Ricardo Lacerda
O primeiro resultado trimestral do PIB da
gestão Joaquim Levy à frente do ministério da fazenda já sinaliza os efeitos da
política de ajuste sobre o nível de atividade. O PIB do 1º trimestre recuou
0,2%.
Muitos podem discordar que a retração do
nível de atividade tenha sido causada pelas medidas de ajustes mas não é fácil
sustentar uma posição como essa. As
medidas de ajuste, que impactaram fortemente o poder de compra da população, jogaram
água no moinho da recessão, ou seja adicionaram novas forças de retração da
demanda em uma economia que já apresentava sinais de anemia desde o segundo
semestre de 2013. Os dados das contas nacionais trimestrais não deixam dúvidas
em relação a isso.
Retração dos dispêndios
Ao longo de toda série das contas
trimestrais, iniciada em 1996, somente em três trimestres coincidiu de que os
três componentes fundamentais do dispêndio interno, por ordem de importância, o
consumo das famílias, o consumo do governo e o investimento (FBCF) tenham
recuado em relação ao trimestre anterior, na série com ajuste sazonal.
A primeira vez em que se verificou tal
coincidência foi no último trimestre de 1998 quando se sabia que a âncora
cambial do plano real não sobreviveria muito além do período da reeleição
presidencial e que o país enfrentaria em pouco tempo uma crise de financiamento
no seu balanço de pagamentos, em um efeito dominó em andamento na economia
mundial. Os três componentes voltaram a recuar no último trimestre de 2008 em
pleno furacão da crise financeira internacional.
No primeiro trimestre de 2015, o consumo das
famílias, que responde por mais de 60% dos gastos do país recuou incríveis 1,5%, o
terceiro maior declínio em toda série histórica, somente inferior aos do 4º
trimestre de 2008 e do 1º trimestre de 1997 (ver Gráfico 1).
Fonte. IBGE. CNT.
Ao lado da queda acentuada nos dispêndios das
famílias, contidos que foram pela restrição ao crédito e pelo piora abrupta no
mercado de trabalho, os gastos do governo também apresentaram forte redução,
caindo 1,3% no trimestre, sempre na série com ajustes sazonais.
Os investimentos também se retraíram 1,3%,
com o agravante de que caíram em relação a uma base de comparação já rebaixada.
Resumo da ópera: as medidas de ajuste fiscais deprimiram fortemente os gastos
das famílias e do governo, como era esperado, e produziram a taxa negativa do
PIB do 1º trimestre.
O setor externo não deu, até o momento, a
contribuição positiva que poderia se esperar como resultado da combinação da
apreciação cambial e do esfriamento da economia. O resultado do setor externo
sobre a taxa de crescimento do PIB foi praticamente neutro no período.
Se há algo a comemorar em relação ao saldo de
exportações de bens e serviços foi que ele deixou de piorar em termos
substantivos, como vinha acontecendo nos trimestres anteriores. Vai ser
necessário esperar mais alguns trimestres para perceber uma reação, que se
espera bem mais forte, no saldo entre exportações e importações de bens e
serviços.
Setores
Em termos setoriais, a grata surpresa foi o
desempenho do setor agropecuário que se recupera dos efeitos da longa estiagem.
No 1º trimestre de 2015, a agropecuária apresentou crescimento de 4,7% em
relação ao trimestre anterior. Trata-se, todavia, apenas do início da retomada
do setor que apresentou trajetória crítica entre os terceiros trimestres de
2013 e 2014 (ver Gráfico 2).
No setor industrial, a indústria extrativa,
com destaque para a exploração de petróleo, vem apresentando resultados
extraordinários, crescimento de 3,3% no trimestre e 10,3% no acumulado de
quatro trimestres. Mas o conjunto da atividade industrial continuou recuando
puxada para baixo pela indústria de transformação. A construção civil, mesmo
tendo apresentado crescimento em dois trimestres sucessivos, continua amargando
forte retração em quatro trimestres (-4%).
Serviços
Menos comum é a queda do PIB nas atividades
de serviços, muito abrangente no período. Recuaram o comércio, as atividades de
transporte e armazenagem, a intermediação financeira, a administração pública e
o amplo segmento de outros serviços. No acumulado de quatro trimestres, foi a
primeira vez que o conjunto das atividades de serviços registrou queda, desde o
início da série em 1996.
Fonte. IBGE. CNT.
Publicado no Jornal da Cidade em 07 de junho de 2015
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