Ricardo Lacerda
A contar do final da
segunda guerra mundial, o Nordeste se defrontou com duas oportunidades para
realizar transformações de vulto, com potencial de promover uma redução
significativa no hiato de desenvolvimento econômico e social que acumulou em
relação às regiões mais ricas e construir uma sociedade mais equilibrada
socialmente, diminuindo as injustiças abissais com que nos defrontamos todos os
dias.
A primeira oportunidade
foi na segunda metade dos anos cinquenta quando o presidente Juscelino Kubitschek
convocou um grupo de técnicos, Celso Furtado à frente, para dar uma resposta
abrangente aos reclamos por uma política de transformação para a região. Celso
Furtado já assinalava no final dos anos cinquenta que o Nordeste, pelo tamanho
de sua população, era a região de maior pobreza do hemisfério ocidental. O
regime político de 1964 extraiu da política de desenvolvimento formulada por
Furtado apenas o aspecto modernizador da economia, sufocando as demandas por
regaste da situação social.
A
segunda vez
A segunda oportunidade
para o Nordeste é um desdobramento do pacto que a sociedade brasileira
estabeleceu na constituição promulgada em 1988 de construir um país democrático
e promover a cidadania.
Depois da
redemocratização, em 1985, somente em 2004 foi iniciado um ciclo virtuoso de
crescimento econômico e de inclusão social expressiva e abrangente, quando a
conjunção de cenário externo favorável e a adoção de políticas de
desenvolvimento econômico e social propiciaram taxas de crescimento robustas,
retomada de investimentos em infraestrutura e um dos mais amplos programas de
inclusão social já implementados.
Mas um país de duzentos
milhões de habitantes, ou mesmo uma região de mais de cinquenta milhões de
habitantes, não se constrói em um dia e o cenário externo inverteu para baixo ao
final de 2008, seguido por novo período recessivo da economia mundial de meados
de 2011 até os dias presentes.
Perspectivas
Superadas as
dificuldades no cenário externo e a crise de confiança interna, as perspectivas
de crescimento sustentado estarão de novo abertas para Brasil e o Nordeste
seguirá em seu processo recente de transformação econômica e inclusão social.
A confiança dos
investidores internacionais nas perspectivas de longo de longo prazo da
economia brasileira é atestada pelos valores expressivos dos Investimentos
Diretos Estrangeiros no país, que deverão atingir o montante de US$ 65 bilhões
no ano de 2014.
Estudo
recente de Bielschowsky, Squeff &
Vasconcelos& (2014)* identificou três principais vetores que favorecem a
realização de investimento na economia brasileira, que estão resumidos no
quadro apresentado:
Nordeste
Entre os quatro vetores, a ampliação do
mercado do consumo de massa e a demanda por infraestrutura social
(principalmente ampliação das redes de educação, atendimento à saúde e
saneamento) têm sido importantes atrativos de investimentos para a região
Nordeste. Mas não devem ser subestimados os investimentos voltados para a
exploração da base de recursos agrícolas e minerais, em algumas sub-regiões
específicas, desde os cerrados do oeste da Bahia e do sul do Maranhão e Piauí e
os perímetros irrigados de Juazeiro-Petrolina, à exploração mineral na Bahia,
Sergipe, Rio Grande do Norte e Ceará, entre outros.
Os investimentos na exploração e
transformação da cadeia de petróleo e gás, ainda que concentrados na faixa
litorânea entre o Espírito Santo e Santa Catarina, também serão realizados em
magnitude considerável, notadamente em Sergipe, Rio Grande do Norte, Ceará, Pernambuco
e Maranhão. Há ainda um enorme potencial a ser explorado na geração de energia
eólica.
De outra parte, o Nordeste conta com
diferenciais de custo em relação às regiões mais industrializadas que têm o
potencial de atrair investimentos para a região no novo ciclo expansivo, como disponibilidade
de força de trabalho, tanto de trabalho de nível básico como, progressivamente,
de trabalhos técnicos e tecnológicos, esses últimos nos principais centros
urbanos; condições fiscais e creditícias mais vantajosas em tributos federais e
estaduais; custo de vida mais baixo.
Todavia, a força mais robusta do
desenvolvimento do Nordeste tem sido o intenso processo de inclusão social e
produtiva. A injeção de renda na região provocou efeitos de autorreforço no
mercado de trabalho e no mercado de consumo, tornando a região atraente para
investimentos não apenas na produção de bens e serviços de consumo das
famílias, como também de empresas fornecedoras de bens e serviços nas
principais cadeias produtivas.
É importante destacar que o crescimento do
mercado de consumo de massa transbordou para outras duas categorias de
investimentos, a construção residencial e os investimentos na exploração de
recursos naturais para atendimento da demanda regional, sejam para a indústria
de produtos alimentícios, sejam insumos para a construção, sejam de embalagens
e insumos e componentes para o mercado de consumo.
Não se tratou apenas de transferência de
renda, mas de um processo que levou ao aumento do emprego formal na economia da
região, conferindo a um enorme contingente acesso ao crédito e ao mercado de
consumo. Cerca de 1 em cada 5 empregos novos na economia brasileira entre 2003
e 2013 foram gerados no Nordeste. Em termos absolutos, o numero de
trabalhadores com vínculo formal saltou de cerca de 5 milhões, em 2003, para
quase 9 milhões, em 2013.
*Evolução dos
investimentos nas três frentes de expansão da economia brasileira na década de
2000. In Presente
e futuro do desenvolvimento brasileiro / editores: André
Bojikian Calixtre, André Martins Biancarelli, Marcos Antonio Macedo Cintra. –
Brasília : IPEA, 2014.
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