Praça São Francisco, São Cristovão- SE

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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

segunda-feira, 28 de maio de 2012

O Nordeste e a Crise

Ricardo Lacerda

Os mecanismos pelos quais os estímulos (e os desestímulos) à demanda agregada operam sobre o nível de atividade econômica das regiões nunca foram suficientemente investigados. A redução do IPI na aquisição de veículos, por exemplo, certamente tem impactos maiores sobre o nível de atividade nos estados que sediam as montadoras do que nos demais, ainda que não se saiba exatamente como se distribuem espacialmente os efeitos diretos e indiretos da medida.

No primeiro momento, perdem os estados mais pobres, com a redução de aporte de recursos para o FPE e FPM (fundos de participação dos estados e dos municípios, respectivamente), os maiores beneficiários dos fundos, enquanto os mais ricos não apenas deixam de ter o vazamento de renda com o recolhimento do tributo, como têm uma resposta mais imediata em termos de geração de emprego, recuperação do comércio e na arrecadação de ICMS.

Mas os efeitos não se limitam aos impactos mais diretos. A recuperação do nível de atividade da indústria automobilística pode ajudar a reverter o marasmo econômico atual e afastar os riscos da estagnação, e termina, por uma multiplicidade de canais, repercutindo positivamente no nível de atividade dos estados mais pobres, ainda que menos do que proporcionalmente.

Oscilações no câmbio, na taxa de juros, no volume de crédito, nos gastos públicos, aumentos reais no salário mínimo etc repercutem de formas distintas entre as regiões, mesmo considerando que o grau de integração produtiva e comercial entre elas e os mecanismos de transferências de renda funcionem como contrapeso, e venham assegurando taxas de crescimento relativamente próximas entre os estados da federação.

Nordeste

Desde o inicio do ciclo expansivo, em 2004, as regiões mais pobres vêm apresentando taxas de crescimento mais elevadas do que as alcançadas nos estados mais industrializados. Gastos federais em infraestrutura, elevação real do salário mínimo, expansão do crédito, bancarização da população e diversas modalidades de transferência de rendas foram alguns dos mecanismos que incidiram mais intensamente no Norte, Nordeste do que nas regiões Sul e Sudeste. O crescimento do Centro-Oeste é ainda estimulado pela valorização das commodities no mercado internacional.

Quando em 2008 a crise financeira internacional impactou fortemente o nível de atividade interna, a resposta do governo brasileiro centrada no estímulo ao mercado de consumo novamente favoreceu as economias das regiões mais pobres, mas isso não significou que o setor produtivo delas não tenha sido afetado.

domingo, 20 de maio de 2012

O consumo e a queda na produção industrial


Ricardo Lacerda

Analistas têm repetido que o modelo de crescimento puxado pelo consumo, marca do governo Lula, teria se exaurido e que o governo Dilma somente engrenaria novo ciclo de altas taxas de crescimento se a economia passar a ser movida por incrementos de produtividade que elevassem a competitividade da produção doméstica, notadamente no setor industrial. Não estou tão seguro quanto a esse esgotamento do ‘modelo de crescimento”. Não acredito mesmo que existam evidências que autorizem tal tipo de conclusão. Além disso, esse argumento já foi utilizado anteriormente e se mostrou equivocado.

De fato, a ampliação do poder de compra das famílias, por meio de aumentos reais de salário mínimo, das transferências de renda e da ampliação do crédito, pôs em movimento, ainda em 2004, um ciclo expansivo que se realimentava na medida em que o emprego e o poder de compra se ampliavam. É a combinação do aumento do poder e compra das famílias com os preços favoráveis das commodities brasileiras no mercado internacional que deram partida ao ciclo de crescimento.

Quando a quebra do Lehman Brothers, em setembro de 2008, prenuciou o fim dos tempos, o governo brasileiro dobrou a aposta na ampliação do mercado de consumo, promovendo a redução de tributos incidentes sobre os bens duráveis, mantendo os aumentos reais de salário e irrigando os canais de crédito, o que permitiu uma recuperação rápida e exemplar da atividade econômica ainda em 2009.

Desaceleração

O que sustou a continuidade do ciclo expansivo em meados de 2011, portanto já no governo Dilma, não foi nenhum esgotamento do potencial de crescimento puxado pela expansão do consumo e sim a excessiva retração dos gastos decorrente da sobreposição da nova fase da crise internacional com as medidas restritivas adotadas internamente.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Nova queda da produção industrial no 1º trimestre



Ricardo Lacerda

A economia mundial experimenta tempos extraordinários, enfrentando desde meados de 2011 uma recidiva da crise iniciada ainda em 2007. A resposta brasileira à forte deterioração do cenário internacional no final de 2008, com o estímulo ao poder de compra interno, propiciou que a nossa economia recuperasse rapidamente a trajetória de crescimento e venha mantendo taxas elevadas de geração de emprego.

Acompanhando atenta a Europa se desmanchar nessa nova etapa da crise, a gestão da política econômica tornou-se mais complexa no seu intento manter a sustentabilidade do crescimento econômico, mesmo a taxas mais modestas. Como é recorrente nesses momentos, alguns especialistas reagem negativamente às medidas menos ortodoxas adotadas e clamam por mais juros e menos ações de defesa da indústria, paladinos que são da austeridade e do livre comércio. Em um momento em que os reflexos da crise mundial ameaçam não apenas a continuidade do crescimento mas a própria integridade de nossa estrutura industrial, não se sabe se tais posicionamentos são um caso de oportunismo ou de dissociação da realidade.

Produção trimestral

Os números da produção física da indústria brasileira, apresentados pelo IBGE na semana que passou, ilustram o momento difícil do setor. A produção física recuou 2,1% em março de 2012 em relação ao mesmo mês do ano anterior. No trimestre, a retração atingiu 3% e nos últimos doze meses a queda foi de 1,1%. Em relação a fevereiro, na série livre de efeitos sazonais, a produção industrial de março caiu em 18 dos 27 ramos pesquisados. A tabela apresentada resume a extensão e a profundidade da retração:no 1º trimestre a produção física de bens capital caiu 11,4%, a de bens duráveis, 11,6%, de bens intermediários, 1,3%, e apenas os não duráveis e semiduráveis apresentaram modesto crescimento, de 0,9%.

domingo, 6 de maio de 2012

A cultura do milho e a seca

Ricardo Lacerda

A cultura do milho tem grande significado para o semiárido nordestino. Tradicional cultura da região, ao lado da mandioca e do feijão, a produção de milho se expandiu intensamente na última década, mais do que dobrando a quantidade produzida, enquanto as outras duas culturas apresentaram evoluções mais modestas.

Entre as médias de 1998-2000 e 2008-2010, a produção de milho do Nordeste aumentou 126%, frente a 26% de incremento da cultura da mandioca e 6% do feijão. Com a elevação do preço internacional do produto, em grande parte associada à expansão da fabricação de etanol nos Estados Unidos, o cultivo de milho acelerou seu ritmo de crescimento no Brasil. O Departamento de Agricultura americano estima mesmo que a utilização de milho na safra 2011/2012 para a produção de combustível deverá superar o montante consumido na fabricação de rações.

Nordeste

A produção de milho do Nordeste vem crescendo em ritmo mais acelerado do que a média do Brasil, com taxas de expansão somente inferiores às alcançadas pelo Centro-Oeste. A constatação vale tanto para o período mais recente, pós-2008, quanto para a última década como um todo.