Ricardo
Lacerda
A construção do Índice
de Desenvolvimento Humano dos Municípios (IDHM) de 2010 exigiu que a equipe de
técnicos do PNUD
Brasil, IPEA e Fundação João Pinheiro fizesse escolhas metodológicas para definir
os indicadores mais adequados para avaliar as dimensões longevidade, educação e
renda, levando em conta a disponibilidade de informações em escala municipal.
A rigor, não é
possível comparar as dimensões entre si, inferindo que o valor do índice de um
município específico em tal dimensão foi melhor ou pior do que em outra
dimensão, a não ser no sentido relativo de que ficou mais bem posicionado em
relação aos demais munícipios em uma dimensão do que nas outras duas. Mesmo
porque a forma de construir o índice diferiu significativamente entre as
dimensões.
A dimensão renda conta apenas com um indicador, a renda per capita
familiar, assim como a dimensão saúde, a expectativa de vida. Nos dois casos, o
índice resultou da comparação do valor observado nos municípios com valores
mínimos e máximos estabelecidos.
A dimensão educação é
composta por dois subíndices: a escolaridade da população dos municípios,
calculada com base na porcentagem de pessoas de 18 anos ou mais que haviam
completado o ensino fundamental, e o fluxo escolar, esse último sendo utilizado
como uma medida da defasagem média entre a idade dos alunos e a série que estão
cursando. Nesses casos, obviamente, não são arbitrados valores mínimos e
máximos, que variam de 0% a 100%. O que se arbitrou foram os pesos dos
subíndices. Ainda assim, há uma percepção geral de que a educação é a dimensão
mais frágil do desenvolvimento no Brasil.
Dimensões
Considerando as observações feitas acima, apresentam-se a seguir as
evoluções dos índices setoriais do IDHM de Sergipe entre 1991 e 2010.
O IDHM de Sergipe, como já referido no artigo da semana passada, passou
de 0,408, em 1991, para 0,518, em 2000, e alcançou 0,665, em 2010,
caracterizando o estado como sendo de médio desenvolvimento humano, quando em
1991 se situaria como de muito baixo desenvolvimento humano (Ver Tabela).
Tabela. Sergipe. IDHM e seus
componentes. 1991-2000-2010
|
||||
Índices e Subíndices
|
1991
|
2000
|
2010
|
Variação
1991-2010
|
IDHM
|
0,408
|
0,518
|
0,665
|
63,0%
|
IDMH Renda
|
0,552
|
0,596
|
0,672
|
21,7%
|
·
Renda
mensal per capita (R$)
|
247,780
|
326,670
|
523,530
|
111,3%
|
IDHM Longevidade
|
0,581
|
0,678
|
0,781
|
34,4%
|
·
Esperança de vida ao nascer (anos)
|
59,83
|
65,66
|
71,84
|
20,1%
|
IDHM Educação
|
0,211
|
0,343
|
0,560
|
165,4%
|
Subíndice:
Escolaridade da população adulta
|
0,220
|
0,300
|
0,460
|
109,1%
|
·
População
com 18 anos de idade ou mais que concluiu o ensino fundamental (%)
|
22,76
|
29,99
|
46,89
|
106,0%
|
Subíndice: Fluxo escolar da população jovem
|
0,200
|
0,360
|
0,610
|
205,0%
|
·
População
de 5 a 6 anos de idade frequentando a escola (%)
|
45,08
|
79,59
|
94,63
|
109,9%
|
·
População
de 11 a 13 anos frequentando os anos finais do ensino fundamental(%)
|
18,54
|
36,4
|
79,63
|
329,5%
|
·
População
de 15 a 17 anos de idade com ensino fundamental completo (%)
|
10,16
|
18,88
|
40,14
|
295,1%
|
·
População
de 18 a 20 anos de idade com o ensino médio completo (%)
|
7,26
|
11,36
|
30,55
|
320,8%
|
Fonte: Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil 2013. A partir de elaboração
do Observatório de Sergipe. SUPES/SEPLAG
O índice de renda tomou por base a evolução da renda domiciliar per capita, atualizada para valores de agosto de 2010. Esse rendimento teve
incremento de 111,3%, entre 1991 e 2010, fazendo com que o IDHM- renda
alcançasse 0,672, considerado médio, mas já aproximando do estrato de alto
desenvolvimento, cujo limite inferior é 0,700. Os ganhos em longevidade foram
muito significativos, fazendo com que o IDHM- Longevidade alcançasse 0,781, em
2010, quando em 1991 era de 0,581.
IDHM- Educação
Entre as três dimensões consideradas, a educação é, ao mesmo tempo, aquela
que apresentou evolução mais rápida e a que as carências são maiores,
notadamente nos estados da região Nordeste. O gráfico do IDHM-Educação resume a
evolução da dimensão nos estados da região entre 1991 e 2010. As melhorias são
evidentes e significativas.
Atlas de Desenvolvimento Humano no
Brasil 2013
A análise dos subíndices e dos indicadores propicia um melhor
entendimento dos avanços que foram promovidos, tanto no que se refere ao
aumento da escolaridade, quanto na redução da defasagem idade-série, ao tempo
que serve de alerta para a necessidade de elevar a situação escolar da
população de adolescentes. A dimensão da educação é avaliada com base na
escolaridade e no “atraso” das crianças e jovens em relação ás series que
deveriam estar cursando, a chamada defasagem idade-série.
A proporção da população de 18 anos ou mais que concluiu o ensino
fundamental é ainda muito baixa, 48%, cerca de uma em cada duas pessoas nessa
faixa etária. Em 2000, era menos de uma
em cada três pessoas, em 1991, apenas quase uma em cada quatro pessoas possuía
fundamental completo.
Examinando a população de 18 a 25 anos, o índice é significativamente
melhor do que para a ampla faixa de 18 anos ou mais. Cerca de dois em cada três
jovens (64,5%), nessa faixa de 18 a 25 anos, contava com fundamental completo
em 2010, o que mostra que a geração atual de jovens apresenta uma escolaridade
bem acima de gerações anteriores. Em 1991, eram apenas 26,6%. Mesmo com a
melhoria significativa, o indicador mostra o quanto são imprescindíveis os
programas de educação de jovens e adultos. Em relação ao fluxo escolar, os ganhos também
foram muito expressivos, mas a defasagem se encontra ainda em patamar muito
elevado.
A publicação do Atlas de
Desenvolvimento Humano no Brasil 2013 veio confirmar os avanços alcançados nas
últimas duas décadas, nas três dimensões consideradas. Serviu também para
alertar a sociedade sobre as profundas carências na área educacional que a
coloca como o principal desafio no atual estágio de desenvolvimento humano do
país.
Publicado no Jornal da Cidade, 11 de agosto de 2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário