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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

quinta-feira, 6 de junho de 2024

**Keynes está de volta, para a felicidade geral**

Publicado originalmente em abril de 2021.

 *Ricardo Lacerda*

 

O debate econômico atual no Hemisfério Norte não deixa margem para dúvidas: está em pleno andamento uma importante virada na compreensão do papel do Estado no desenvolvimento econômico e social, sintetizada na seguinte ordem do dia: o keynesianismo está de volta. Após 40 anos de hegemonia sufocante da perspectiva neoliberal, os reiterados fracassos do sistema de mercados crescentemente desregulados em cumprir as promessas de promover crescimento econômico sustentado, estável, inclusivo em termos sociais e expansivo em direção a novas áreas do globo terrestre exauriram suas possibilidades.

 

A agonia do sistema de mercados desregulados começou em 2008, com o estopim da crise financeira que abalou a economia mundial. Todavia, naquele momento, as lideranças políticas dos países ricos e os dirigentes das agências multilaterais de desenvolvimento titubearam em realizar as mudanças necessárias para uma nova etapa de maior regulação da economia mundial, sucumbindo mais uma vez à ideologia neoliberal e aos interesses dos detentores da riqueza financeira. Economistas notáveis, como Joseph Stiglitz e Paul Krugman, ambos premiados com o Nobel, apontavam incansavelmente os fracassos da globalização desregulada em promover crescimento justo socialmente e sustentado econômica e ambientalmente. Contudo, suas vozes minoritárias não ultrapassavam os muros das universidades ou dos movimentos populares mais engajados socialmente.

 

As insatisfações com o sistema neoliberal foram se acumulando com a crescente deterioração do mercado de trabalho nos países centrais, expressa pelo aumento exponencial das relações de trabalho precarizadas, pelo aumento do número de pessoas em situação de pobreza e pelo imenso contingente de moradores de rua nos principais centros urbanos dos países ricos, especialmente no país que simbolizava e liderava ideologicamente a propagação mundial das políticas neoliberais. O debate sobre as crescentes desigualdades de renda entre ricos e pobres, emergido dos trabalhos do economista francês Thomas Piketty, foi essencial para firmar nas mesas acadêmicas e na mente da população a injustiça crescente do sistema de mercados desregulados.

 

Se a crescente insatisfação com a globalização financeira propiciou a emergência de líderes populistas de extrema direita em diversos continentes, tendo o presidente norte-americano Donald Trump como representante maior, esse ciclo político aparentemente começou a se esgotar.

 

**Plano Biden**

 

A manifestação mais consistente e robusta da virada keynesiana foi, sem sombra de dúvidas, o recente pacote de estímulos do presidente dos EUA, Joe Biden, que alcançou a notável soma de dois trilhões de dólares. Antes de sua submissão ao Congresso, o conjunto de medidas sofreu ataques diversos, com destaque para as incisivas manifestações do economista Lawrence Summers, exatamente aquele assessor econômico que fez o então presidente Obama titubear em adotar medidas mais duras de enfrentamento ao poderio do setor financeiro. Dessa vez, todavia, o recém-empossado presidente Joe Biden não se deixou impressionar pela mensagem alarmista do economista de que um pacote tão robusto teria impactos inflacionários desestabilizadores da economia. A secretária do Tesouro americana, a experiente economista Janet Yellen, presidente do Banco Central (FED) na administração Obama, descartou recuar e afirmou sem rodeios que, dessa vez, se o governo tivesse que errar, seria para mais e não para menos, como aconteceu em 2008.

 

Até mesmo lideranças do setor financeiro e de empresas da mídia corporativa, que costumam se alinhar a esse segmento, reconhecem que o alcance das medidas anunciadas pelo governo Biden significa uma virada de grande alcance na política econômica. Não apenas enfrentam os postulados das medidas fiscalistas que colocavam a austeridade fiscal no altar da sacralidade, mas também desenham um conjunto de linhas de ação que reposiciona o papel do Estado no desenvolvimento econômico e social do país. O Plano Biden contempla investimentos de US$ 750 bilhões em infraestrutura produtiva, incluindo estradas, ferrovias e transmissão de energia; US$ 189 bilhões em Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico (P&D); avança em direção ao estímulo a setores industriais considerados estratégicos; e mais US$ 100 bilhões em infraestrutura de internet de banda larga. Aproximando-se da plataforma dos ambientalistas, contempla investimentos em energias renováveis, veículos elétricos e saneamento básico, em uma reviravolta ambiciosa em termos de atuação do governo na área econômica.

 

**Efeito demonstração**

 

O efeito demonstração da iniciativa norte-americana sobre a gestão econômica dos países ricos e mesmo dos países em desenvolvimento, como o nosso, deverá ser avassalador, apesar dos mugidos e do aparente pouco caso de economistas brasileiros vinculados ao mercado financeiro e de seus porta-vozes na mídia corporativa, como retratado entre nós no editorial do jornal Folha de São Paulo de 04 de abril de 2021. O referido editorial, apesar de reconhecer que o megapacote de Biden visa revigorar o capitalismo dos EUA, vaticina que o Brasil não teria a oportunidade de seguir caminho similar.

