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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

A economia de serviços de Sergipe nos anos oitenta

Ricardo Lacerda

A modernização da economia sergipana nos anos setenta e oitenta, com a implantação de novas atividades industriais e a revitalização de tradicionais, foi acompanhada por uma expansão urbana acelerada. Entre 1970 e 1991, a população urbana de Sergipe mais do que duplicou, passando de 421.358 para 1.001.940 habitantes. O censo demográfico de 1991 já apontava que dois em cada três sergipanos (67%) já residiam no meio urbano, quando em 1970 a população urbana não atingia a metade (46%) do total.

Os anos oitenta, especificamente, marcaram não apenas a transformação da estrutura industrial do estado, a partir da implantação das grandes unidades produtivas nos segmentos de petróleo e gás e de fertilizantes.  Caracterizaram também a formação de uma economia de serviços mais diversificada e a forte ampliação dos serviços públicos, devidamente acompanhada pela aumento extraordinário no tamanho da máquina pública.

Estrutura ocupacional

A comparação entre a estrutura de ocupação de 1980 e a de 1991 é ilustrativa das mudanças econômicas dos anos oitenta. Alertando que os dados referentes a 1980 se referem à População Economicamente Ativa   e os dados de 1991 tratam da População Ocupada,  é possível identificar alguns processos interessantes.

Enquanto a força de trabalho do setor agropecuário praticamente estacionou no período, o que a fez perder participação no total, os contingentes vinculados às atividades industriais e nas atividades de serviço registraram crescimentos consideráveis. 

Não deixa de impressionar o fato de que, em 1980, 43,7% da força de trabalho sergipana ainda se dedicavam às atividades agropecuárias. Com a expansão do processo de urbanização, todavia, essa porcentagem caiu para 30,8%, em 1991, um peso ainda considerável, mas agora já inferior ao do setor terciário.

Nos anos oitenta, as atividades industriais não apresentaram  o mesmo desempenho da década anterior, quando o seu peso na PEA pulou de 11,4%, para 17,9%, como vimos em artigo anterior. Entre 1980 e 1991, a sua participação manteve-se no mesmo patamar, oscilando ligeiramente, de 17,9% para 17,7%, o que significa que o crescimento da ocupação nessas atividades evoluiu ao ritmo médio do conjunto da economia, em virtude da própria desaceleração do crescimento econômico que acompanhou o agravamento dos desequilíbrios macroeconômicos no país.  

Serviços

Em velocidade bem superior se expandiram as atividades do setor de serviços, em todos os ramos considerados (ver Tabela), mas com especial ímpeto nos serviços prestados pelo governo, distribuídos na tabela pelos ramos da administração pública e nas  atividades sociais, que incluem os serviços públicos de educação e saúde, além daqueles prestados pelo setor privado e pelas entidades comunitárias.

Mas é incorreto atribuir a expansão das atividades de serviços exclusivamente ao crescimento da máquina pública, ainda que o número de funcionários públicos tenha mais do que duplicado no período.

Os contigentes de pessoas ocupadas nas atividades comerciais e de prestação de serviços quase que dobraram entre 1980 e 1991, refletindo a conformação de uma economia urbana mais complexa e diversificada. Cabe registrar que em 1989 foi inaugurado em Aracaju o Shopping Center Riomar, o primeiro a ser instalado em Sergipe.

Proliferaram também as ocupações em serviços pessoais e em serviços auxiliares das atividades econômicas e o ramo de outras atividades de serviço, que inclui as atividades financeiras, o comércio de imóveis e outras atividades mal definidas. Além disso, os serviços educacionais em escolas particulares já iniciavam naquele período uma expansão importante, ainda centrada no ensino fundamental e médio, posto que o aumento acelerado na oferta do ensino superior privado somente ocorrerá nas décadas seguintes.

Os anos oitenta, considerados por muitos analistas como a década perdida do desenvolvimento brasileiro, não podem ser assim caracterizados em Sergipe e, possivelmente, em alguns outros estados da região Nordeste. Mais correto é afirmar que marcaram o fim de um ciclo de expansão econômica iniciado no final dos anos sessenta, em que os estados da região passaram por uma importante transformação econômica, com a implantação de empreendimentos em novos setores industriais e com a diversificação das atividades comerciais e de serviços.  A década de noventa, sim, trará grandes dificuldades para os estados da região.

Tabela. Sergipe. População Economicamente Ativa (PEA) em 1980 e População Ocupada em 1991
Setor e ramo
PEA 1980
Pop. Ocupada 1991
Pessoas
Part.
Pessoas
Part.
Agropecuária
149.794
43,7%
151.506
30,8%
Atividades industriais
61.325
17,9%
87.082
17,7%
·         Transformação
26.345
37.209
·         Construção
27.181
33.652
·         Outras ativ. Industriais
7.799
16.221
Serviços
131.417
38,4%
252.645
51,4%
·         Comércio
28.530
8,3%
53.912
11,0%
·         Prestação de serviços
43.650
12,7%
78.250
15,9%
·         Transportes e comunicações
14.331
4,2%
21.276
4,3%
·         Atividades sociais
25.058
7,3%
51.736
10,5%
·         Administração Pública *
14.177
4,1%
30.137
6,1%
·         Outros serviços
5.671
1,7%
17.334
3,5%
Fonte: IBGE. Censos demográficos de 1980 e 1991.  Obs*: Ocupações na administração pública, excluindo educação e saúde públicas que são contabilizadas em atividades sociais.


Publicado no Jornal da Cidade 22/09/2013

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