Praça São Francisco, São Cristovão- SE

Praça São Francisco, São Cristovão- SE
Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

segunda-feira, 27 de maio de 2013

A economia de serviços de Sergipe em 1970


Ricardo Lacerda

A urbanização se expandiu velozmente em Sergipe nos anos sessenta e setenta. Em 1960, a população de Aracaju era de 115.716 habitantes. A cidade possuía apenas 24.059 domicílios. Nenhum outro município sergipano contava com uma população superior a cinquenta mil pessoas; o que mais se aproximava desse contingente era Lagarto, com 47 mil habitantes.

A vida rural ainda predominava em Sergipe. Em 1960, em cada grupo de cem habitantes, sessenta e um residiam no meio rural e apenas trinta e nove nos centros urbanos, quando no censo demográfico de 2010, de cada grupo de cem pessoas, setenta e quatro residiam na cidade e trinta e seis no meio rural. O fato de ser mais rural do que hoje implicava também que a população era mais dispersa no território.

Na área que corresponde a atual região metropolitana, São Cristóvão contava, em 1960, com vinte mil habitantes, Nossa Senhora do Socorro, com apenas sete mil e setecentos, em sua grande maioria residindo no meio rural, e a Barra dos Coqueiros, com modestos quatro mil e quatrocentos habitantes.
Aracaju respondia por apenas 15% da população estadual e o conjunto das cidades da atual Grande Aracaju, 19% do total.  Em 1970, Aracaju, com 186.838 mil habitantes, em 35.316 domicílios, já respondia por 21% da população sergipana. Em 1980, com população de 299.422 pessoas, respondia por 26% do total do estado e o número de domicílios saltou para 59.003.
Depois de 1980, o crescimento demográfico da capital desacelerou, enquanto a área metropolitana passou a se expandir rapidamente. No censo de 2010, Aracaju representava 27% da população estadual, quase a mesma participação de 1980, e o aglomerado da Grande Aracaju havia saltado para 40%.
Em linhas gerais, é possível afirmar que os anos setenta conformam o início do período da grande transformação urbana de Aracaju que depois será consolidado nas décadas de oitenta e noventa com a metropolização da capital, a partir do crescimento intenso dos municípios de Nossa Senhora do Socorro e São Cristóvão. 

Ocupação

A expansão urbana no período foi acompanhada por importantes transformações econômicas, sociais e culturais, em que o processo de crescimento industrial e o aumento da presença do estado na economia, inclusive com a estruturação do serviço público, são dois dos fatores mais decisivos. De forma crescente, a economia, a política e a sociabilidade se tornaram marcadamente urbanas.

Uma maneira de perceber essas transformações é comparar a estrutura de ocupação de 1970 e a de 1980. O censo demográfico de 1970 aponta que 3 em cada 5 integrantes da População Economicamente Ativa (PEA) de Sergipe estavam vinculados às atividades agropecuárias, o que equivale dizer que as outras duas pessoas se dedicavam às atividades tipicamente urbanas, na indústria e no setor de serviços (Ver Tabela).


 O crescimento econômico acelerado proporcionado pela industrialização nos anos setenta gerou um excedente econômico que permitiu a uma parcela significativa da População Economicamente Ativa se deslocar para as atividades de serviços, em uma diversidade de novas ocupações. Em 1980, cinquenta e seis de cada cem integrantes da PEA estavam vinculados à indústria e aos serviços. A PEA das atividades industriais mais do que dobrou entre 1970 e 1980, passando de 30 mil para 61 mil pessoas.


São as ocupações vinculadas às atividades de Prestação de Serviço que mais se expandem nos anos setenta, abrangendo os serviços pessoais, os serviços domésticos e os de reparação. As atividades sociais, em grande parte, desenvolvidas por instituições públicas, incluindo previdência, saúde e educação, também cresceram muito no período. O comércio, transporte e comunicação e as demais atividades vinculadas à administração pública que não educação, saúde e previdência também conhecem expressivas expansão e diversificação.  
Os chamados profissionais liberais, considerando apenas aqueles não vinculados ao setor público, entre advogados, dentistas e médicos (os não vinculados a hospitais) e contadores, não chegavam a quinhentos, em 1970. Os carroceiros, por outro lado, passavam de mil.