 

Do ponto de vista brasileiro, a virada keynesiana que se apresenta no Hemisfério Norte abre uma senda de luta interna para se contrapor não apenas ao desmonte do Estado promovido pelas políticas neoliberais, que foi retomado em ritmo acelerado depois do golpe parlamentar de 2016. A possibilidade aberta pela virada na política econômica nos EUA vai além disso: cria condições concretas para a construção de um novo pacto político e social em favor de uma nova etapa de desenvolvimento, com forte conteúdo desenvolvimentista e de inclusão social, em linha com as novas demandas da sociedade e de afirmação do país interna e externamente. Essa afirmação deve contemplar não apenas o desenvolvimento produtivo por meio da capacitação tecnológica, científica e empresarial, como também a construção de uma sociedade mais homogênea e menos desigual, em uma nova perspectiva na relação com os recursos naturais e um aprofundamento interno nas relações democráticas. Sim, Keynes está de volta na política econômica e social e chegará ao Brasil. Sim, retornará para a felicidade geral da nação.

 

*Ricardo Lacerda*

 

*Integrante da ABED - Associação Brasileira de Economistas pela Democracia*

sexta-feira, 29 de julho de 2022

Artigo- Nordeste 1952-2022: acerto com o passado e desafios para o presente e para o futuro


Banco do Nordeste do Brasil: 70 anos de contribuição para o desenvolvimento regional


 CAPÍTULO I

Nordeste 1952-2022: acerto com o passado e desafios para o presente e para o futuro 

Ricardo Oliveira Lacerda de Melo e Cid Olival Feitosa

Introdução

Quando o Banco do Nordeste do Brasil (BNB) foi criado pelo presidente Getúlio Vargas, em 1952, obviamente o Brasil e a Região Nordeste eram muito diferentes do que são atualmente, setenta anos depois. Mas diferentes em quais sentidos? 

Em primeiro lugar, o Nordeste de então nem mesmo correspondia oficialmente ao território regional de hoje; os estados de Sergipe e Bahia integravam a Região Leste, com os estados de Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro e o antigo Distrito Federal, enquanto o Estado de São Paulo fazia parte da Região Sul. A Região Nordeste, portanto, estendia-se do Maranhão a Alagoas, sendo delimitada ao sul pelo rio São Francisco, ainda que muitos dos programas de fomento econômico para a Região contemplassem os estados da Bahia e de Sergipe e alguns deles tivessem como alvo o Polígono das Secas, que abrangia também parcela dos territórios desses dois estados.

Na divisão regional da época, a Região Nordeste contava, em 1950, com 12.494.477 habitantes, correspondentes a 24,1% dos 51.944.397 brasileiros. Na divisão regional atual, a população nordestina, em 1950, alcançava 17.973.413 habitantes, equivalentes a 34,6% da população brasileira. Em termos de ordem de grandeza da população e da ordem dos problemas a serem enfrentados, vale a pena guardar a ideia de que cerca de um em cada quatro brasileiros era integrante da Região Nordeste na divisão regional da época, ou cerca de um a cada três brasileiros na regionalização atualmente vigente. Ainda que a divisão territorial dos anos 1950 seja relevante para a compreensão dos embates em torno das políticas públicas, a partir desse ponto do capítulo, por comodidade de acompanhar as bases estatísticas ou para dimensionar os problemas na extensão territorial e populacional atual, passaremos a apresentar os números com base na divisão regional que se apresenta hoje, a não ser quando outra dimensão territorial for expressamente informada.

Em segundo lugar, as distribuições espaciais da população e das atividades econômicas também eram muito distintas das que vigoram atualmente. O Brasil e o Nordeste no início dos anos cinquenta do século XX eram muito mais rurais do que são atualmente. Dos 17.990.000 residentes no Nordeste contados no censo de 1950, considerando a regionalização atual, residiam nas áreas urbanas 4.744.808 deles, enquanto 13.228.605 eram integrantes da população rural, correspondendo, respectivamente, a 26,4% e 73,6% do total regional. Na comparação com 2010, há uma inversão quase exata dessas proporções, com 73,1% da população residindo em áreas urbanas e 26,9% de população rural. Nos dois registros censitários, 1950 e 2010, a participação da população rural do Nordeste se manteve em cerca de dez pontos percentuais acima da média brasileira, mais precisamente 9,9%, em 1950, e 11,3%, em 2010. No meio rural, o censo demográfico de 1950 constatou que 83,6% da população nordestina de cinco anos ou mais não sabiam ler nem escrever.

Ao longo desses 70 anos emergiu na Região uma rede de cidades médias e formaram-se as áreas metropolitanas no entorno das capitais. Não menos significativas foram a ocupação dos vazios territoriais do sul do Maranhão e do Piauí e do oeste da Bahia, a partir da expansão da pecuária e da moderna agricultura de grãos, e a instalação de perímetros irrigados de elevada produtividade agrícola no Semiárido.

Em terceiro lugar, os circuitos de acumulação de capital no território brasileiro eram relativamente mais segregados espacialmente, destacando-se dois sistemas regionais: o polo econômico e industrial que se fortalecia no Centro-Sul e o Complexo Econômico Nordestino, ainda marcadamente de base agrícola. Nos anos 1950, a Região Nordeste ficava para trás política e economicamente, porquanto se via engolfada pela centralização do poder patrocinada pela Revolução de 1930 e pela nova dimensão que assumira a expansão da acumulação de capital no País, com a ampliação da base empresarial e a instalação de novos setores de atividades, especialmente aqueles dominados por grupos empresariais estrangeiros em mercados oligopolistas.

Uma das reconfigurações econômicas que mais impactou as lideranças nordestinas na época foi a conquista do mercado regional de bens de consumo pelas empresas nacionais ou por filiais estrangeiras sediadas na região hegemônica.

Em quarto lugar, o Brasil e o Nordeste dos anos 1950 enfrentavam desafios e acalentavam projetos e sonhos bem distintos dos atuais; no caso do Nordeste, os sonhos e desafios marcados pela busca de diminuição da miséria rural e de definição de políticas públicas visando a estreitar o hiato de desenvolvimento em relação à região que se industrializava rapidamente no Centro-Sul do País, que almejava, por sua vez, alcançar os padrões de riqueza das nações já industrializadas.

Atualmente, com mais de 70,0% da população residindo nas áreas urbanas, com predomínio das ocupações terciárias, contando com uma rede de cidades mais complexa, economia integrada aos circuitos nacionais de geração de renda e de acumulação e uma estrutura econômica e social mais diversificada territorialmente, são outros os desafios e sonhos que o Nordeste enfrenta. Permanecem os desafios de reduzir o grau de informalidade no mercado de trabalho, ainda muito elevado, e a defasagem persistente de renda per capita em relação às regiões mais ricas. 

São também desafios de grande significado para a Região reduzir a fração da população em situação de pobreza e retirar da miséria o contingente que nela se encontra, presentes no meio rural e nas periferias dos principais centros urbanos.

É sempre importante registrar a dimensão populacional da Região que, em certo sentido, sintetiza o tamanho dos seus problemas e potencialidades: em 2021, o Nordeste contava 57,9 milhões de habitantes, contingente superior a toda a população brasileira de 1950, e, também, superior à população de qualquer outra nação sul-americana.

Os desafios e os problemas, os novos e os que se arrastaram ao longo do tempo, terão que ser enfrentados em um cenário internacional que se apresenta mais complexo e, em certo sentido, menos favorável do que aquele dos anos do pós-guerra: um mundo hiperglobalizado marcado pelo predomínio das novas tecnologias de informação e comunicação e que desde a crise financeira de 2008 apresenta sinais de esgotamento de sua institucionalidade. O que a história do pós-guerra nos ensina é a importância de construir um ambiente institucional favorável ao desenvolvimento econômico e social e que, com esse intuito, é imprescindível a retomada do planejamento no País, em suas várias dimensões e esferas.
 
Para o Nordeste, tem sido especialmente danoso o processo, que já se estende por mais de trinta anos, de desmonte das estruturas de planejamento do País e sua contraparte, a integração marcadamente passiva e destituída de objetivos claros nos circuitos econômicos globais, que, entre outros impactos, provocou a profunda desindustrialização da economia brasileira, com importantes desdobramentos sobre as dinâmicas regionais.


A publicação integral pode ser acessada no link a seguir https://www.bnb.gov.br/s482-dspace/bitstream/123456789/1255/3/2022_LIV_BNB70.pdf







quinta-feira, 26 de maio de 2022

Vídeos das aulas de Economia Regional e Urbana

 





LINK DAS AULAS

- TEORIA DOS LUGARES CENTRAIS

 
- VON THUNEN- ÁREAS DE ABASTECIMENTO
 
- WEBER
 
- ISARD
 
- Industrialização e Desenvolvimento Regional- Parte 1

 
- Industrialização e Desenvolvimento Regional- Parte 2


- O GTDN,  a criação da SUDENE e a política de desenvolvimento regional

https://youtu.be/ALziwSStSpE

O GTDN , A Política de Desenvolvimento Regional e a Nova Indústria do Nordeste
Desenvolvimento regional brasileiro nos anos 1970 E 1980


Desenvolvimento Econômico do Nordeste no início do seculo XXI





quarta-feira, 25 de maio de 2022

Vídeos das Aulas do Curso de desenvolvimento econômico

 



1-  A Retomada da abordagem clássica do excedente

https://youtu.be/9lwhGBenXVI

2- Celso Furtado- Formação de capital e desenvolvimento econômico

https://youtu.be/Hfw7DhjNuNc

3- Arthur Lewis- Desenvolvimento com oferta ilimitada de mão de obra

https://youtu.be/wg2OlCv3haA

4- Rostow- As etapas do desenvolvimento econômico

https://youtu.be/Rr6s4XBMM5M

5- Myrdal- Teoria econômica e regiões subdesenvolvidas

https://youtu.be/4kDiN5mamu8 

6- Krugman- O Papel da geografia no desenvolvimento econômico

Parte 1

https://youtu.be/VOzNKJr_hh0

Parte 2

https://youtu.be/1OpTafls_hg

6- Hirschman- A estratégia do desenvolvimento econômico

https://youtu.be/NoyjpKq-v-U


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sexta-feira, 29 de abril de 2022

Artigo- Sergipe no Século XXI: Expansão, Crise e Reposicionamento da Estratégia de Desenvolvimento Econômico

