Ricardo Lacerda
Desde
os anos oitenta, a economia agrícola de Sergipe já havia assumido as
características básicas que apresenta atualmente, com a liderança da laranja no
sul e em parcela do centro-sul do estado, cana-de-açúcar e coco na zona
litorânea ao sul e ao norte de Aracaju, e a rizicultura no Baixo São Francisco.
Nas áreas menos úmidas, predominam a mandioca, no agreste, e milho e feijão no
sertão. A pecuária se estendia por quase todo o território, com presença mais
acentuada no sertão e no agreste, tendo a microrregião de Nossa Senhora da
Glória polarizando a produção pecuária leiteira.
Na
verdade, com exceção da laranja, que iniciou sua expansão nos anos sessenta, a
configuração das culturas no território é muito mais antiga. E é exatamente a laranja que diferencia Sergipe da maioria dos estados da região Nordeste, em que as culturas temporárias ocupam áreas muito mais vastas do que as permanentes. Ainda assim,
algumas modificações dignas de nota ocorreram nos anos noventa.
É
importante registrar que o território da citricultura, cujo epicentro é ainda
hoje Boquim, já havia se estendido para um grande número de municípios de
Sergipe e transbordado para a região do nordeste baiano.
Em
termos da distribuição do uso do solo, o censo agropecuário de 1995-96
apresenta os seguintes dados para Sergipe: cerca de 2/3 (68%) das terras
agricultáveis eram ocupadas com pastagens, enquanto as lavouras respondiam por
19%, as matas por 9%, e as terras produtivas não utilizadas representavam 3%
(ver Tabela 1).
Tabela 1. Sergipe. Utilização das
terras. 1995-1996
|
||
Utilização das terras
|
1995-1996
|
|
Há
|
%
|
|
Área total (ha)
|
1.702.628
|
100
|
Lavoura permanente
|
112.727
|
7
|
Lavoura temporária
|
166.130
|
10
|
Lavoura em descanso
|
26.669
|
2
|
Pastagem natural
|
624.514
|
37
|
Pastagens plantadas
|
529.350
|
31
|
Matas naturais
|
155.543
|
9
|
Matas plantadas
|
2.915
|
0
|
Produtivas não utilizadas
|
49.004
|
3
|
Fonte
IBGE – Censo Agropecuário de 1995/1996.
Principais culturas
A distribuição das áreas de lavoura entre as diversas culturas nos anos
noventa está apresentada na Tabela 2. Segundo a Pesquisa Agrícola Municipal
(PAM), do IBGE, em 1990 quatro culturas temporárias, milho, feijão, mandioca e
cana-de-açúcar, e duas culturas permanentes, laranja e coco, ocupavam 88% das
áreas plantadas em Sergipe. Em 2000, essas mesmas culturas respondiam por 90%
da área plantada..
Entre as culturas temporárias, a principal mudança na composição ao
longo dos anos noventa se deveu ao recuo da cana-de-açúcar, prejudicada pela
crise de desabastecimento do etanol nos primeiros anos da década, que levou à
perda da confiança da população em relação aos veículos movidos a álcool.
Somente com o desenvolvimento dos motores bicombustíveis, na década seguinte, a
produção de etanol voltou a se recuperar.
Entre os anos extremos do período 1990 e 2000, a área de plantio da
cultura em Sergipe recuou de 38 mil hectares para 22 mil hectares. As colunas
mais à direita mostram a mudança na composição das áreas pelas culturas
calculando as médias anuais de 1990-1995 e de 1996-2000, para amortecer os
efeitos de um ano ruim atípico.
Nessa comparação, os plantios do milho e mandioca foram ampliados,
enquanto os da cana-de-açúcar e de feijão recuaram. A redução da área de
plantio do algodão confirmou a sua trajetória de desaparecimento.
Em relação ao cultivo do arroz, marca da região do Baixo São Francisco,
a trajetória é de forte retração na área plantada nos anos de 1995 e 1996,
seguida de intensa expansão a partir de 1997, fazendo com que em 2000 a
produção estadual se posicionasse bem acima dos resultados do início da década
(ver Tabela 2).
Permanentes
Entre as principais culturas permanentes, a laranja continuou se
expandindo nos anos noventa, espalhando-se no entorno do município de Boquim,
cuja área plantada, quase que monopolizando as terras do município, pouco cresceu entre 1990 e 2000. A
cultura ocupou rapidamente novas terras mais ao sul, em Itabaianinha,
Cristinápolis, Tomar do Geru, Indiaroba e Santa Luzia do Itanhy, além de conquistar
áreas a leste, em Estância e Umbaúba, e a noroeste, em Lagarto e Riachão do
Dantas .
