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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

segunda-feira, 11 de março de 2013

Oferta e demanda



Ricardo Lacerda

O anúncio do pífio PIB de 2012 pôs lenha no debate sobre os limites do crescimento brasileiro. Os críticos da política econômica insistem que o crescimento movido pela expansão do consumo já teria se esgotado.

O truque, assim se referem os críticos, não funciona mais porque as famílias estão endividadas e o mercado de trabalho já se encontra próximo ao pleno emprego. Em tais situações, acréscimos de consumo se traduziriam mais em aumento de preço do que em incremento da produção para atender a essa demanda acrescida. A hora é da oferta. A demanda já teria encontrado o seu teto.

Sofisma

Esse tipo de abordagem recorre, sob certo sentido, a um sofisma muito utilizado nos embates públicos. Elencam-se fatos amplamente conhecidos, como a ampliação do mercado de consumo, a baixa taxa de desocupação em vigor e a queda do investimento em 2012 e, sobretudo, apela-se a sensos comuns, como o de que é necessário ampliar os investimentos públicos e privados, para concluir, apressadamente, que o reduzido crescimento do PIB nos últimos dois anos se deve ao esgotamento do crescimento puxado pelo ciclo de consumo.

Não há como discordar que um dos principais pontos da agenda de desenvolvimento brasileiro é a necessidade de ampliação do seu potencial de crescimento, seja por meio da aceleração dos investimentos públicos e privados em infraestrutura, seja pelo aumento da capacidade produtiva das empresas, fatores atinentes às condições de oferta. Na verdade, o governo está atento a essas questões e toda uma agenda de desenvolvimento produtivo e de infraestrutura está sendo implementada. Mas essa é somente uma parte do enredo sobre a evolução recente do PIB.

O equívoco não está em destacar que o crescimento liderado pelo consumo deve ser complementado pela expansão dos investimentos, que não apenas reforça a elevação da demanda como alarga a capacidade produtiva da economia. O problema é deixar em segundo plano ou simplesmente desconsiderar que outros fatores, não necessariamente associados a restrições físicas ao crescimento, concorreram, se não determinaram, para o resultado do PIB de 2012.

Oferta

Do lado da oferta, convém examinar as taxas de crescimento dos setores em 2012, cuja média ponderada é o aumento de 0,9% do PIB. O setor agropecuário, que representa cerca de 6% do PIB, decaiu 2,3% no ano, a maior retração entre todos os setores. O setor industrial, com cerca de 24% do PIB, apresentou queda de 0,8% (sendo que a indústria de transformação recuou 2,5% e a construção civil cresceu 1%). Apenas o setor de serviços, responsável por quase 70% do PIB, registrou expansão, com taxa de crescimento de 1,7%.
O desempenho negativo do setor agropecuário, como é de conhecimento geral, esteve associado a problemas climáticos ou de comportamento dos preços no mercado externo, e dificilmente pode ser atribuído à escassez de mão-de-obra e a limitações físicas do potencial de crescimento. 

O resultado ruim da indústria de transformação deriva sim de deficiências na produtividade, mas também está associado a questões do lado da demanda como o acúmulo de estoques e aos efeitos da sobreprodução mundial no setor em um quadro de câmbio ainda valorizado sobre a produção doméstica. Ao apresentarem queda na produção, indústria e agricultura contaminaram o desempenho de outras atividades.

A Tabela 1 ilustra, do ponto de vista da produção, quais foram as atividades que puxaram o crescimento do PIB para baixo ao destacar com célula sombreada quais delas cresceram abaixo da média e perderam participação.

Tabela 1. Participação dos setores de atividade no Valor Adicionado de 2011 e 2012.
(Em %). Em valores constantes de 1995.
Setores
2011
2012
Variação de Participação (%)
Agropecuária
6,5
6,3
-0,20
Indústria
24,5
24,1
-0,38
-         Ext. Mineral
1,0
1,0
-0,02
-         Indústria de Transformação
15,1
14,6
-0,49
-         Construção
5,3
5,3
0,03
-         Eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana
2,7
2,8
0,08
Serviços
69,2
69,8
0,62
-         Comércio
12,0
12,0
0,03
-         Transporte, Armazenagem e Correio
4,4
4,4
-0,01
-         Serviços de Informação
1,2
1,2
0,03
-         Intermediação Financeira e Seguros
11,1
11,1
-0,03
-         Outros Serviços
16,1
16,2
0,16
-         Serviços Imobiliários e Aluguel
9,2
9,3
0,05
-         Consumo da Administração e Educação e Saúde Públicas
14,7
15,0
0,30
Valor Adicionado
100
100
Fonte: IBGE. Contas Nacionais Trimestrais.

Demanda

A Tabela 2 apresenta o outro lado da moeda, com os dados sob a ótica da demanda. O comportamento das variáveis é muito esclarecedor do resultado ruim do PIB de 2012. Cresceram acima da média do PIB o consumo das famílias e as despesas correntes da administração pública e da educação e saúde públicas. Dois itens de despesas, fortemente associados entre si, puxaram fortemente para baixo e com efeitos da mesma ordem de grandeza o crescimento do PIB de 2012: os investimentos em capital fixo (FBCF) e os estoques bens e materiais retidos nas empresas (ver Tabela 2).

Os comportamentos dessas variáveis, associados a efeitos do lado da demanda e não da oferta, explicam na essência o desempenho do setor industrial em 2011. A variação fortemente negativa dos estoques significa que parte da expansão do consumo em 2012 não teve como contrapartida o aumento da produção e sim a redução nos estoques acumulados em anos anteriores. Por outro lado, não há como se esperar recuperação mais expressiva dos gastos com investimentos enquanto as empresas estão desovando bens elaborados em anos anteriores.

Tabela 2. Composição do PIB, em valores correntes, sob a ótica das despesas em 2011 e 2012.
(Em %)
Ano
2011
2012
Variação de Participação
(%)
-         Consumo das Famílias
60,3
62,3
2,0
-         Consumo da Administração Pública e Educação e Saúde Públicas
20,7
21,5
0,8
-         Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF)
19,3
18,1
-1,1*
-         Variação de Estoques
0,4
-0,5
-1,0*
-         Comercio Exterior de Bens e Serviços
-0,7
-0,8
-0,1
-         Produto Interno Bruto (PIB)
100
100

Fonte: IBGE. Contas Nacionais Trimestrais. * Valores arredondados.

Do ponto de vista mais imediato, das causas de curto prazo, o baixo crescimento de 2012 se deve principalmente a, de um lado, problemas climáticos que afetaram o resultado do setor agrícola, e de outro lado, à queda acentuada dos gastos com investimentos em máquinas e equipamentos e à variação negativa de estoques, que comprometeram o desempenho do setor industrial.

Ainda que os gargalos de infraestrutura e a pressão do mercado de trabalho sejam evidentes, não se pode atribuir exatamente a eles o baixo crescimento do PIB de 2012, mas corretamente associado a questões de choque de oferta agrícola e a ajustes no estoques retidos pelas empresas. Como tais problemas não devem se repetir em 2013 são esperadas taxas de crescimento do PIB bem mais expressivas.

Publicado no Jornal da Cidade em 10/03/2013

2 comentários:

  1. Pois é! A variação dos preços na agricultura podem estar relacionados aos problemas climáticos. Segundo os dados, parece bastante razoável supor que a diminuição da participação da indústria de transformação está relacionada com a queda da FBKF. Podemos esperar taxas de crescimento maiores agora em 2013 devido a maturação dos investimentos realizados no ano passado.

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  2. E também porque os estoques já estão baixos e as empresas vão retomar aos niveis de produção.

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