Em 1980, o quantitativo de pessoas nos então denominados serviços técnico-profissionais já se aproximava de dois mil. O numero de bacharéis profissionais liberais havia mais do que multiplicado por quatro ao longo dos anos setenta e o serviços de arquitetura e engenharia e o de publicidade começam a ser estruturados.

Ao final dos anos setenta, o perfil ocupacional de Sergipe havia assumido uma feição essencialmente urbana. Os grupos econômicos urbanos ganham espaço frente às atividades rurais e os próprios embates políticos passam a ser marcadamente urbanos.

Tabela. Sergipe. População Economicamente Ativa (PEA) em 1970 e 1980.
Setor e ramo
1970
1980
1970 a 1980
PEA
Participação (%)
PEA
Participação  (%)
Taxa de Crescimento
Agropecuária
161.815
60,9
149.794
43,7
-7
Atividades industriais
30.336
11,4
61.325
17,9
102
·         Extrativa
2.353

5.002

·         Transformação
14.107

26.345

·         Construção
12.925

27.181

·         SIUP
951

2.797

Serviços
73.427
27,6
131.417
38,4
79
·         Comércio
15.131
5,7
28.530
8,3
89
·         Prestação de serviços
22.884
8,6
43.650
12,7
91
·         Transportes e comunicações
8.018
3,0
14.331
4,2
79
·         Atividades sociais
10.319
3,9
25.058
7,3
143
·         Administração Pública *
8.957
3,4
14.177
4,1
58
·         Outras atividades
8.118
3,1
5.671
1,7
-30
Fonte: IBGE. Censos demográficos de 1970 e 1980. Obs*: Ocupações na administração pública, excluindo educação e saúde públicas que são contabilizadas em atividades sociais.

Publicado no Jornal da Cidade, 26/05/2013

domingo, 19 de maio de 2013

A indústria de Sergipe em 1970



Ricardo Lacerda


Partindo de uma base produtiva muito estreita, a indústria sergipana apresentou notável crescimento ao longo dos anos setenta. O PIB industrial cresceu a taxas médias de 13,5% ao ano. Ao final da década, a indústria sergipana, considerando as atividades de extração mineral e a indústria de transformação, era 3,6 vezes maior do que no seu início, apresentando uma velocidade de expansão muito acima da média da região Nordeste, que também vinha crescendo de forma acelerada.

A taxa média de crescimento da indústria nordestina na década alcançou 9,1% ao ano. Apesar de elevada, foi bem inferior a alcançada pela indústria de Sergipe, de tal forma que em 1980 o PIB industrial nordestino era 2,4 vezes o do início da década, segundo os dados do Departamento de Contas Regionais da SUDENE. 

Duas foram as forças que aceleram o crescimento industrial de Sergipe nos anos setenta. De um lado, a produção de petróleo, iniciada nos anos sessenta, continuou se expandindo ao longo de toda a década, de modo que em 1980 atingia 2,7 milhões de m3, 54% acima da produção de 1970. Em 1980, a produção de petróleo de Sergipe era a segunda maior do Brasil, atrás apenas da produção da Bahia, representando 25,3% da produção nacional dessa primeira etapa da exploração de petróleo no país, anterior às grandes descobertas em águas profundas na bacia de Campos, no Rio de Janeiro.

A segunda fonte de crescimento foi a expansão dos investimentos na indústria de transformação estimulados pela política de incentivos fiscais da SUDENE que propiciou a modernização de antigas unidades industriais, sobretudo no setor têxtil, e a implantação de novas plantas industriais, tanto nos segmentos tradicionais da indústria sergipana como em novos setores. Como esses fatores, em conjunto, não parecem explicar aquelas taxas tão elevadas medidas pela SUDENE, é possível que parte desse crescimento decorra do efeito da elevação dos preços do petróleo na década, impulsionados pelos dois choques internacionais. 