Ricardo Oliveira Lacerda de Melo

Resumo

O objetivo do artigo é examinar as principais transformações estruturais e o desempenho da economia sergipana ao longo das duas primeiras décadas do século XXI, buscando captar os impactos sobre a economia estadual do ciclo expansivo da economia brasileira, que perdurou, grosso modo, entre 2004 e 2014, e os efeitos do período recessivo que o sucedeu, a partir de 2015. O artigo examina setorialmente as principais transformações da economia estadual no período. A dinâmica de crescimento da economia sergipana está associada, à semelhança da maioria dos estados da federação, mas com algumas especificidades, ao movimento geral da economia brasileira, acompanhando em linhas gerais os períodos de prosperidade e de recessão. Um segundo conjunto de determinantes relaciona-se à exploração de suas riquezas minerais, especificamente petróleo, fertilizantes e calcário. Um terceiro conjunto de determinantes está associado ao desempenho do setor agrícola, em grande parte derivado da combinação de preços favoráveis, disponibilidade de crédito e regime de chuvas. A esse respeito, é importante destacar que o semiárido sergipano vem enfrentando um longo período de estiagem, à semelhança do que vem ocorrendo em quase toda extensão do polígono da seca, cujo início remete ao ano de 2011, mesmo que de forma intermitente. O comportamento pluviométrico é ainda fundamental na atividade de geração de energia hidroelétrica, que responde por parcela significativa do PIB estadual. Durante a etapa ascendente do ciclo econômico brasileiro, a economia de Sergipe acelerou o crescimento e diversificou sua estrutura produtiva. Quando o ciclo de expansão da economia nacional se exauriu, a economia sergipana entrou em queda livre, entre 2015 e 2016, e manteve-se estagnada nos anos de 2017 e 2018. Por conta das especificidades de sua estrutura produtiva, a economia de Sergipe foi mais impactada do que a média nacional: a construção civil e a produção de cimento despencaram e a Petrobras desmobilizou ativos e reduziu intensamente a produção de petróleo e gás e de fertilizantes. Com os ventos adversos, a recessão não tardou em contaminar o mercado de trabalho e as finanças públicas. Em termos de perspectivas, o principal projeto estruturador da economia estadual é a implantação do seu Complexo Industrial-Portuário, tendo como indústrias-chave a Usina Termoelétrica Porto de Sergipe e a Unidade de Regaseificação de Gás Natural. Também se afigura muito promissora a exploração de petróleo e gás natural em águas profundas, apontada como a mais importante fronteira de exploração da produção petrolífera no país, depois do pré-sal. Diferentemente de ciclos anteriores de crescimento, as perspectivas de retomada dependerão menos do sistema Petrobras e mais de investimentos de empresas transnacionais da cadeia de petróleo e gás. 

Revista Conjuntura Econômica do BNB-  Edição Especial 15 Anos (2019)

Para baixar o artigo, clicar no link abaixo

https://g20mais20.bnb.gov.br/documents/45799/1057811/Sergipe+no+S%C3%A9culo+XXI+Expans%C3%A3o%2C+Crise+e+Reposicionamento+da+Estrat%C3%A9gia+de+Desenvolvimento+Econ%C3%B4mico.pdf/96847048-9289-bdcd-7a77-ce7d580d4cbb?t=1648743922087&download=true

Artigo- Indústria e desenvolvimento em Sergipe (2009)


Ricardo Oliveira Lacerda de Melo, Josué Modesto dos Passos Subrinho, Cid Olival Feitosa

Resumo 

Este artigo tem os seguintes objetivos: analisar a origem e o desenvolvimento da indústria em Sergipe, desde a formação do complexo econômico sergipano, no século XIX, até as perspectivas de retomada dos investimentos industriais nos últimos dois anos; articular as mudanças na dinâmica do setor industrial sergipano com as transformações da economia nacional e do lugar de Sergipe nas economias do Brasil e do Nordeste; analisar a evolução do setor industrial sergipano nos marcos do complexo primário exportador do século XIX, o desenvolvimento industrial do século XX, desde o deslocamento do centro dinâmico em direção às atividades voltadas para o mercado interno na década de 1930, passando pelo surgimento da Nova Indústria Nordestina incentivada pela SUDENE, nos anos 1960 e 1970 e, ainda no século XX, refletir sobre o impulso do setor industrial sergipano com a implantação dos investimentos do II PND maturados nos anos 1980. Constata que nos anos 1990, a abertura comercial e a reestruturação industrial põem por terra o principal projeto estruturador do estado de Sergipe, o pólo cloroquímico. Conclui que nos anos mais recentes, já no século XXI, o setor industrial voltou a conhecer uma certa dinâmica de crescimento, embalado pelos empreendimentos incentivados pelo Programa Sergipano de Desenvolvimento Industrial (PSDI).

REN. Volume 40 | Nº 02 | Abril - Junho | 2009

Para baixar o artigo, clicar no link abaixo

https://www.bnb.gov.br/revista/index.php/ren/article/view/355/304


sábado, 24 de abril de 2021

O plano dos EUA para retomarem a liderança industrial

 Ricardo Lacerda*

Uma das definições centrais do governo Biden é o entendimento de que é imperativo para os EUA retomarem a liderança dos investimentos nos setores estratégicos, aqueles de elevados conteúdos tecnológicos e que deverão nortear a expansão da economia mundial nas próximas décadas. Dois segmentos de atividades receberam atenção especial no American Job Plan, o plano de desenvolvimento econômico e social para os próximos oito anos: a produção de veículos elétricos, atividade em que o país teria acumulado defasagem significativa em relação à indústria chinesa; e, aquilo que o documento chama de tecnologias críticas para competitividade futura e para a segurança nacional, abrangendo as novas tecnologias de inteligência artificial, a biotecnologia e a computação, mais especificamente a produção de semicondutores e as tecnologias de comunicação avançada (5G e 6G) que constituirão as estradas futuras do tráfego de informações em todo mundo.

Made in América

O American Job Plan almeja não apenas que os EUA liderem o desenvolvimento dessas novas tecnologias como entende ser necessário manufaturar no território norte americano, ou no máximo em países que são tradicionais parceiros da aliança ocidental, aqueles bens que formam os elos essenciais das cadeias de suprimento dessas atividades.

