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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

segunda-feira, 4 de março de 2013

Produtividade e crescimento do Nordeste



Ricardo Lacerda*

O crescimento econômico do Nordeste nos últimos dez anos abriu uma janela de oportunidade para que a região estreite de forma significativa a larga desvantagem que acumulou historicamente em relação às regiões mais ricas. Ao apresentar no período mais recente taxas de crescimento da produção e do consumo acima da média brasileira, o Nordeste vem atraindo importantes investimentos que irão reforçar o ciclo virtuoso de transformações econômicas e sociais.

Há poucas dúvidas de que nos últimos dez anos foi reduzido o hiato de desenvolvimento do Nordeste e as regiões mais prósperas, ou seja, de que avançou-se em um processo de convergência. A redução das disparidades se manifesta nos indicadores de renda, de emprego, de produção, de saúde e de escolaridade.

Ainda que as disparidades sejam muito acentuadas, o Nordeste responde hoje por uma parcela maior da renda, do emprego formal e dos alunos cursando o terceiro grau comparativamente a uma década atrás, enquanto os níveis de renda média, PIB per capita, produtividade industrial(ver Gráfico) e da escolaridade da região estão menos distantes da média brasileira. Crescimento econômico e políticas sociais foram e vão continuar sendo os vetores-chave dessa nova fase de desenvolvimento da região.


Fonte: IBGE. Renda per capita familiar, PNAD; PIB per capita, Contas regionais; Produtividade Industrial, PIA. Obs. O indicador comparativo de produtividade industrial compara o VTI médio por trabalhador da indústria geral.

Herança

Para além da herança colonial e das diferenças de crescimento da produtividade nas economias agrícolas regionais de base exportadora do século XIX, o esforço realizado pelo país para se desenvolver por meio da industrialização ao longo da segunda metade do século XX, com investimentos concentrados no eixo RJ-SP, reforçou e consolidou a disparidade entre as regiões em todas as dimensões do desenvolvimento, incluindo infraestrutura, recursos humanos e, principalmente, a base produtiva instalada na agricultura, na indústria e no setor de serviços.

Os investimentos na modernização da região entre os anos sessenta e oitenta foram importantes para interromper a ampliação do hiato de desenvolvimento regional. Todavia, se a modernização do Nordeste nesse período apresentou resultados significativos em termos de transformação da base produtiva e na edificação de infraestrutura, ela manteve uma marca de exclusão social e de baixa endogeneização, limitando o seu alcance social e econômico e a sua sustentabilidade no tempo.

O baixo crescimento brasileiro na década de noventa e o abandono das políticas de desenvolvimento deixaram ao relento as preocupações com as disparidades regionais e o Nordeste restou esquecido.

Convergência e oportunidade

A aceleração do ritmo de crescimento econômico a partir de 2004 assegurou os meios materiais para que o país começasse a por em prática de forma mais incisiva as promessas da constituição cidadã de 1988. Foi necessário superar, todavia, alguns preconceitos antigos (reforçados ao longo dos anos noventa) que restringiam a adoção de políticas sociais mais incisivas, como também foi fundamental a retomada de políticas explícitas de ativação do desenvolvimento.

As políticas sociais entraram na agenda do país e passaram a ser um dos vetores estruturantes que deverão balizar o desenvolvimento pelas próximas décadas. Deixou-se para trás uma visão de desenvolvimento que se assentava na crença de que a modernização da base produtiva asseguraria per si a elevação das condições de vida da população e promoveria a redução da pobreza. 

Desafios

Apesar de a redução das disparidades nos últimos dez anos ter sido significativa e de ter havido importante mudanças estruturais no Nordeste, o processo de convergência em andamento é relativamente lento e ainda não se avista o momento em que a região apresente indicadores econômicos e sociais próximos aos das regiões mais prósperas.

Além disso, como resultado da política social inclusiva, a convergência de desenvolvimento entre as regiões tem sido mais rápida no que tange a renda, consumo e emprego do que de produção, de produtividade e possivelmente de infraestrutura tangível e intangível para o desenvolvimento sustentado.

O crescimento econômico recente, acompanhado pela incorporação de novos contingentes populacionais ao mercado de consumo, ampliou e adensou a base econômica da região, dotando-a de um tamanho de mercado atraente. É necessário, todavia, continuar avançando em direção à sustentabilidade do seu desenvolvimento por meio da elevação de a sua competitividade.

Para tanto, é preciso viabilizar um patamar elevado de investimentos em infraestrutura e na formação de recursos humanos, além de uma política de forte indução para a região de investimentos produtivos nos setores estratégicos da política industrial, compatibilizando assim os impulsos emanados da política social com os da ampliação da base produtiva da região.

Publicado no Jornal da Cidade em 03/03/2012

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