Indústria de Transformação

Na verdade, nos anos setenta, o crescimento da indústria sergipana teve que recuperar as perdas da década anterior em que a indústria têxtil foi fortemente afetada pelo avanço da produção da região Sudeste e Sul sobre o mercado regional, até então relativamente cativo da produção local, causando fechamento de unidades e desemprego. Enquanto o Censo Industrial de 1960 registrou 39 fábricas têxteis que ocupavam 5.973 pessoas (dados de 31 de dezembro de 1959), o Censo Industrial de 1970 vai encontrar 22 fábricas que empregavam 3.652 pessoas.

A crise da indústria têxtil nordestina nesse período, muito intensa em Sergipe, fez com que aquela que era a mais importante atividade industrial do estado visse sua participação no Valor da Transformação Industrial recuar de 40%, em 1960, para 29,1%, em 1970.

Nos anos setenta, o setor têxtil sergipano voltou a se expandir, de tal forma que em 1980 o número de fábricas instaladas aumentou para 41 unidades e o pessoal ocupado para 4.367.


As principais novidades na indústria de transformação advieram da instalação de um grande número de fábricas de confecções (vestuário, calçados e artefatos de tecidos), algumas de porte razoável, que passaram a responder por 7,7% do Valor da Transformação Industrial em 1980, quando em 1970 representavam apenas 0,6%. A diversificação caminhou também direção à produção metalúrgica, mecânica e ao gênero de indústrias diversas (ver Tabela).

Essa diversificação, ainda que relativamente restrita, reduziu a participação dos três gêneros mais importantes da indústria sergipana (produtos alimentares, têxtil e produtos minerais não metálicos) de 89% do Valor da Transformação Industrial de 1970, para 67% em 1980.


Tabela. Sergipe. Participação dos Gêneros Industriais no Valor da Transformação Industrial em 1970 e 1980 (%)
Discriminação
1970
(%)
1980
(%)
Variação da participação
(%)
1. INDÚSTRIA EXTRATIVA
1,5
0,6
-0,9
2. INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO
98,5
99,4
0,9
       - Têxtil
29,1
29,3
0,2
       - Produtos Alimentares
40,2
24,2
-16
       - Minerais Não Metálicos
18,4
13,4
-5
       - Diversos
0,2
8,3
8,1
       - Vestuário/Calçados/ Artef. Tecidos
0,6
7,7
7,1
       - Metalurgia
0,9
3,9
3
       - Mecânica
x
2,1
x
       - Bebidas
0,7
1,6
0,9
       - Editorial e Gráfica
1,9
1,4
-0,5
       - Madeira
1,7
1,2
-0,5
       - Fumo
x
1,1
x
       - Mobiliário
1,5
0,9
-0,6
       - Química
0,8
0,9
0,1
       - Materiais Plásticos

0,9
0,9
       - Couros/Peles/Similares
0,3
0,7
0,4
       - Extração de Minerais
1,5
0,6
-0,9
       - Papel e Papelão
x
0,5
x
       - Borracha
x
0,5
x
       - Material de Transporte
1,2
0,4
-0,8
       - Perfumaria/Sabão/Velas
1
0,3
-0,7
       - Produtos Farmacêuticos/Medicinais
x
x
 x
       - Material Elétrico/Comunicação
-
x
 x
TOTAL
100
100

Fonte: IBGE. Censos Industriais de 1960 e 1970.

Nos anos setenta, já se iniciava toda uma movimentação, liderada pelo economista Aloísio de Campos, para exploração dos sais de potássio recém descobertos pela Petrobras. Em evento realizado em abril de 1972, o economista já levantava a bandeira da exploração do potencial mineral de Sergipe por meio da criação de um pólo petroquímico a partir da exploração de gás natural. Em um período em que, em âmbito nacional, estavam sendo definidos os futuros pólos petroquímicos do país, Sergipe lutava para receber uma parte dos novos projetos estratégicos estabelecidos nos Planos Nacionais de Desenvolvimento. Marchas e contramarchas, todavia, adiaram para a década seguinte os  investimentos que viriam a estruturar uma nova base industrial no estado,  a partir da implantação da Unidade de Produção de Gás Natural.

Publicado no Jornal da Cidade, 19/05/2013