A atenção dada no plano para a fabricação interna, o recorrente apelo para o Made in America, assume papel central na estratégia de desenvolvimento e significa uma importante virada na compreensão sobre o papel crucial da indústria manufatureira, tanto para impulsionar o crescimento econômico de longo prazo, quanto para gerar internamente os empregos de qualidade que foram perdidos com a migração da atividade manufatureira para o leste asiático, desde os anos noventa do século passado.

Retomada do Estado de Bem-Estar Social

Está explícito no American Job Plan o objetivo de retomar, ainda que em versão atualizada, a economia do bem-estar social dos trinta anos gloriosos (1945-1975), que foi desmontada ao longo das décadas de globalização desregulada e da hegemonia da ideologia neoliberal. Disseminou-se em amplos setores da sociedade norte americana a percepção de que a economia neoliberal fracassou rotundamente em promover crescimento econômico relativamente estável, sustentável em termos ambientais e inclusivo em termos sociais. Pelo contrário, de forma célere, as desigualdades de renda se ampliaram nos anos de hegemonia neoliberal e os mecanismos de solidariedade social foram fragilizados.

A versão contemporânea do estado de bem social é apresentada como o Green New Deal, um novo contrato social em que as questões ambientais assumem papel central, mas que é herdeira inequívoca dos programas sociais da era Roosevelt (New Deal) -Eisenhower e da Great Society, de Lyndon Johnson.

Perda da liderança industrial

Desde os anos noventa do século passado, a China vem ganhando participação em ritmo acelerado na produção mundial da indústria manufatureira. Segundo estimativa da UNIDO- Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial, a participação da China no valor adicionado da indústria manufatureira saltou de 4%, em 1990, para 31,7%, em 2020, enquanto a indústria manufatureira dos EUA viu sua participação se retrair no período de 21,8% para 16% (Ver Gráfico).

A perda de participação norte americana na produção mundial de manufaturas, em processo similar ao que se verificou nas maiores economias ocidentais, não decorreu tão somente do crescimento mais acelerado do PIB da China e de outros países do leste asiático. Refletiu também a perda da participação da indústria manufatureira na própria economia norte americana, recuando, segundo estimativa da OCDE, de 16,7% do valor adicionado, em 1997, para 11,3%, em 2019. Ou seja, nos trinta e dois anos que separam 1997 e 2019, a indústria manufatureira norte americana perdeu cerca de 1/3 de sua participação na riqueza nacional.

 

                                    Fonte: UNIDO- Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial

 

O incentivo à retomada da produção interna da indústria manufatureira é componente fundamental na estratégia do Governo Biden para construir o novo estado de bem-estar social. O ponto central parece ser refazer os vínculos, que foram debilitados nos anos de hegemonia de economia desregulada, entre crescimento da produtividade econômica, geração de bons empregos, aumento da arrecadação tributária e ampliação do estado de bem-estar social. O desafio se situa em compatibilizar tais objetivos com o papel disruptivo das novas tecnologias de informação e comunicação.

A aposta parece estar em mais e não em menos regulamentação das relações de trabalho e na organização da produção por parte do estado. Os anos de supremacia das finanças em relação à produção parecem ter ensinado que a atividade industrial importa e que ela cumpre papel central na articulação entre o incremento da produtividade, geração de bons empregos e fortalecimento do estado de bem-estar.

 

Professor do programa de mestrado de economia da UFS e integrante da ABED- Associação Brasileira de Economistas pela Democracia

sábado, 17 de abril de 2021

Lições do plano de retomada do crescimento do Governo Biden

Ricardo Lacerda

 

Os analistas econômicos ao redor do mundo acompanham com enormes expectativas os desdobramentos do plano de investimentos de longo prazo submetido pelo governo do presidente Biden ao congresso dos EUA. Intitulado American Job Plan, caso aprovado integralmente pelo parlamento daquele país, vai adicionar em oito anos cerca de US$ 2,3 trilhões em investimentos de caráter estruturante ao já aprovado pacote emergencial de US$ 1,9 bilhões, o American Rescue Plan. As expectativas do mundo em relação ao plano proposto decorrem em parte da magnitude dos recursos envolvidos, mas sua importância é ainda maior por conta da mudança de rota a que se propõe em termos da concepção da atuação que o estado deve ter na economia e da centralidade que a questão ambiental assume, particularmente da mitigação dos efeitos das mudanças climáticas, na estratégia de desenvolvimento que foi elaborada.

O American Job Plan é apresentado como sendo uma oportunidade de reimaginar e reconstruir uma nova economia, em que o investimento público retomaria parcialmente o espaço perdido enquanto parcela do PIB, desde o apogeu da era keynesiana de bem-estar social nos anos sessenta do século passado. O plano se fundamenta na constatação de que a economia norte americana, a maior do mundo, vê sua liderança ameaçada por décadas de desinvestimentos em infraestrutura econômica, em estradas, saneamento, energia e telecomunicações, ao tempo que perdeu a capacidade de gerar internamente bons empregos, ou seja, empregos de qualidade com remunerações compatíveis e direitos assegurados. O vínculo explícito entre a retomada do poderio industrial (enfraquecido nas últimas décadas), a expansão dos investimentos nos setores estratégicos, em que a questão da mudança climática aparece como desafio e oportunidade, e a geração de emprego de qualidade é uma das bases de sustentação do plano de desenvolvimento.

Competição com a China

A sombra da perda de competitividade em relação à China percorre o diagnóstico American Job Plan do início ao fim. Está expressa, entre outras passagens, quando o documento constata que a economia norte americana vem perdendo posições em relação às principais economias concorrentes em dimensões tão cruciais quanto Pesquisa & Desenvolvimento (P&D), manufatura e recursos humanos. Ver a versão integral do plano em https://www.whitehouse.gov/briefing-room/statements-releases/2021/03/31/fact-sheet-the-american-jobs-plan/.

