Ricardo
Lacerda
O anúncio na semana passada
do índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA) de janeiro acendeu o sinal de
alerta. O IPCA alcançou 0,86%, acumulando alta de 6,2% em doze meses, o quinto
mês consecutivo de elevação dessa série acumulada.
Há alguns motivos para
preocupação, como reconheceu o presidente do Banco Central. Alguns dos componentes do IPCA têm pressionado
fortemente o índice para cima, antes mesmo de o nível de atividade econômica apresentar
uma retomada mais consistente. O grupo de alimentos e bebidas, que responde por
22,1% do índice, registrou o crescimento assombroso de 11,1%, o mesmo do grupo
de despesas pessoais, que representa 6,5% do total (ver Gráfico).
Estiagem e pressão de demanda
A forte elevação no preço da
alimentação em doze meses foi em grande parte provocada pelos efeitos da
estiagem que atingiu várias regiões e fez com que o preço da farinha da
mandioca tivesse aumentado 111,9%, a batata inglesa, 67,4% e o feijão mulatinho
43,7%. O subgrupo de hortaliças teve
aumento de 24% no período. A desvalorização cambial também impactou o preço dos
alimentos.
É de se esperar que a pressão
de preços do grupo de alimentos vá ser diluída nos próximos meses, porquanto os
aspectos climáticos deverão ser mais favoráveis em 2013.
De natureza diferente é o aumento dos preços no grupo de despesas pessoais, que vem se mantendo em patamar elevado
durante um período muito longo. A elevação dos preços neste grupo que abrange
os serviços pessoais está fortemente relacionada ao aumento real do salário
mínimo e à expansão de demanda associada ao crescimento do poder de compra da
população. Em geral, a um aumento de demanda pelos serviços desse grupo a
oferta demora a responder, podendo pressionar os preços por longos períodos. O
ajuste vem a longo prazo, na medida que parte do hiato é coberto pelo aumento
da oferta e parte é suprimido pela corrosão do poder de compra.
Raio de manobra.
Para alguns analistas, a
elevação nos preços dos serviços, como no caso das despesas pessoais, é um
sintoma do esgotamento do ciclo de crescimento dos últimos anos, puxado pela
expansão do consumo. Também refletiria o baixo potencial de crescimento da economia
brasileira nesse momento, em que qualquer novo estímulo a demanda impacta mais
fortemente os preços do que impulsiona o crescimento da produção.
Se essa conclusão pode
parecer um pouco apressada, refletindo talvez o desejo de certos segmentos que
não vêm se sentindo suficientemente contemplados pela política econômica, há
pouca dúvida de que a reaceleração dos preços reduz a margem para a adoção de
medidas adicionais de estímulos à demanda e talvez venha a obrigar as
autoridades econômicas a buscar uma melhor calibragem entre os vários
instrumentos.
O fato é que o tempo de
respostas de cada uma das várias medidas adotadas desde 2011 para estimular o
crescimento econômico pode diferir muito, com impactos diferenciados sobre os
índices de preço. A pressão de demanda sobre os serviços pessoais, em um
sentido amplo, continua a puxar os preços para cima enquanto a desvalorização
do câmbio impacta de imediato os preços dos importados e somente no médio prazo
traz benefícios em termos de crescimento do nível de produção. Há ainda uma interrogação quanto ao repasse
para os preços das desonerações na folha de pagamento e da
redução nas tarifas de energia elétrica.
Fica a expectativa em aberto
se a média de doze meses do IPCA vai se manter suficientemente comportada até
que o nível de produção comece a se recuperar de forma mais sustentada ou se o
governo vai adotar medidas adicionais de desoneração da produção, agora não
mais para estimular a produção e sim diretamente para reduzir os preços dos
bens e serviços.
Fonte: IBGE
Publicado no Jornal da Cidade em 10/02/2013
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