Praça São Francisco, São Cristovão- SE

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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

A geração de emprego em 2013

Ricardo Lacerda

Resistindo a três anos de crescimento econômico modesto, na esteira do segundo mergulho da economia mundial na crise financeira, os números do mercado de trabalho brasileiro em 2013 mantêm-se surpreendentemente bons.

Até o mês de outubro foram gerados 1.464.457 novos empregos formais na economia brasileiras. Nos doze meses entre novembro de 2012 e outubro de 2013, o saldo de emprego formal gerado foi de 1.036.889, equivalentes a uma taxa de crescimento de 2,59%. É razoável projetar que ao final do ano o crescimento do emprego se firme nesse patamar de um milhão de empregos.

A taxa de desocupação de outubro nas seis regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE foi de apenas 5,2%, a menor para aquele mês na série histórica iniciada em 2002. Com a exceção da Região Metropolitana de Salvador, em que a taxa de desocupação é de 9,2%, nas demais áreas pesquisadas (as regiões metropolitanas de Recife, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre) os resultados mostram uma situação de mercado de trabalho que se aproxima do pleno emprego (ver Gráfico1).

É verdade, também, que o numero de pessoas ocupadas nas regiões metropolitanas pesquisadas vem crescendo a taxas menores em 2013, o que não vem impedindo a queda na desocupação porque a evolução no número de pessoas ocupadas continua crescendo em ritmo superior ao da População Economicamente Ativa (PEA), com a notória exceção da região metropolitana de Salvador. O outro lado da moeda é que a PEA cresce em velocidade inferior ao da população em idade de trabalhar, a chamada a População em Idade Ativa (PIA), o que significa que tem aumentado a proporção de pessoas de dez anos ou mais em situação de desalento em relação às oportunidades do mercado de trabalho.

Outro aspecto importante fornecido pela pesquisa do emprego nas regiões metropolitanas é de que o rendimento médio habitual das pessoas ocupadas continua crescendo, ainda que a taxas um pouco menores do que em anos anteriores.

As informações, em conjunto, apontam para um mercado de trabalho ainda robusto, com taxa de desocupação reduzida, com capacidade de geração de emprego formal em velocidade superior ao aumento da oferta de mão de obra e com os rendimentos crescendo, mas é fato também que todos esses indicadores melhoram em ritmo mais lento do que em anos anteriores.

Gráfico 1: Taxa de desocupação nas Áreas Metropolitanas em outubro de 2013. (%)


Fonte: IBGE/PME


Sergipe

Em Sergipe, foram criados 4.993 empregos formais em outubro de 2013, o melhor resultado do mês na série 2003-2013 (ver Gráfico 2). Foi também o melhor mês do ano de 2013 no que tange a geração de emprego formal. O emprego de outubro em Sergipe foi puxado pela contratação nos setores de agropecuária e da indústria química (etanol), com o início da safra da cana-de-açúcar. A retomada do emprego no complexo sucroalcoleiro tem um grande significado para Sergipe, depois de dois anos em que tais atividades pouco contrataram, por conta dos efeitos da estiagem.

Entre janeiro e outubro do corrente ano, foram criados em Sergipe 11.753 postos formais de trabalho, um resultado ainda robusto. Nos últimos doze meses encerrados em outubro, o saldo de novos empregos formais alcançou 9.363, equivalentes a uma taxa de crescimento do emprego de 3,24%, acima da taxa média da região Nordeste (2,34%) e dos 2,59% do Brasil.

Nesse período, lideraram a contratação em Sergipe o subsetor de serviços técnicos (3.859), impulsionado pela implantação do call center no bairro industrial, atividade muito intensiva em mão-de-obra, o comércio (2.562), um grupo que inclui hotelaria, alimentação e reparação, com 2.174 novos empregos, e a área de saúde, com 1.635.

A construção civil voltou a contratar ao longo de 2013, depois de um corte massivo no final de 2012. Entre janeiro e outubro criou 1.464 novas vagas, mas ainda não repôs a integralidade do contingente cortado ao final do ano passado. Outro fato muito positivo é que a indústria têxtil tem contratado em 2013, situação bem diferente do ano passado. Entre janeiro e outubro de 2013, a atividade têxtil já abriu 442 novas vagas, e fechou os últimos doze meses com incremento de 393 postos de trabalho adicionais.


Gráfico 2. Saldo de emprego formal em outubro em Sergipe. 2003 a 2013.

Fonte: MTE-Caged.




Publicado no Jornal da Cidade em 24/11/2013 


segunda-feira, 18 de novembro de 2013

As favelas da Grande Aracaju. Parte 2


  
Ricardo Lacerda

A publicação do relatório Censo Demográfico 2010- Aglomerados Subnormais- Informações Territoriais, do IBGE, disponibilizou um grande número de informações desagregadas por município sobre a ocupação do espaço nesse tipo de aglomeração urbana carente de serviços e de infraestrutura em que moram 11,4 milhões de brasileiros. Em Sergipe, o censo demográfico de 2010 apontou a existência de 98 setores censitários, com 23.225 domicílios situados em aglomerações subnormais, em que residiam 82.208 pessoas, todos situados nos municípios da Região Metropolitana de Aracaju.

Localização predominante

A publicação apresenta dados detalhados das características da ocupação do solo nessas aglomerações. Na ampla maioria das favelas da Grande Aracaju predomina terrenos planos. Dos noventa e oitos setores censitários assim caracterizados, apenas em doze predominam aclives moderados e em apenas um predominavam aclives acentuados.
                              
Quando se observa a localização predominante e não apenas a condição topográfica, o resultado é o que segue: dez aglomerados subnormais formaram-se em áreas de predominância de córregos, rios ou lagoas, treze em predominância de manguezais, um em encosta e nove em colinas suaves; as demais sessenta e cinco, por diferença, foram caracterizadas como áreas predominantemente planas.

Em oitenta e cinco por cento dos setores censitários classificados como aglomerados subnormais na Grande Aracaju mais de 40% dos lotes apresentam tamanho e forma irregulares.

Em relação à circulação interna, em nove desses noventa e oito setores censitários predominam becos e travessas como principal via de circulação, em um predomina trilhas e em quatro não existem vias de circulação interna. Diferentemente do que se costuma ver nas imagens das favelas de grande densidade populacional do Rio de Janeiro, em nenhuma das favelas sergipanas predomina domicílio de mais de um pavimento.

Indicadores sociais

Os indicadores de renda, emprego, escolaridade e acesso a bens da população que reside nos aglomerados subnormais da Grande Aracaju, a exemplo do que se verifica no conjunto do país, são bens inferiores aos apresentados pela população residente nas demais áreas.

Uma das principais desvantagens dessa população é no campo educacional. A proporção de pessoas que nunca frequentaram escola ou creche nos aglomerados subnormais de Aracaju é de 11,6 %, quando a média do município é de 7%.

Nos aglomerado subnormais da capital, quase 60% da população de dez anos ou mais de idade não possui fundamental completo, frente a 35,2% das outras áreas de Aracaju (ver Tabela 1). Nas favelas de Nossa senhora do Socorro, a porcentagem dos residentes nas favelas com dez anos de idade ou mais que não têm fundamental completo é de 72%, cerca de sete em cada dez pessoas. É uma situação muito grave, mesmo considerando que o corte da faixa etária em dez anos para ensino fundamental completo não é adequado.

No outro extremo da situação de escolaridade, nas áreas de urbanização mais estruturada de Aracaju 15,7% da população de dez anos ou mais completaram o ensino superior, frente a 1,1% da população residente nos aglomerados subnormais (ver Tabela 1).