A mudança de rota de desenvolvimento presente na proposta assume importância especial quando o documento reconhece explicitamente que as forças de mercado (de oferta e demanda) não têm se mostrado capazes de fazer o redirecionamento dos investimentos para que a economia norte americana recupere o atraso em relação aos principais países concorrentes.

Falha de mercado e o investimento público

Em entrevista postada em podcast de 09 de abril do colunista Ezra Klein, do jornal New York Times, o principal conselheiro econômico do presidente Biden, Brian Deese,  elenca razões práticas para defender a liderança dos investimentos públicos como ferramenta necessária para retomar a competitividade da economia dos EUA. Sua argumentação se assemelha às abordagens de falhas de mercado, especificamente do problema da coordenação dos investimentos. Brian Deese argumenta em determinada passagem da entrevista que o setor privado não tem, por si só, como alavancar os investimentos necessários para instalar uma rede ampla de estações de recarga de veículos elétricos nas rodovias do país. Neste, e em outros casos, o investimento público teria que partir na frente para sinalizar e, assim, debloquear as oportunidades para o setor privado. De forma similar, os investimentos públicos são imprescindíveis para reduzir a vulnerabilidade e a dependência de importações de semicondutores e em outros segmentos estratégicos para retomada do poderio industrial.

Na entrevista, o principal conselheiro econômico de Joe Biden deixa clara a necessidade de ser pragmático e, assim, se libertar das amarras ideológicas vinculadas à suposta supremacia das economias de livre mercado.  Em determinada passagem ele reconhece que a economia chinesa, que não opera com base no livre mercado, vem enfrentando os desafios em diversos dos segmentos mais importantes da atividade econômica com maior competência do que os EUA: está liderando a construção de trens de alta velocidade, enquanto os EUA ainda estão patinando nessa área;   está aumentando os investimentos em P&D em setores estratégicos como parcela do PIB; e, finalmente, a China vem planejando meticulosamente esses investimentos há mais de uma década, enquanto os EUA viram sua infraestrutura se deteriorar progressiva e perigosamente.

Ecossistema produtivo e inovativo

Deese conclui, em linha com as abordagens econômicas mais pragmáticas (e heterodoxas), que o fundamental é fazer o máximo possível em termos de fortalecer um ecossistema de inovação nos setores estratégicos, tarefa que não pode ser deixada ao encargo da iniciativa privada, sempre destacando a complementaridade entre os investimentos públicos e os investimentos ao encargo das empresas, na perspectiva de que é necessário o governo fazer o investimento inicial estratégico e lançar os alicerces dessa transformação para desbloquear o potencial do capital privado. O áudio e a transcrição da entrevista estão acessíveis em https://www.nytimes.com/2021/04/09/opinion/ezra-klein-podcast-brian-deese.html.

O mais importante na proposição do American Job Plan para nós brasileiros são as implicações que a sua implantação deverá ter em termos de concepção do papel dos investimentos públicos e da centralidade das questões ambientais nas políticas de desenvolvimento mundo afora. Para além das especificidades dos problemas nacionais, caso o plano não seja bloqueado ou esvaziado pela oposição, ele significará uma mudança de grande magnitude nas estratégias de desenvolvimento. Diante da falta de perspectivas que vive o Brasil nos dias de hoje, sem dúvida, o seu êxito traria um grande alento, um sopro de esperança de que dias melhores virão. 

 




*Ricardo Lacerda

Professor do programa de mestrado de economia da UFS. Assessor Econômico da Secretaria Geral de Governo de Sergipe e integrante da ABED- Associação Brasileira de Economistas pela Democracia

 


 

 

 


domingo, 11 de abril de 2021

Keynes está de volta, para a felicidade geral

 Ricardo Lacerda

 O debate econômico atual no Hemisfério Norte não deixa margem à dúvida, está em pleno andamento uma importante virada sobre a compreensão do papel do estado no desenvolvimento econômico e social que poderia ser sintetizada na seguinte ordem do dia: o keynesianismo está de volta. Depois de 40 anos de hegemonia sufocante da perspectiva neoliberal, os fracassos reiterados do sistema de mercados crescentemente desregulados em entregar as promessas de promover crescimento econômico sustentado, estável, inclusivo em termos socais e expansivo em direção a novas áreas do globo terrestre exauriram as suas possibilidades.

A agonia do sistema de mercados desregulados se iniciou ainda em 2008 com o espocar da crise financeira em que naufragou a economia mundial. Todavia, naquele momento, as lideranças políticas dos países ricos e os dirigentes das agências multilaterais de desenvolvimento titubearam em realizar as mudanças necessárias em direção a uma nova etapa de maior regulação da economia mundial e sucumbiram mais uma vez à ideologia neoliberal e aos interesses dos detentores da riqueza financeira. Economistas notáveis como Joseph Stiglitz e Paul Krugman, ambos premiados pelo Prêmio Nobel, que apontavam incansavelmente os fracassos da globalização desregulada em promover crescimento justo socialmente e sustentado econômica e ambientalmente, eram vozes minoritárias e suas mensagens não ultrapassavam os muros das universidades ou dos limites dos movimentos populares mais engajados socialmente.

