Praça São Francisco, São Cristovão- SE

Praça São Francisco, São Cristovão- SE
Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Urbanização e crescimento populacional em Sergipe pós-1970

Ricardo Lacerda



Com todo o impulso que a industrialização trouxe para o crescimento das cidades nos anos cinqüenta, o Censo Populacional de 1960 constatou que a maioria da população brasileira ainda era predominantemente rural. Naquele levantamento censitário registrava-se a predominância das populações urbanas apenas na região Sudeste e nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo, com suas metrópoles pujantes, no antigo território do Amapá e no Distrito Federal. Na média do país, as populações rurais ainda representavam 54,9% do total.

Na década de sessenta, caracterizada pela crise política e pelo baixo crescimento, na primeira metade, e pelo chamado milagre econômico, a partir de 1968, as populações urbanas passaram a representar mais de 50% dos brasileiros. O predomínio das populações urbanas, de acordo com o censo populacional de 1970, já havia se estendido para as regiões Sul e Centro- Oeste, e para o atual estado de Rondônia, Pernambuco, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.

Anos 1970 e 1980

Os anos setenta, que foram marcados pela aceleração da integração do território nacional e pelas intensas taxas de crescimento econômico, mesmo levando em conta a instabilidade provocada pelos dois choques do petróleo, consagraram o predomínio das populações urbanas em todas as regiões brasileiras. Foi o que constatou o Censo Populacional de 1980: em apenas oitos das atuais 27 unidades federadas as maiores parcelas de suas populações residiam no meio rural, inclusive Rondônia que, com a expansão da fronteira agrícola, a população urbana perdeu a predominância. Permaneceram ainda majoritariamente rurais as áreas dos atuais estados do Pará, Acre, Tocantins, Maranhão, Piauí e o vizinho estado da Bahia, com 49,4% da população no meio rural. Nas demais dezenove unidades federadas, inclusive Sergipe, as pessoas residindo em áreas urbanas se constituíram maioria.

Sergipe

Em 1960, Sergipe contava com uma população de 760 mil pessoas das quais 464 mil, ou 61,1%, residiam no meio rural, frente a apenas 296 mil pessoas (38,9%) no meio urbano, entre cidades e vilas. Ao longo dos anos sessenta, a população urbana de Sergipe cresceu 42,4%, contra apenas 5,5% de expansão da população residindo no meio rural. Ainda assim, o Censo Populacional de 1970 registrou o predomínio da população residindo em domicílios rurais, 53,8%, (ver Gráfico 1).


Fonte: IBGE, Censo Demográfico 1960,1970, 1980,1991, 2000 e 2010
Obs: Em 1960, 1970 e 1980, população presente. Em 1991, 2000 e 2010, população residente.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

O crescimento demográfico de Sergipe pós-1970

Ricardo Lacerda

Ao longo do século XX, a população sergipana passou de 356.264 para 1.781.714 habitantes. Somente o censo de 1980 registrou população superior à casa de um milhão de habitantes. Em 2010, o número de residentes atingiu 2.068.017 (ver Gráfico 1).

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 1872, 1890, 1900, 1920,1940, 1950, 1960,1970, 1980,1991, 2000 e 2010.
(1) População presente. (2) População recenseada. (3) População residente.
Obs: Os historiadores costumam lembrar que a população de 1872 está subestimada,
em razão de o levantamento censitário ter deixado alguns municípios de fora.


Um fato significativo na evolução populacional de Sergipe nesse período foi a mudança de sua dinâmica na década de 1970, quando a maior parcela da população se tornou urbana. Há um fenômeno particularmente curioso na trajetória populacional de Sergipe, vis a vis a média do Brasil e dos estados nordestinos: Sergipe que desde a década de 1920 vinha registrando crescimento populacional inferior ao do Nordeste e do Brasil, nos anos setenta passou a crescer acima da região e a uma taxa próxima da média brasileira e, nas décadas seguintes, ultrapassou o ritmo de crescimento dos dois agregados em todos os períodos intercensitários (ver Gráfico 2).


segunda-feira, 10 de outubro de 2011

As exportações de suco concentrado de laranja - Parte 2



Ricardo Lacerda

Quem acompanha os comunicados das associações brasileiras de citricultores pode inferir o grau de insatisfação dos produtores com a situação do mercado da laranja, especialmente no que diz respeito às difíceis relações com as indústrias de suco. A queixa freqüente é a de que a estrutura concentrada permite à indústria impor preços muito desfavoráveis aos produtores de laranja, mesmo quando o mercado internacional inicia uma recuperação.

