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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

domingo, 12 de outubro de 2014

A nova economia do Nordeste




Ricardo Lacerda

A contar do final da segunda guerra mundial, o Nordeste se defrontou com duas oportunidades para realizar transformações de vulto, com potencial de promover uma redução significativa no hiato de desenvolvimento econômico e social que acumulou em relação às regiões mais ricas e construir uma sociedade mais equilibrada socialmente, diminuindo as injustiças abissais com que nos defrontamos todos os dias.

A primeira oportunidade foi na segunda metade dos anos cinquenta quando o presidente Juscelino Kubitschek convocou um grupo de técnicos, Celso Furtado à frente, para dar uma resposta abrangente aos reclamos por uma política de transformação para a região. Celso Furtado já assinalava no final dos anos cinquenta que o Nordeste, pelo tamanho de sua população, era a região de maior pobreza do hemisfério ocidental. O regime político de 1964 extraiu da política de desenvolvimento formulada por Furtado apenas o aspecto modernizador da economia, sufocando as demandas por regaste da situação social.

A segunda vez

A segunda oportunidade para o Nordeste é um desdobramento do pacto que a sociedade brasileira estabeleceu na constituição promulgada em 1988 de construir um país democrático e promover a cidadania.

Depois da redemocratização, em 1985, somente em 2004 foi iniciado um ciclo virtuoso de crescimento econômico e de inclusão social expressiva e abrangente, quando a conjunção de cenário externo favorável e a adoção de políticas de desenvolvimento econômico e social propiciaram taxas de crescimento robustas, retomada de investimentos em infraestrutura e um dos mais amplos programas de inclusão social já implementados.

Mas um país de duzentos milhões de habitantes, ou mesmo uma região de mais de cinquenta milhões de habitantes, não se constrói em um dia e o cenário externo inverteu para baixo ao final de 2008, seguido por novo período recessivo da economia mundial de meados de 2011 até os dias presentes.
  
Perspectivas

Superadas as dificuldades no cenário externo e a crise de confiança interna, as perspectivas de crescimento sustentado estarão de novo abertas para Brasil e o Nordeste seguirá em seu processo recente de transformação econômica e inclusão social.

A confiança dos investidores internacionais nas perspectivas de longo de longo prazo da economia brasileira é atestada pelos valores expressivos dos Investimentos Diretos Estrangeiros no país, que deverão atingir o montante de US$ 65 bilhões no ano de 2014. 
Estudo recente de Bielschowsky, Squeff  & Vasconcelos& (2014)* identificou três principais vetores que favorecem a realização de investimento na economia brasileira, que estão resumidos no quadro apresentado:



 


Nordeste

Entre os quatro vetores, a ampliação do mercado do consumo de massa e a demanda por infraestrutura social (principalmente ampliação das redes de educação, atendimento à saúde e saneamento) têm sido importantes atrativos de investimentos para a região Nordeste. Mas não devem ser subestimados os investimentos voltados para a exploração da base de recursos agrícolas e minerais, em algumas sub-regiões específicas, desde os cerrados do oeste da Bahia e do sul do Maranhão e Piauí e os perímetros irrigados de Juazeiro-Petrolina, à exploração mineral na Bahia, Sergipe, Rio Grande do Norte e Ceará, entre outros.

Os investimentos na exploração e transformação da cadeia de petróleo e gás, ainda que concentrados na faixa litorânea entre o Espírito Santo e Santa Catarina, também serão realizados em magnitude considerável, notadamente em Sergipe, Rio Grande do Norte, Ceará, Pernambuco e Maranhão. Há ainda um enorme potencial a ser explorado na geração de energia eólica.


De outra parte, o Nordeste conta com diferenciais de custo em relação às regiões mais industrializadas que têm o potencial de atrair investimentos para a região no novo ciclo expansivo, como disponibilidade de força de trabalho, tanto de trabalho de nível básico como, progressivamente, de trabalhos técnicos e tecnológicos, esses últimos nos principais centros urbanos; condições fiscais e creditícias mais vantajosas em tributos federais e estaduais; custo de vida mais baixo.

Todavia, a força mais robusta do desenvolvimento do Nordeste tem sido o intenso processo de inclusão social e produtiva. A injeção de renda na região provocou efeitos de autorreforço no mercado de trabalho e no mercado de consumo, tornando a região atraente para investimentos não apenas na produção de bens e serviços de consumo das famílias, como também de empresas fornecedoras de bens e serviços nas principais cadeias produtivas.

É importante destacar que o crescimento do mercado de consumo de massa transbordou para outras duas categorias de investimentos, a construção residencial e os investimentos na exploração de recursos naturais para atendimento da demanda regional, sejam para a indústria de produtos alimentícios, sejam insumos para a construção, sejam de embalagens e insumos e componentes para o mercado de consumo.

Não se tratou apenas de transferência de renda, mas de um processo que levou ao aumento do emprego formal na economia da região, conferindo a um enorme contingente acesso ao crédito e ao mercado de consumo. Cerca de 1 em cada 5 empregos novos na economia brasileira entre 2003 e 2013 foram gerados no Nordeste. Em termos absolutos, o numero de trabalhadores com vínculo formal saltou de cerca de 5 milhões, em 2003, para quase 9 milhões, em 2013.

*Evolução dos investimentos nas três frentes de expansão da economia brasileira na década de 2000. In  Presente e futuro do desenvolvimento brasileiro / editores: André Bojikian Calixtre, André Martins Biancarelli, Marcos Antonio Macedo Cintra. – Brasília : IPEA, 2014.

Publicado no Jornal da Cidade, em 12/10/2014

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