As insatisfações com o sistema neoliberal foram se acumulando com a deterioração crescente do mercado de trabalho nos países centrais, que se expressava no incremento exponencial das relações de trabalho precarizadas, no crescimento do número de pessoas imersas na situação de pobreza e no imenso contingente de pessoas residindo nas ruas que se formou nos principais centros urbanos dos países ricos, muito especialmente naquele país que simbolizava e liderava ideologicamente a propagação mundial das políticas neoliberais. O debate sobre as crescentes desigualdades de renda entre ricos e pobres, que emergiu a partir dos trabalhos do economista francês Thomas Piketty, foram essenciais para assentar nas mesas acadêmicas e na mente da população a injustiça crescente do sistema de mercados desregulados.

Se a insatisfação crescente com a globalização financeira propiciou a emergência de líderes populistas de extrema direita nos diversos continentes, tendo o presidente norte americano Donald Trump como representante maior, esse ciclo político, aparentemente, começou a se esgotar.

Plano Biden

A manifestação mais consistente e robusta da virada keynesiana foi, sem sombra de dúvidas, o recente pacote de estímulos do presidente Joe Biden, dos EUA, que alcançou a notável soma de dois trilhões de dólares já aprovados pelo congresso para ações emergenciais e mais US$ 2,25 trilhões, em oito anos, voltados para mudanças estruturais. Antes de sua submissão ao congresso o conjunto de medidas emergenciais sofreu ataques diversos, com destaque para as manifestações incisivas do economista Lawrence Summers, exatamente aquele assessor econômico que fez o então presidente Obama titubear em adotar medidas mais duras de enfrentamento ao poderio do setor financeiro. Dessa vez, todavia, o presidente recém-empossado, Joe Biden, não se deixou impressionar pela mensagem alarmista do economista de que um pacote tão robusto teria impactos inflacionários desestabilizadores da economia. A secretária do tesouro americano, a experimentada economista Janet Yellen, presidente do Banco Central (Federal Reserve) na administração Obama, descartou recuar e afirmou sem rodeios que, dessa vez, se o governo tivesse que errar seria para mais e não para menos, como aconteceu em 2008.

O novo pacote voltado para o longo prazo contempla investimentos de US$ 750 bilhões em infraestrutura produtiva em estradas, ferrovias e transmissão de energia, US$ 189 bilhões em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) tecnológico, avança em direção ao estímulo a setores industriais considerados estratégicos e mais US$ 100 bilhões em infraestrutura de internet de banda larga. Aproximando-se da plataforma dos ambientalistas, contempla investimentos em energias renováveis, veículos elétricos e saneamento básico em uma revirada ambiciosa em termos de atuação do governo na área econômica. Como até mesmo lideranças do setor financeiro e de empresas da mídia corporativa que costumam se alinhar a esse segmento reconhecem,  as novas medidas anunciadas pela administração Biden significam uma virada de grande alcance na política econômica, não apenas porque enfrentam os postulados das medidas fiscalistas que colocavam a austeridade fiscal no altar da sacralidade, como desenham um conjunto de linhas de ação que reposiciona o papel do estado no desenvolvimento econômico e social do país.  

Efeito demonstração

Não haverá como evitar os impactos políticos do efeito demonstração da iniciativa norte americana sobre a orientação política econômica dos países ricos e mesmo dos países em desenvolvimento como o nosso, apesar dos mugidos e do aparente pouco caso de economistas brasileiros vinculados ao mercado financeiro e de seus porta vozes na mídia corporativa, como retratado entre nós no editorial do jornal Folha de São Paulo, de 04 de abril de 2021. O referido editorial, apesar de reconhecer que o Megapacote de Biden visa revigorar o capitalismo dos EUA, em seguida vaticina que o Brasil não teria a oportunidade de seguir caminho similar.

Do ponto de vista brasileiro, a virada keynesiana que se apresenta no Hemisfério Norte abre uma senda de luta interna para se contrapor não apenas ao desmonte do estado promovido pelas políticas neoliberais que foi retomado em ritmo acelerado depois do golpe parlamentar de 2016.  A possibilidade aberta pela virada na política econômica nos EUA vai além disso, cria condições concretas para a construção de um novo pacto político e social em favor de uma nova etapa de desenvolvimento de forte conteúdo desenvolvimentista e de inclusão social, em linha com as novas demandas da sociedade, de afirmação do país interna e externamente. Essa afirmação deve contemplar não apenas o desenvolvimento produtivo, por meio da capacitação tecnológica, científica e empresarial, como a construção de uma sociedade mais homogênea, menos desigual, em uma nova perspectiva na relação com os recursos naturais e um aprofundamento interno nas relações democráticas. Sim, Keynes está de volta na política econômica e social e chegará ao Brasil. Sim, retornará para a felicidade geral da nação..







Artigo publicado no Jornal da Cidade, de Aracaju, em 11/04/2021


terça-feira, 23 de março de 2021

A importância do Curso de Economia para o estado de Sergipe

Ricardo Lacerda

O curso de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Sergipe não tem rival no que se refere à sua contribuição para o desenvolvimento institucional, econômico e social de Sergipe. A Faculdade de Ciências Econômicas, fundada em 1948, inaugurou o ensino superior em nosso estado no ano de 1950, juntamente com o curso de química. Em 1961, reuniu-se às também isoladas Escola de Química, Faculdade de Direito, Faculdade Católica de Filosofia, Escola de Serviço Social e Faculdade de Ciências Médicas para pleitear a criação da Universidade Federal de Sergipe, o que veio a se concretizar em 15 de maio de 1968.

