Ricardo Lacerda
O Fundo Monetário Internacional (FMI)
publicou na semana passada o relatório Perspectivas da Economia Mundial, edição
de outubro de 2013.
Apoiados no relatório, os principais jornais
brasileiros estamparam títulos destacando que o FMI revisou para baixo a
projeção do crescimento brasileiro para 2014, ou que Brasil vai crescer abaixo
da média dos países emergentes. Alguns jornais repercutiram as sugestões de que
países emergentes, inclusive o Brasil, deveriam buscar reduzir a dívida bruta
como proporção do PIB, ou o elogio à decisão do Banco Central do Brasil de
iniciar um ciclo de elevação da taxa básica de juros para se contrapor às
pressões inflacionárias.
Tudo que foi noticiado consta da
publicação, mas a leitura do relatório sugere que as informações veiculadas talvez
careçam de uma perspectiva mais consistente com o cenário apresentado pela
publicação e com os dados ali constantes.
Projeções
Examinemos as projeções de crescimento
para 2013 e 2014. A edição de outubro apresenta uma revisão para baixo nas
projeções do crescimento da economia mundial, em relação às expectativas de julho
passado. Para 2013, projeta-se expansão de 2,9%, quando em julho último
esperava-se 3,2%.
As projeções para o conjunto das
economias avançadas não se alteraram desde julho, ou seja, permaneceram muito
ruins, 1,2%, para 2013, e 2,0%, para 2014 (ver Gráfico 1). No chamado G7, grupo
das sete economias mais ricas, nenhum dos países deverá ultrapassar o
crescimento de 2%, em 2013.
IMF. world economic outlook, outubro de 2013.Obs: projeção de
crescimento para 2013 e 2014
Foi a revisão para baixo das
expectativas de crescimento nos países emergentes que provocou a queda na
projeção da expansão do PIB mundial entre julho e outubro, ainda que tais
países continuem se expandindo em ritmo muito superior ao das economias avançadas.
Para 2013, a expectativa é de que o
grupo de países emergentes cresça 4,5%, frente a 5% da projeção apresentada em
julho e, para 2014, apresente crescimento de 5,1%, contra 5,5% projetado
anteriormente. A revisão para baixo abrangeu todos os principais países
emergentes, ainda que tenha sido mais acentuada nos casos do Brasil e da China.
Apesar disso, a conclusão direta,
substantiva, é de que os países emergentes continuam (e deverão continuar nos
próximos anos) puxando para cima a taxa média de crescimento da economia
mundial, mesmo que um pouco menos intensivamente do que anteriormente. Esse é o
ponto central, posto que, até onde a vista alcança, as projeções do FMI se
estendem até 2018, as economias avançadas deverão manter taxas de crescimento
inferiores a 3%, enquanto a média das economias emergentes, acima de 5%.
Países
Dentro do mesmo grupo de países, o
desempenho econômico pode ser bem diferenciado. O Gráfico 2 apresenta as taxas
de crescimento de alguns países selecionados, entre economias avançadas e
economias emergentes, em 2011 e 2012, e as projeções do relatório para 2013 e
2014.
Na Zona do Euro, mesmo que os riscos de
disrupção financeira tenham se atenuado, a situação permanece de prostração da
atividade econômica. Em 2013, a região deverá apresentar nova queda no produto
interno e mesmo voltando a crescer em 2014, a projeção é de expansão de modesto
1%. O incremento da atividade econômica na região deverá ficar abaixo de 2% até
2018. A poderosa Alemanha, segundo as projeções do relatório, não logrará alcançar
em nenhum ano, até 2018, expansão de singelo 1,5%.
A economia norte-americana, com sinais
ainda débeis de recuperação, vai fechar o ano de 2013 com resultado inferior ao
de 2012, o mesmo devendo acontecer com a economia alemã. Espera-se, todavia,
uma recuperação importante nos EUA em 2014. E o Japão, com a tão decantada
Abenomics, que propiciou um ensaio de retomada do crescimento depois de anos de
estagnação, deverá perder dinamismo em 2014.
IMF. world
economic outlook, outubro de 2013. Obs: projeção de crescimento para 2013 e 2014
Entre as
economias emergentes mais importantes, Brasil, Argentina, México e Índia deverão
apresentar em 2013 taxas de crescimento superiores às do ano anterior, com as
particularidades de que a Argentina está em trajetória de desaceleração e o
México e a Índia em retomada. Para o Brasil projeta-se repetir a taxa de
crescimento em 2014, e, em seguida, apresentar uma retomada muito suave no
horizonte da análise.
Em relação a edições anteriores, o que o relatório de outubro traz de novo é a avaliação de que as possibilidades de crescimento dos países ditos emergentes, inclusive o Brasil, se tornaram mais restritas por conta da confluência do fim do ciclo de elevação nos preços das commodities e das condições financeiras mais apertadas no mercado mundial. E que esses novos condicionantes, em alguns casos, estreitaram o potencial de crescimento de longo prazo das economias dos países emergentes. Em outros casos, tais restrições foram potencializadas pelos efeitos da queda do nível de confiança sobre os determinantes da demanda.
Para o
Brasil, o relatório recomenda atenção com a evolução da dívida bruta, elogia o
acompanhamento estreito da política monetária para combater as pressões
inflacionárias e reconhece que a instabilidade causada pelos problemas na
comunicação do banco central americano sobre a interrupção progressiva dos
estímulos monetários, ao fim, serviu de alerta aos países emergentes para as
mudanças futuras no acesso às condições internacionais de crédito e tiveram,
ainda, efeitos benéficos para a competitividade no comércio exterior por conta
da desvalorização de suas moedas.
P.S. Um aspecto importante constante no relatório é que a transição em direção a condições de acesso mais restrito aos fluxos externos gera tensões para os países emergentes que vêm incorrendo em déficits crescentes na conta de transações correntes, ainda que o relatório reconheça que os países desse grupo encontrem-se menos vulneráveis nesse quesito do que em situações anteriores.
P.S. Um aspecto importante constante no relatório é que a transição em direção a condições de acesso mais restrito aos fluxos externos gera tensões para os países emergentes que vêm incorrendo em déficits crescentes na conta de transações correntes, ainda que o relatório reconheça que os países desse grupo encontrem-se menos vulneráveis nesse quesito do que em situações anteriores.
Publicado no Jornal da Cidade, em 13/10/2013
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