Ricardo Lacerda*
O crescimento econômico do
Nordeste nos últimos dez anos abriu uma janela de oportunidade para que a região
estreite de forma significativa a larga desvantagem que acumulou historicamente
em relação às regiões mais ricas. Ao apresentar no período mais recente taxas
de crescimento da produção e do consumo acima da média brasileira, o Nordeste
vem atraindo importantes investimentos que irão reforçar o ciclo virtuoso de
transformações econômicas e sociais.
Há
poucas dúvidas de que nos últimos dez anos foi reduzido o hiato de
desenvolvimento do Nordeste e as regiões mais prósperas, ou seja, de que avançou-se
em um processo de convergência. A redução das disparidades se manifesta nos
indicadores de renda, de emprego, de produção, de saúde e de escolaridade.
Ainda
que as disparidades sejam muito acentuadas, o Nordeste responde hoje por uma
parcela maior da renda, do emprego formal e dos alunos cursando o terceiro grau
comparativamente a uma década atrás, enquanto os níveis de renda média, PIB per
capita, produtividade industrial(ver Gráfico) e da escolaridade da região estão
menos distantes da média brasileira. Crescimento econômico e políticas sociais foram
e vão continuar sendo os vetores-chave dessa nova fase de desenvolvimento da
região.
Fonte:
IBGE. Renda per capita familiar, PNAD; PIB per capita, Contas regionais;
Produtividade Industrial, PIA. Obs. O indicador comparativo de produtividade
industrial compara o VTI médio por trabalhador da indústria geral.
Herança
Para além da herança
colonial e das diferenças de crescimento da produtividade nas economias
agrícolas regionais de base exportadora do século XIX, o esforço realizado pelo
país para se desenvolver por meio da industrialização ao longo da segunda
metade do século XX, com investimentos concentrados no eixo RJ-SP, reforçou e
consolidou a disparidade entre as regiões em todas as dimensões do
desenvolvimento, incluindo infraestrutura, recursos humanos e, principalmente,
a base produtiva instalada na agricultura, na indústria e no setor de serviços.
Os investimentos na
modernização da região entre os anos sessenta e oitenta foram importantes para
interromper a ampliação do hiato de desenvolvimento regional. Todavia, se a
modernização do Nordeste nesse período apresentou resultados significativos em
termos de transformação da base produtiva e na edificação de infraestrutura,
ela manteve uma marca de exclusão social e de baixa endogeneização, limitando o
seu alcance social e econômico e a sua sustentabilidade no tempo.
O baixo crescimento
brasileiro na década de noventa e o abandono das políticas de desenvolvimento
deixaram ao relento as preocupações com as disparidades regionais e o Nordeste
restou esquecido.
Convergência e oportunidade
A aceleração do ritmo de
crescimento econômico a partir de 2004 assegurou os meios materiais para que o
país começasse a por em prática de forma mais incisiva as promessas da
constituição cidadã de 1988. Foi necessário superar, todavia, alguns preconceitos
antigos (reforçados ao longo dos anos noventa) que restringiam a adoção de
políticas sociais mais incisivas, como também foi fundamental a retomada de políticas
explícitas de ativação do desenvolvimento.
As políticas sociais
entraram na agenda do país e passaram a ser um dos vetores estruturantes que
deverão balizar o desenvolvimento pelas próximas décadas. Deixou-se para trás
uma visão de desenvolvimento que se assentava na crença de que a modernização
da base produtiva asseguraria per si a elevação das condições de vida da
população e promoveria a redução da pobreza.
Desafios
Apesar de a redução das
disparidades nos últimos dez anos ter sido significativa e de ter havido
importante mudanças estruturais no Nordeste, o processo de convergência em andamento
é relativamente lento e ainda não se avista o momento em que a região apresente
indicadores econômicos e sociais próximos aos das regiões mais prósperas.
Além disso, como resultado
da política social inclusiva, a convergência de desenvolvimento entre as
regiões tem sido mais rápida no que tange a renda, consumo e emprego do que de
produção, de produtividade e possivelmente de infraestrutura tangível e
intangível para o desenvolvimento sustentado.
O
crescimento econômico recente, acompanhado pela incorporação de novos
contingentes populacionais ao mercado de consumo, ampliou e adensou a base
econômica da região, dotando-a de um tamanho de mercado atraente. É necessário,
todavia, continuar avançando em direção à sustentabilidade do seu desenvolvimento
por meio da elevação de a sua competitividade.
Para
tanto, é preciso viabilizar um patamar elevado de investimentos em
infraestrutura e na formação de recursos humanos, além de uma política de forte
indução para a região de investimentos produtivos nos setores estratégicos da
política industrial, compatibilizando assim os impulsos emanados da política
social com os da ampliação da base produtiva da região.
Publicado no Jornal da Cidade em 03/03/2012
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