Ricardo Lacerda
As vendas no comércio em 2014 continuaram
crescendo à velocidade superior ao do PIB. O volume de vendas no comércio varejista
no Brasil cresceu 2,2% em 2014, enquanto a nossa economia deve ter apresentado
crescimento próximo a zero. Todavia, quando se considera o varejo ampliado, o
que inclui as vendas de automóveis, motocicletas e peças e as de material de
construção, o volume de vendas se retraiu 1,7%. As vendas do segmento de
automóveis, motos etc caíram 9,4%.
O crescimento do volume de vendas no varejo
de 2014 foi o menor desde 2003 (ver Gráfico), quando havia recuado 3,7% em uma
sequencia de queda de três anos (2001-2003), enquanto a retração do varejo ampliado em 2014 é a
primeira na série histórica do IBGE iniciada em 2003.
Fonte: IBGE. PMC
Fim de um ciclo
O desempenho ruim das vendas do comércio no
ano passado é o resultado mais concreto de que o ciclo de expansão puxado pelo
consumo, que dava mostras de que estava perdendo folêgo nos últimos anos,
atingiu o limite de suas possibilidades. Quando forem publicadas as contas nacionais
do último trimestre de 2014, certamente o crescimento do consumo das famílias
mostrará ainda resultado anual positivo, enquanto o PIB terá andado de lado.
Não há, todavia, que se extrair ilações
moralistas do episódio, de que o crescimento do consumo por um longo período é
sempre insustentável. Fica insustentável quando não é acompanhado pela expansão
do investimento e do comércio exterior, como vem acontecendo depois de 2008 e
mais acentuadamente após o cenário externo voltar a se deteriorar em 2011 e,
novamente, em 2013.
Um ciclo de crescimento liderado pela
expansão do comércio exterior que não fosse acompanhado pela ampliação do
consumo interno e pela formação de capital (investimento) ou ainda liderado
pelo investimento que não fosse seguido pelos incrementos de consumo e do
comércio exterior, por outros motivos, logo encontraria seus limites.
Como a expansão do consumo interno não foi
suficiente para influenciar as decisões de investimento no quantum necessário
para compensar a piora das relações externas, e não era razoável esperar que
poderia se ignorar os efeitos de uma a crise de enormes proporções na economia internacional, a expansão do PIB foi
sendo solapada: de um lado, as três esferas do governo se defrontaram com a desaceleração
da arrecadação que comprometeu a situação das finanças públicas; de outro,
agravou-se em uma velocidade impressionante o resultado das contas externas; e
ainda há a crise de confiança que se segue nesse cenário, até que chega a hora
de dar um freio de arrumação, que já começou.
Perspectivas
O governo vem adotando uma série de medidas
para sanear as finanças públicas, o que certamente não vai favorecer a expansão
do consumo em 2015. Os cortes nos subsídios implícitos nas tarifas de energia
elétrica e nos preços dos combustíveis, ao lado da elevação dos tributos e dos
juros, quando a economia já não cresce reduzem a renda disponível e a
capacidade de endividamento das famílias. Inevitavelmente, a evolução do
consumo vai ser bastante restrita em 2015.
A discriminação por atividades de varejo
mostra como, salvo aluns segmentos bem específicos e de peso não muito elevado
no conjunto do setor, as vendas apresentaram desempenho bem modestos em 2014,
desde as vendas de alimentos, calçados e combustíveis, mais associados à renda
corrente das famílias, até as vendas de
bens duráveis de consumo, como veículos, móveis e eletrodomésticos, mais dependentes das condições de crédito.
Apenas as atividades de venda de artigos farmacêuticos e cosméticos e de outros
artigos pessoais registraram crescimento robusto (ver Tabela).
Tabela. Crescimento do Volume de
Vendas no Comércio em 2014 (%)
|
|
COMÉRCIO VAREJISTA
|
2,2
|
Combustíveis e lubrificantes
|
2,6
|
Hiper, supermercados, prods. alimentícios,
bebidas e fumo
|
1,3
|
Tecidos, vest. e calçados
|
-1,1
|
Equip. e mat. para escritório informatica e
comunicação
|
-1,7
|
Livros, jornais, rev. e papelaria
|
-7,7
|
Outros arts. de uso pessoal e doméstico
|
7,9
|
Móveis
|
0,5
|
Eletrodomésticos
|
0,9
|
Artigos farmaceuticos, med., ortop. e de
perfumaria
|
9,0
|
COMÉRCIO VAREJISTA AMPLIADO
|
-1,7
|
Veículos e motos, partes e peças
|
-9,4
|
Material de Construção
|
0,0
|
Fonte: IBGE. PMC
Publicado no Jornal da Cidade em 15/02/2015
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