Ricardo Lacerda
A modernização da economia sergipana nos anos setenta e oitenta, com a
implantação de novas atividades industriais e a revitalização de tradicionais,
foi acompanhada por uma expansão urbana acelerada. Entre 1970 e 1991, a
população urbana de Sergipe mais do que duplicou, passando de 421.358 para
1.001.940 habitantes. O censo demográfico de 1991 já apontava que dois em cada
três sergipanos (67%) já residiam no meio urbano, quando em 1970 a população
urbana não atingia a metade (46%) do total.
Os anos oitenta, especificamente, marcaram não apenas a
transformação da estrutura industrial do estado, a partir da implantação das
grandes unidades produtivas nos segmentos de petróleo e gás e de
fertilizantes. Caracterizaram também a
formação de uma economia de serviços mais diversificada e a forte ampliação dos
serviços públicos, devidamente acompanhada pela aumento extraordinário no
tamanho da máquina pública.
Estrutura
ocupacional
A comparação entre a estrutura de ocupação de 1980 e a de
1991 é ilustrativa das mudanças econômicas dos anos oitenta. Alertando que os
dados referentes a 1980 se referem à População Economicamente Ativa e os dados de 1991 tratam da População Ocupada,
é possível identificar alguns processos
interessantes.
Enquanto a força de trabalho do setor agropecuário
praticamente estacionou no período, o que a fez perder participação no total,
os contingentes vinculados às atividades industriais e nas atividades de
serviço registraram crescimentos consideráveis.
Não deixa de impressionar o fato de que, em 1980, 43,7%
da força de trabalho sergipana ainda se dedicavam às atividades agropecuárias.
Com a expansão do processo de urbanização, todavia, essa porcentagem caiu para
30,8%, em 1991, um peso ainda considerável, mas agora já inferior ao do setor
terciário.
Nos anos oitenta, as atividades industriais não
apresentaram o mesmo desempenho da
década anterior, quando o seu peso na PEA pulou de 11,4%, para 17,9%, como
vimos em artigo anterior. Entre 1980 e 1991, a sua participação manteve-se no
mesmo patamar, oscilando ligeiramente, de 17,9% para 17,7%, o que significa que
o crescimento da ocupação nessas atividades evoluiu ao ritmo médio do conjunto
da economia, em virtude da própria desaceleração do crescimento econômico que
acompanhou o agravamento dos desequilíbrios macroeconômicos no país.
Serviços
Em velocidade bem superior se expandiram as atividades
do setor de serviços, em todos os ramos considerados (ver Tabela), mas com
especial ímpeto nos serviços prestados pelo governo, distribuídos na tabela
pelos ramos da administração pública e nas atividades sociais, que incluem os serviços públicos
de educação e saúde, além daqueles prestados pelo setor privado e pelas entidades
comunitárias.
Mas é incorreto atribuir a expansão das atividades de
serviços exclusivamente ao crescimento da máquina pública, ainda que o número
de funcionários públicos tenha mais do que duplicado no período.
Os contigentes de pessoas ocupadas nas atividades
comerciais e de prestação de serviços quase que dobraram entre 1980 e 1991,
refletindo a conformação de uma economia urbana mais complexa e diversificada. Cabe
registrar que em 1989 foi inaugurado em Aracaju o Shopping Center Riomar, o
primeiro a ser instalado em Sergipe.
Proliferaram também as ocupações em serviços pessoais e
em serviços auxiliares das atividades econômicas e o ramo de outras atividades
de serviço, que inclui as atividades financeiras, o comércio de imóveis e
outras atividades mal definidas. Além disso, os serviços educacionais em escolas particulares já
iniciavam naquele período uma expansão importante, ainda centrada no ensino
fundamental e médio, posto que o aumento acelerado na oferta do ensino superior
privado somente ocorrerá nas décadas seguintes.
Os anos oitenta, considerados por muitos analistas como
a década perdida do desenvolvimento brasileiro, não podem ser assim
caracterizados em Sergipe e, possivelmente, em alguns outros estados da região
Nordeste. Mais correto é afirmar que marcaram o fim de um ciclo de expansão
econômica iniciado no final dos anos sessenta, em que os estados da região
passaram por uma importante transformação econômica, com a implantação de
empreendimentos em novos setores industriais e com a diversificação das
atividades comerciais e de serviços. A
década de noventa, sim, trará grandes dificuldades para os estados da região.
Tabela. Sergipe.
População Economicamente Ativa (PEA) em 1980 e População Ocupada em 1991
|
||||
Setor e ramo
|
PEA 1980
|
Pop. Ocupada 1991
|
||
Pessoas
|
Part.
|
Pessoas
|
Part.
|
|
Agropecuária
|
149.794
|
43,7%
|
151.506
|
30,8%
|
Atividades
industriais
|
61.325
|
17,9%
|
87.082
|
17,7%
|
·
Transformação
|
26.345
|
37.209
|
||
·
Construção
|
27.181
|
33.652
|
||
·
Outras ativ.
Industriais
|
7.799
|
16.221
|
||
Serviços
|
131.417
|
38,4%
|
252.645
|
51,4%
|
·
Comércio
|
28.530
|
8,3%
|
53.912
|
11,0%
|
·
Prestação de serviços
|
43.650
|
12,7%
|
78.250
|
15,9%
|
·
Transportes e
comunicações
|
14.331
|
4,2%
|
21.276
|
4,3%
|
·
Atividades sociais
|
25.058
|
7,3%
|
51.736
|
10,5%
|
·
Administração Pública *
|
14.177
|
4,1%
|
30.137
|
6,1%
|
·
Outros serviços
|
5.671
|
1,7%
|
17.334
|
3,5%
|
Fonte: IBGE. Censos demográficos de 1980 e 1991. Obs*: Ocupações na administração pública,
excluindo educação e saúde públicas que são contabilizadas em atividades
sociais.
Publicado no Jornal da Cidade 22/09/2013
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