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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

A política econômica em compasso de espera




Ricardo Lacerda

O anúncio na semana passada do índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA) de janeiro acendeu o sinal de alerta. O IPCA alcançou 0,86%, acumulando alta de 6,2% em doze meses, o quinto mês consecutivo de elevação dessa série acumulada.

Há alguns motivos para preocupação, como reconheceu o presidente do Banco Central.  Alguns dos componentes do IPCA têm pressionado fortemente o índice para cima, antes mesmo de o nível de atividade econômica apresentar uma retomada mais consistente. O grupo de alimentos e bebidas, que responde por 22,1% do índice, registrou o crescimento assombroso de 11,1%, o mesmo do grupo de despesas pessoais, que representa 6,5% do total (ver Gráfico).

Estiagem e pressão de demanda

A forte elevação no preço da alimentação em doze meses foi em grande parte provocada pelos efeitos da estiagem que atingiu várias regiões e fez com que o preço da farinha da mandioca tivesse aumentado 111,9%, a batata inglesa, 67,4% e o feijão mulatinho 43,7%.  O subgrupo de hortaliças teve aumento de 24% no período. A desvalorização cambial também impactou o preço dos alimentos. 

É de se esperar que a pressão de preços do grupo de alimentos vá ser diluída nos próximos meses, porquanto os aspectos climáticos deverão ser mais favoráveis em 2013.

De natureza diferente é o aumento dos preços no grupo de despesas pessoais, que vem se mantendo em patamar elevado durante um período muito longo. A elevação dos preços neste grupo que abrange os serviços pessoais está fortemente relacionada ao aumento real do salário mínimo e à expansão de demanda associada ao crescimento do poder de compra da população. Em geral, a um aumento de demanda pelos serviços desse grupo a oferta demora a responder, podendo pressionar os preços por longos períodos. O ajuste vem a longo prazo, na medida que parte do hiato é coberto pelo aumento da oferta e parte é suprimido pela corrosão do poder de compra.   

Raio de manobra.

Para alguns analistas, a elevação nos preços dos serviços, como no caso das despesas pessoais, é um sintoma do esgotamento do ciclo de crescimento dos últimos anos, puxado pela expansão do consumo. Também refletiria o baixo potencial de crescimento da economia brasileira nesse momento, em que qualquer novo estímulo a demanda impacta mais fortemente os preços do que impulsiona o crescimento da produção.

Se essa conclusão pode parecer um pouco apressada, refletindo talvez o desejo de certos segmentos que não vêm se sentindo suficientemente contemplados pela política econômica, há pouca dúvida de que a reaceleração dos preços reduz a margem para a adoção de medidas adicionais de estímulos à demanda e talvez venha a obrigar as autoridades econômicas a buscar uma melhor calibragem entre os vários instrumentos.

O fato é que o tempo de respostas de cada uma das várias medidas adotadas desde 2011 para estimular o crescimento econômico pode diferir muito, com impactos diferenciados sobre os índices de preço. A pressão de demanda sobre os serviços pessoais, em um sentido amplo, continua a puxar os preços para cima enquanto a desvalorização do câmbio impacta de imediato os preços dos importados e somente no médio prazo traz benefícios em termos de crescimento do nível de produção.  Há ainda uma interrogação quanto ao repasse para os preços das desonerações na folha de pagamento e da redução nas tarifas de energia elétrica.

Fica a expectativa em aberto se a média de doze meses do IPCA vai se manter suficientemente comportada até que o nível de produção comece a se recuperar de forma mais sustentada ou se o governo vai adotar medidas adicionais de desoneração da produção, agora não mais para estimular a produção e sim diretamente para reduzir os preços dos bens e serviços.  


Fonte: IBGE


Publicado no Jornal da Cidade em 10/02/2013

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