Ricardo Lacerda
Nos últimos dez anos verificou-se um importante movimento em
direção ao estreitamento do atraso entre o nível de desenvolvimento do Nordeste
e a média do Brasil. Todo um conjunto de indicadores econômicos e sociais
aponta para isso, ainda que a região continue apresentando defasagem muito acentuada
em todos eles.
O fato de vir apresentando evolução favorável, todavia, e este é
o ponto central da argumentação, faz com que possamos pensar no Nordeste não
apenas como uma região problema, e
sim como uma região de oportunidades, uma importante fronteira de
crescimento para o Brasil, em outras palavras, uma importante frente de acumulação de capital do
país. Apesar disso, alguns mitos e preconceitos teimam em perdurar sobre a
região.
Os 7 mitos
Mito 1: O Nordeste é uma região estagnada. O fato: já algum
tempo, o Nordeste vem crescendo mais rapidamente do que a média do país e bem
mais rápido do que as regiões mais ricas, o Sudeste e o Sul. Entre 2000 e 2011,
o PIB do Nordeste cresceu a taxa média anual de 4,2%, frente aos 3,1% da região
Sudeste e 3,4% da região Sul.
Mito 2: O crescimento do Nordeste é apropriado pelos ricos da
região, em edições renovadas da velha indústria da seca. O fato: o crescimento recente
da renda favoreceu todas as classes, mas principalmente as pessoas mais pobres.
Milhões de nordestinos saíram da situação de miséria absoluta e o rendimento
médio familiar por habitante do Nordeste diminuiu a distância em relação ao do
Brasil;
Mito 3: O desenvolvimento do Nordeste se limita ao litoral. O
fato: todas as sub-regiões nordestinas apresentaram crescimento acima da média do Brasil entre 2000
e 2011, seja o litoral-zona da mata, o semiárido e muito especialmente uma das
princpais novas fronteiras agrícolas do Brasil, a sub-região dos cerrados
nordestinos. O semiárido é a sub-região mais pobre e vai exigir por um longo
período uma atuação mais intensa para promover suas potencialidades. Há
expectativas de que crescimento da oferta de energia eólica e solar possa abrir
uma frente importante de geração de renda e de adensamento de atividades na
sub-região.
Mito 4: O Bolsa família vicia a população, que não procura
emprego. O fato: o emprego formal no Nordeste cresceu a taxa média de 6,3% ao
ano no Nordeste entre 2003 e 2013. Em termos absolutos, o número de
trabalhadores com vínculo formal saltou de cerca de 5 milhões, em 2003, para
quase 9 milhões, em 2013. Cerca de 1 em cada 5 (19,7%) empregos formais gerados
no país nesse período se situou na região.
Há ainda uma larga faixa de população em atividades informais (mais de
50%) que poderá ser incorporada em atividades mais modernas
Mito 5. Não há investimentos em recursos humanos na região. O
fato: há de fato carência de recursos humanos qualificados, mas recentemente é
notória a intensa elevação da escolaridade de sua população. O número de pessoas
com doutorado na região saltou de 3.705, em 2000, para 15.446 em 2010. A
participação das pessoas de 25 anos ou mais com curso superior multiplicou
catorze vezes em dez anos, saltando de de 0,5% para 7,1% nessa faixa etária. Quase
30% da população em 2010 de mais de 25 anos apresentava curso médio ou
superior, o que habilita a região a receber investimentos de maior complexidade
técnica e em novos setores de de atividade.
É necessário, todavia, enfrentar um
enorme desafio educacional pela frente visto que quase 6 em cada 10 pessoas
não contavam com ensino fundamental completo. É importante destacar a enorme
expansão da rede federal de ensino técnico, tecnológico e de campi
universitários, que se disseminou em todo o interior da região. Ver figuras.
Fonte: MEC.
Mito 6: O desenvolvimento do Nordeste foi impulsionado apenas
pelo crescimento da renda das famílias. O fato: o crescimento das rendas foi um
fator importante e desejável do crescimento recente. Não menos importante foi a
abertura de uma série de investimentos em infraestrutura produtiva e social,
tanto de investimentos públicos quanto de investimentos privados: refinarias de
petróleo, transposição do rio São Francisco e as ferrovias Transnordestina
(ligando Piauí, Pernambuco e Ceará) e a Oeste – Leste, na Bahia que, mesmo que
ainda inconclusas, colocaram a região no mapa de investimentos em
infraestrutura. Não menos importante é o avanço na montagem de parques eólicos
em praticamente todos estados, iniciando por Rio Grande do Norte, Ceará, Sergipe
e Bahia; a duplicação da BR-101, os investimentos nos portos de Suape, Aratu e
Pecém e no aeroporto de São Gonçalo do Amarante (RN);
Mito 7: O Nordeste não tem perspectivas de desenvolvimento a
longo prazo. O fato: o Nordeste não apenas tem mostrado maior resiliência à
crise como deve se apresentar como importante fronteira de crescimento em um
novo ciclo de expansão.
Alguns fatores contam para sustentar uma posição de otimismo em
relação às perspectivas da região: oportunidades criadas pela expansão do
mercado de consumo e pela exploração de sua base de recursos naturais; a
implantação de ampla rede de educação técnica e tecnológica espraiada em seu
território; um amplo contingente de força de trabalho, tanto de nível básico
como, progressivamente, nos níveis técnicos e tecnológicos, esses últimos nos
principais centros urbanos assegurando uma oferta elástica de mão de obra por
um longo período.
Por tudo isso, sustento a posição de
que o movimento de convergência deve perdurar nas próximas décadas, não apenas
à força das políticas públicas de cunho social, como também dos investimentos
em infraestrutura econômica e social, mas reconheço que o seu alcance vai
depender da qualidade das políticas públicas de educação e na definição dos
investimentos na rede de infraestrutura logística.
Publicado no Jornal da Cidade, em 07 de dezembro de 2014
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