A construção da cidade Universitária, no município de São Cristóvão, teve por liderança o professor José Aloisio de Campos, reitor entre 1976-1980, que posteriormente veio dar nome ao campus. O economista José Aloísio de Campos foi, desde os anos 1960, a principal liderança intelectual de Sergipe nos debates travados em favor da industrialização do estado e da exploração das nossas riquezas minerais. Presidiu o histórico Conselho de Desenvolvimento Econômico de Sergipe (CONDESE), que cumpriu papel decisivo na elaboração e execução das políticas voltadas para o desenvolvimento das chamadas indústria de base de Sergipe nos anos 1970 e 1980.

Nesse momento da história, o curso de economia da Universidade Federal de Sergipe foi peça determinante na formação de recursos humanos e no amadurecimento das reflexões sobre as questões mais relevantes para o desenvolvimento do estado de Sergipe, em suas diversas dimensões.

 

A fundação da UFS coincidiu com outras grandes transformações de nosso estado: a exploração intensiva das riquezas minerais, com a produção de petróleo e gás natural pela Petrobras e com a instalação de unidades de produção de amônia e ureia e de produção de potássio, que viriam impactar profundamente a estrutura ocupacional e de renda e acelerar o ritmo de crescimento econômico; o intenso processo de urbanização e a modernização da máquina administrativa pública; o florescimento de Aracaju como uma cidade moderna, com oferta diversificada de bens e serviços. Em todas essas dimensões, os economistas formados pela UFS tiveram participações decisivas.

 

Esse conjunto de transformações correspondia ao movimento intenso de modernização do Brasil, com baixa inclusão social, cujas referências centrais foram os períodos de intenso crescimento do Milagre Econômico e dos Planos Nacionais de Desenvolvimento, nos anos sessenta e setenta, em um regime político fechado.

Três professores honraram o departamento de economia em suas passagens pela reitoria da Universidade Federal de Sergipe. Além de José Aloísio de Campos, os professores Gilson Cajueiro de Holanda (1980-1984) e Josué Modesto dos Passos Subrinho, esse último por dois mandatos conferidos em eleições diretas pela comunidade universitária (2004-2008 e 2008-2012). O professor Gilson Cajueiro de Holanda, com larga experiência administrativa, foi fundamental para a conclusão dos investimentos no recém inaugurado campus universitário, nesse momento de consolidação do ensino superior no Brasil e em Sergipe

O sistema universitário público somente voltou a apresentar um novo ciclo de expansão de grande magnitude nos anos 2000, agora já em plena vigência do regime democrático, quando a melhoria nas finanças e a decisão de ampliar a rede federal viabilizaram os recursos necessários. A redemocratização inseriu definitivamente na agenda do Brasil a preocupação com o progresso social da população brasileira que não poderia mais ser aparteado da perspectiva do desenvolvimento econômico.

Foi nessas circunstâncias que a gestão do Prof. Josué Modesto dos Passos Subrinho (2004-2012) empreendeu um novo grande salto da Universidade Federal de Sergipe, com o estabelecimento, pela primeira vez, de um sistema robusto de pesquisa e de pós-graduação, e de uma grade de cursos de graduação muito ampla, contemplando as mais importantes áreas de conhecimento e de formação profissional, fundamentais para o presente e para o futuro de Sergipe.

 

Ao longo desse período, o departamento de economia também passou por importantes mudanças. Inicialmente contou com um corpo docente composto por técnicos do governo do estado dedicados em tempo parcial ao curso de economia e, como era típico da época, em boa parte com formação em cursos de pós-graduação lato sensu promovidos pela Comissão Econômica para América Latina e Caribe (CEPAL). Com a expansão do sistema de pós-graduação brasileiro, a partir do final dos anos setenta, o departamento de economia passou a assumir uma feição propriamente acadêmica nos anos oitenta, com a chegada de professores formados em cursos de pós-graduação stricto sensu. É o início de um processo que mesclou a chegada de docentes de fora do estado com a participação do(a)s melhores aluno(a)s egresso(a)s do curso local e que buscaram qualificação em alguns dos mais renomados centros de pós-graduação de economia do Brasil.

O enfoque do curso também tem passado por importantes mudanças, em consonância com o que vem ocorrendo na disciplina. Com o rápido avanço dos métodos quantitativos nas chamadas ciências econômicas, potencializado pelos efeitos da radical transformação das tecnologias de informação sobre os métodos estatísticos e econométricos, o curso de economia da UFS mais recentemente buscou conjugar uma formação teórica sólida e plural, abrangendo os principais paradigmas das chamadas ciências econômicas, com o instrumental técnico propiciado pelas novas tecnologias. Faz isso sem se afastar do seu compromisso fundamental, que vem norteando suas ações desde sua longínqua criação em 1948, o compromisso com o desenvolvimento econômico e social de Sergipe.

Publicado no Jornal da Cidade, em 21/03/2021

segunda-feira, 1 de março de 2021

Vídeo das Aulas do Curso de Economia Regional e Urbana no You Tube





LINK DAS AULAS

- TEORIA DOS LUGARES CENTRAIS

 
- VON THUNEN- ÁREAS DE ABASTECIMENTO
 
- WEBER
 
- ISARD
 
- Industrialização e Desenvolvimento Regional- Parte 1

 
- Industrialização e Desenvolvimento Regional- Parte 2


- O GTDN,  a criação da SUDENE e a política de desenvolvimento regional

https://youtu.be/ALziwSStSpE

O GTDN , A Política de Desenvolvimento Regional e a Nova Indústria do Nordeste
Desenvolvimento regional brasileiro nos anos 1970 E 1980


Desenvolvimento Econômico do Nordeste no início do seculo XXI