Em uma perspectiva de médio prazo, a cotação do suco de laranja concentrado (FCOJ) no mercado americano obteve importante aumento na safra de 2005/2006 e, especialmente, na safra de 2006/2007, o que ajudou a expansão das exportações brasileiras do produto. Com a crise financeira internacional, o preço recuou nas safras de 2008/2009 e 2009/2010, com graves conseqüências para a produção citrícola.

O preço do suco concentrado no mercado internacional vinha se recuperando desde meados de 2010, com alguns soluços, o que poderia estimular a retomada das exportações nos próximos anos, mas a recidiva na crise financeira, em que a situação da Grécia é o quadro mais emblemático, fez reverter a recuperação das cotações desde o início de agosto de 2011.

Exportações

No Gráfico 1, a seguir, são apresentados o valor e o volume das exportações brasileiras acumuladas em doze meses, entre outubro de um ano e setembro do ano seguinte. Ainda que esses doze meses não se relacionem com as safras, esse período foi escolhido para abranger os dados mais recentes, referentes a setembro de 2011.

Depois de alcançar US$ 874 milhões nos doze meses encerrados em setembro de 2006, o valor das exportações brasileiras do suco concentrado alcançou US$ 1,5 bilhão no período completado em setembro de 2007, o melhor resultado para essa série em todo o século XXI (ver as colunas no Gráfico 1). Em setembro de 2008, já refletindo a mudança no cenário externo, o valor acumulado das exportações em doze meses, apesar de ainda elevado, caiu para US$ 1,28 bilhão.

É curioso constatar que, apesar do patamar elevado do preço médio nesses dois períodos, o volume do produto comercializado no exterior, representado pela linha no Gráfico 1, ou pouco se elevou ou caiu, indicando problemas pelo lado da oferta brasileira.

Nos três períodos seguintes, nos doze meses acumulados em setembro de 2009, 2010 e 2011, o volume e o valor das exportações despencaram. Ou seja, quando os preços internacionais subiram, o volume exportado se manteve relativamente constante, quando os preços internacionais caíram, o volume exportado despencou.

Os especialistas têm atribuído esse comportamento recente, principalmente, à elevação do custo de produção interno da laranja, que, ao lado da valorização do real retiraria competitividade do produto brasileiro. Mas, honestamente, a explicação nos parece incompleta e insatisfatória.


 
Fonte: MDIC-SECEX. Banco de dados Alice.


Sergipe

A citricultura sergipana se ressentiu, também, das oscilações no preço internacional do suco concentrado de laranja, principal produto exportado pelo segmento. Quando os preços internacionais se tornaram muito atrativos, o valor das exportações de suco concentrado em Sergipe apresentou um grande salto, passando de US$ 28,5 milhões nos doze meses completados em setembro de 2006 para US$ 69,5 milhões, nos doze meses completados em setembro de 2007, e US$ 53,4 milhões em setembro de 2008 (ver Gráfico 2). Com a eclosão da crise financeira internacional, no final de 2008, o valor das exportações de suco concentrado também despencou, voltando nos doze meses completados em setembro de 2009 para o patamar anterior à expansão.

As exportações sergipanas de suco concentrado vêm respondendo mais positivamente à elevação do preço internacional do que a média brasileira. Se nos doze meses completados em setembro de 2010, o volume exportado ainda não havia iniciado sua recuperação, pelos menos interrompeu a queda, diferentemente do volume exportado pelo conjunto do país. No acumulado de doze meses de setembro de 2011, o volume exportado aumentou 29% e o valor das exportações, 89%, em relação ao período anterior.



