas de alimentos, calçados e combustíveis, mais associados à renda corrente das famílias, até as vendas de  bens duráveis de consumo, como veículos, móveis e eletrodomésticos,  mais dependentes das condições de crédito. Apenas as atividades de venda de artigos farmacêuticos e cosméticos e de outros artigos pessoais registraram crescimento robusto (ver Tabela).



Tabela. Crescimento do Volume de Vendas no Comércio em 2014 (%)
COMÉRCIO VAREJISTA
2,2
Combustíveis e lubrificantes
2,6
Hiper, supermercados, prods. alimentícios, bebidas e fumo
1,3
Tecidos, vest. e calçados
-1,1
 Equip. e mat. para escritório informatica e comunicação
-1,7
Livros, jornais, rev. e papelaria
-7,7
Outros arts. de uso pessoal e doméstico
7,9
Móveis
0,5
Eletrodomésticos
0,9
Artigos farmaceuticos, med., ortop. e de perfumaria
9,0
COMÉRCIO VAREJISTA AMPLIADO
-1,7
Veículos e motos, partes e peças
-9,4
 Material de Construção
0,0
Fonte: IBGE. PMC


 Publicado no Jornal da Cidade em 15/02/2015

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