Entre 1990 e 2000, a área plantada de
laranja se ampliou de 34 mil hectares para 52 mil hectares, agregando novos 18
mil hectares, incremento de 51%. A expansão da cultura no nordeste baiano foi
ainda mais intensa, agregando 22 mil novos hectares, expansão notável de 139%.
Diferente foi o
desempenho da cultura do coco, cuja área de cultivo estagnou no período,
somente voltando a se ampliar em meados da década seguinte. Um aspecto significativo é que a cultura do
coco recuaria nas áreas litorâneas mais adensadas por residências ou de maior
presença de empreendimentos econômicos nos municípios de Itaporanga, Barra dos
Coqueiros e Santo Amaro, enquanto apresentaria uma expansão moderada nos
municípios de Estância e Santa Luzia do Itanhy, além de intenso crescimento em
Japoatã e Neópolis, no Baixo São Francisco, certamente por conta dos projetos
públicos de irrigação ou de assentamentos. No próximo artigo, será examinada a
evolução da pecuária no período.
Tabela 2. Sergipe. Áreas plantadas*
das principais culturas. 1990-2000.
|
||||||||
Itens
|
1990
|
2000
|
Media anual (1990-1995)
|
Media anual (1996-2000)
|
||||
Hectares
|
%
|
Hectares
|
%
|
Hectares
|
%
|
Hectares
|
%
|
|
Total temporárias
|
186.143
|
100
|
213.578
|
100
|
215.982
|
100
|
224.595
|
100
|
Milho
|
49.779
|
27
|
86.300
|
40
|
64.750
|
30
|
86.265
|
38
|
Feijão
|
42.038
|
23
|
54.771
|
26
|
59.302
|
27
|
60.020
|
27
|
Mandioca
|
34.177
|
18
|
30.265
|
14
|
37.198
|
17
|
34.946
|
16
|
Cana-de-açúcar
|
38.104
|
20
|
21.208
|
10
|
30.613
|
14
|
22.619
|
10
|
Arroz
|
6.395
|
3
|
10.030
|
5
|
6.646
|
3
|
7.528
|
3
|
Fumo
|
1.542
|
1
|
3.411
|
2
|
2.642
|
1
|
3.740
|
2
|
Batata-doce
|
1.967
|
1
|
2.884
|
1
|
2.315
|
1
|
3.150
|
1
|
Fava
|
6.831
|
4
|
1.669
|
1
|
5.984
|
3
|
2.409
|
1
|
Amendoim
|
1.117
|
1
|
1.143
|
1
|
1.250
|
1
|
1.200
|
1
|
Melancia
|
130
|
0
|
776
|
0
|
170
|
0
|
582
|
0
|
Abacaxi
|
352
|
0
|
525
|
0
|
409
|
0
|
505
|
0
|
Algodão herbáceo
|
3.324
|
2
|
300
|
0
|
4.262
|
2
|
1.227
|
1
|
Total permanentes
|
91.471
|
100
|
109.058
|
100
|
96.725
|
100
|
105.010
|
100
|
Laranja
|
34.374
|
38
|
51.878
|
48
|
37.504
|
39
|
48.624
|
46
|
Coco-da-baía
|
46.939
|
51
|
45.720
|
42
|
49.266
|
51
|
45.302
|
43
|
Maracujá
|
5.684
|
6
|
4.402
|
4
|
4.983
|
5
|
4.538
|
4
|
Banana
|
2.888
|
3
|
3.809
|
3
|
3.212
|
3
|
3.695
|
4
|
Manga
|
744
|
1
|
1.193
|
1
|
832
|
1
|
1.469
|
1
|
Limão
|
475
|
1
|
1.077
|
1
|
574
|
1
|
737
|
1
|
Tangerina
|
98
|
0
|
417
|
0
|
100
|
0
|
196
|
0
|
Mamão
|
145
|
0
|
357
|
0
|
168
|
0
|
296
|
0
|
Goiaba
|
1
|
0
|
201
|
0
|
1
|
0
|
145
|
0
|
Fonte:
IBGE. Pesquisa Agrícola Municipal. * Nas culturas permanentes, utiliza-se o
conceito de áreas destinadas a
colheitas.
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