Fonte: MDIC-SECEX. Banco de dados Alice.


As trajetórias do volume e do valor das exportações sergipanas de suco concentrado (FCOJ) parecem indicar que o setor estava iniciando uma importante recuperação. O novo período de instabilidade na economia mundial, que já vem afetando a cotação do produto, todavia, pode abortar essa retomada.


Publicado no Jornal da Cidade em 09/10/2011





Para baixar o arquivo em PDF clique aqui.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

As exportações de suco concentrado de laranja (1)



Ricardo Lacerda

Quem observa o preço médio do suco de laranja concentrado (FCOJ) que foi exportado pelo Brasil nos últimos meses se inclina a inferir que estamos diante de um novo período de prosperidade da citricultura. Depois do fundo do poço, em 2009, quando atingiu US$ 1.092 por tonelada exportada, o valor médio do suco concentrado exportado alcançou US$ 2.021, em agosto de 2011, em grande parte por conta de problemas na safra da Florida (ver Gráfico 1).

Fonte: MDIC-SECEX. Banco de dados Alice.

Mesmo com a forte melhoria das cotações, a quantidade exportada de suco concentrado ainda não reagiu. O volume exportado pelo Brasil nos doze meses encerrados em agosto de 2011 se limitou a 423 mil toneladas, frente às 523 mil toneladas comercializadas nos doze meses encerrados em agosto de 2010, uma retração de 19%.

Os especialistas não estão otimistas em relação às perspectivas do suco de laranja no mercado internacional. O entendimento é de que a alta do preço tem caráter temporário, decorrente de problemas climáticos que atingiram a produção americana. O diagnóstico predominante é o de que o mercado de consumo de suco de laranja se encontra estagnado, senão em declínio.

Saturamento

Estimativa da Markestrat, a partir de dados do Euromonitor e da Tetra Pak, é de que o consumo de suco de laranja concentrado nos vinte principais mercados caiu 6,9% entre 2003 e 2010. A retração do mercado no período não teria apenas caráter conjuntural, decorrente da crise financeira internacional, mas indicaria uma mudança de hábito no mercado mundial, em que outras bebidas vêm ocupando espaço na preferência dos consumidores. O Gráfico 2, a seguir, mostra que o mercado sofreu, de fato, com a crise financeira eclodida em 2008, mas a tendência de declínio é anterior e de caráter mais estrutural.



Fonte: Markestrat a partir de Euromonitor e Tetra Pak.
OBS: Inclui suco de laranja utilizado em mix de frutas e vendido congelado no varejo. Extraído de CitrusBR. Consumo Mundial de Suco de Laranja. Brasília, 6 de setembro de 2011. (http://www.agricultura.gov.br/arq_editor/file/camaras_setoriais/Citricultura/28RO/App_Consumo_de_Suco.pdf).

Mercados

Entre 2003 e 2010, as retrações mais acentuadas no consumo de suco de laranja industrializado se verificaram em três das quatro maiores economias do mundo, Estados Unidos, Japão e Alemanha, com taxas de retração próximas a 20% (ver Tabela). O forte aumento do consumo em mercados emergentes, como os da China e da Rússia, não tem sido suficiente para se contrapor a tendência de declínio verificado nos principais mercados.

Fonte: Markestrat a partir de Euromonitor e Tetra Pak. Ver observação do Gráfico 2.

Sergipe
O valor das exportações de suco de laranja da economia sergipana reagiu positivamente à melhoria na cotação do produto no mercado mundial. A exemplo do que vem ocorrendo com a citricultura brasileira, como um todo, a melhoria de preços ainda não se refletiu de forma mais intensa no volume exportado por Sergipe. Esse será o ponto a ser tratado no artigo da próxima semana.



Publicado no Jornal da Cidade em 02/10/2011



Para baixar o arquivo em PDF clique aqui.