Tabela 1. Aracaju e Nossa Senhora do Socorro. Pessoas de 10 anos ou mais de idade, por nível de instrução e tipo do setor. 2010. (%)
Municípios
Escolaridade
Total
Aglomerados subnormais
Outras áreas
Aracaju
Total
100
100
100
Sem instrução e fundamental incompleto
37,7
58,8
35,2
Fundamental completo e médio incompleto
15,7
19,0
15,3
Médio completo e superior incompleto
31,9
19,6
33,4
Superior completo
14,2
1,5
15,7
Não determinado
0,5
1,1
0,4
Nossa Senhora do Socorro
Total
100
100
100
Sem instrução e fundamental incompleto
55,3
71,7
53,4
Fundamental completo e médio incompleto
19,0
16,0
19,3
Médio completo e superior incompleto
23,5
11,2
       25,0
Superior completo
1,7
0,3
1,9
Não determinado
0,5
0,8
0,4
Fonte: IBGE. Censo Demográfico 2010- Aglomerados Subnormais- Informações Territoriais, 2013.


Rendimento e mobilidade

As menores oportunidades educacionais e a origem mais humilde das famílias se refletem nos níveis de rendimento auferidos. Quase três em cada cinco pessoas de dez anos ou mais ocupadas que residem nas aglomerações subnormais têm rendimento de até um salário mínimo e quase nove em cada dez não alcançam dois salários mínimos, quando nas demais áreas de Aracaju, um pouco mais de uma pessoa em cada três aufere até um salário mínimo e quase duas em cada três recebe até dois salários mínimos.

Em termos de mobilidade urbana, o tempo de deslocamento da população residente nos aglomerados subnormais é bem mais longo. Entre as pessoas residentes nas favelas de Aracaju, cerca da metade (51%) demora mais de 30 minutos para se deslocar para o trabalho ou outro local, quando nas demais áreas da capital 26% se enquadram nessa situação (isso em 2010, de lá para cá o tempo médio deve ter aumentado substancialmente).

O tempo de deslocamento de quem reside em Nossa Senhora do Socorro é significativamente maior: cerca setenta por cento (69%) dos residentes em aglomerados subnormais situados naquele município demoram mais de trinta minutos para chegar ao trabalho, sendo que 27% levam mais de uma hora para chegar ao seu destino diário. Nas demais áreas do município, 58% levam mais de meia hora, e 19% mais de uma hora, em 2010.
        
Acesso a bens

Finalmente, em relação ao acesso aos bens a Tabela 2 resume o resultado. A forte geração de emprego recente e o acesso ao crédito têm permitido uma importante ampliação de acesso a bens duráveis de consumo nos domicílios situados em aglomerados subnormais, ainda que em proporção significativamente inferior às demais áreas dos municípios de Aracaju e de Nossa Senhora do Socorro.  

O acesso à televisão e a geladeira já está quase universalizado nos domicílios situados aglomerados subnormais (dados de 2010), mas a posse de máquina de lavar roupa, o computador e a internet ainda é muito restrita. Uma curiosidade, em Aracaju a motocicleta se encontra relativamente mais presente nos aglomerados subnormais do que nas demais áreas da cidade (ver Tabela 2). 

Tabela. Aracaju e Nossa Senhora do Socorro. Domicílios com acesso a bens por tipo do setor. 2010 (%)
Município
Item
Total
Aglomerados subnormais
Outras áreas
Aracaju
Rádio
79,6
73,3
80,4
Televisão
98,2
95,9
98,5
Máquina de lavar roupa
47,6
23,8
50,4
Geladeira
97,3
94,4
97,6
Microcomputador
48,0
18,5
51,4
Microcomputador - com acesso à internet
40,3
11,9
43,6
Motocicleta para uso particular
14,4
16,5
14,1
Automóvel para uso particular
40,7
14,1
43,9
Nossa Senhora do Socorro
Rádio
74,1
65,7
75,2
Televisão
97,0
94,0
97,3
Máquina de lavar roupa
24,1
15,5
25,2
Geladeira
96,4
92,9
96,9
Microcomputador
21,9
7,9
23,7
Microcomputador - com acesso à internet
13,1
3,8
14,3
Motocicleta para uso particular
15,4
13,4
15,7
Automóvel para uso particular
19,8
9,0
21,2
Fonte: IBGE. Censo Demográfico 2010- Aglomerados Subnormais- Informações Territoriais, 2013.


Publicado no Jornal da Cidade em 17/11/2013